Os vinhos da Armênia têm uma longa história e tradição, com técnicas de produção que são passadas de geração em geração.
A Armênia é considerada uma das primeiras regiões do mundo a produzir vinho, com evidências de produção datando de mais de seis mil anos.
A Armênia está localizada entre a Turquia, Geórgia, Azerbaijão e Irã, não possui acesso ao mar, mas fica na área entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, situada na região Transcaucásia e possui um relevo bastante montanhoso. Considerada uma pátria transcontinental para as Nações Unidas a Armênia faz parte da Ásia Ocidental.
Apesar das tormentas políticas, culturais e religiosas por gerações por conta da sua vizinhança, os armênios se mostraram resilientes, com uma intensa dedicação para proteger sua cultura única e herança vinícola.
Há inclusive a lenda de que a casta Areni Noir, proveniente do solo rochoso e rico vulcânico da região de Vayots Dzor, crescendo a 1250m de altitude, teria as vinhas plantadas por Noé, depois de ter desembarcado a sua Arca no Monte Ararat.
Um dos principais símbolos da Armênia, o Monte Ararat, se impõe, quase que onipresente, com seus 5.137m de altura. Nesta montanha, segundo o Livro do Gênesis, a arca construída por Noé, a pedido de Deus, ficou encalhada após navegar à deriva por meses, lembrando que no livro há o relato de que Noé após sair da arca com sua família e animais, ele plantou a Vitis e fez das suas uvas o vinho.
Hoje, o Monte Ararat parece tão perto e tão distante do povo armênio: há 100 anos, passou a integrar o território da Turquia, depois do genocídio perpetrado pelo Império Otomano entre 1915 e 1921 — uma ferida aberta no seio de uma nação que anseia viver em paz e que ainda sofre agressões de vizinhos.
A população de armênios é substancialmente maior fora do país com 8 milhões de pessoas espalhadas por todo o mundo, sendo que 3 milhões de pessoas vivem dentro da Armênia. Com as inúmeras comunidades armênias vivendo fora do país é natural a crescente demanda por produtos armênios nesses locais, dentre eles o vinho, que é um alimento que se destaca e tem crescido a procura. Desde a década de 90 as exportações têm sido alavancadas para a Rússia e já na atualidade para países como a China, Estados Unidos e França.
QUANDO O PASSADO É O PRESENTE - A Armênia é uma terra de superlativos: foi a primeira nação cristã do mundo em 301 d.C. (a Geórgia seguiu por volta de 326 d.C.), mantém uma das línguas mais antigas com uma tradição escrita contínua e reivindica a vinícola mais antiga descoberta até agora – com 6.100 anos de idade. A produção de vinho na Armênia é anterior à Rota da Seda.
Achados arqueológicos corroboram a afirmação do povo armênio sobre a sua história, de serem os primeiros povos na produção de vinhos. Em 2011 foi publicado um achado surpreendente no sítio arqueológico de Areni-1-Cave, localizado na cidade de Areni na província de Vayots Dzor na Armênia, uma verdadeira indústria de produção vínica datando cerca de 6000 mil anos.
Nestas escavações foram encontradas diversas peças de valor extraordinário, como um grande tanque, prensa rudimentar, adega, karas (chamados de qvevri na Geórgia), além de sementes de uva, galhos de vinhas e restos de uvas pisadas. Tais evidencias comprovam cientificamente que neste local se produziam vinhos em quantidades mais significativas utilizado para rituais sagrados e provavelmente como troca com outras mercadorias. O local é a comprovação mais antiga do lugar que se produzia vinho até aqui encontrado pela ciência.
Embora a Geórgia possa ter reivindicações legítimas ao slogan de ser o "berço do vinho", ambos os países compartilham semelhanças não apenas em seu legado vínico, mas em sua estonteante variedade de uvas autóctones e uso de ânforas de argila (chamadas karas na Armênia e qvevri na Geórgia). No entanto, cada um seguiu um caminho diferente, não necessariamente por escolha, para chegar à sua história moderna do vinho, resultando em vinhos e experiências turísticas díspares.
A invasão do Exército Vermelho Soviético em 1920 seria o maior fator definidor da indústria vinícola da Armênia no século XX. O país foi fundido com a Geórgia na República Socialista Federativa Soviética Transcaucasiana em 1922. Em 1936, tornou-se a República Socialista Soviética Armênia ou Armênia Soviética.
Os soviéticos aboliram a iniciativa privada e nacionalizaram as indústrias forçando as repúblicas a assumir papéis econômicos. A Geórgia se especializou na produção de vinho, enquanto as uvas da Armênia foram destinadas à destilação de conhaque. Vinhedos foram plantados em algumas regiões para aumentar o volume de produção de conhaque, enquanto outras vinhas enfrentaram negligência ou simplesmente foram abandonadas.
Desde que conquistou a independência em 1991, a indústria vinícola da Armênia testemunhou um renascimento. Os produtores de vinho movidos pela qualidade catapultaram a Armênia para o cenário global do vinho, dando ao país seu próprio slogan: “a mais jovem e mais antiga indústria vinícola do mundo”.
Nas últimas duas décadas, a Armênia atraiu renomados "flying winemakers" para suas regiões de produção com grande potencial para qualidade. Entre eles, podemos citar Michel Rolland, Paul Hobbs e Alberto Antonini contribuindo cada um deles com sua expertise. Dos vinhedos de Karas em Armavir a Yacoubian e Zorah em Vayots Dzor, essas colaborações significam o reconhecimento da Armênia no mundo do vinho.
Para um país pequeno, a Armênia ostenta topografia e terroir diversos. O país catalogou mais de 400 variedades de uvas autóctones. No entanto, como um país histórico de produção de vinho, ela está tradicionalmente entrelaçada com as ânforas karas. Esses grandes vasos de barro, quase perdidos nos anais do tempo no século XX, voltaram a se apresentar desde meados dos anos 2000.
Tradicionalmente, os produtores de vinho enterram dois terços dessas ânforas no solo, o que fornece um controle natural da temperatura, um método empregado há mais de 3.000 anos na região. Hoje, à medida que mais vinícolas experimentam o método de usar as karas, a Armênia cria um nicho como guardiã de suas tradições, ao mesmo tempo em que expande os limites dos estilos de vinho contemporâneos.
As paisagens da Armênia são repletas de vinhedos exuberantes, onde as uvas são cultivadas para a produção de vinhos de alta qualidade. As condições climáticas favoráveis, com verões quentes e secos e invernos frios, criam o ambiente ideal para o cultivo de uvas. Além disso, a topografia diversificada do país oferece uma variedade de terroirs, resultando em vinhos com sabores e aromas únicos.
CLIMA - A Armênia tem um clima propício para produção de uvas de qualidade, com vários microclimas conforme variam as localizações e altitudes dos vinhedos, classificado no aspecto geral como seco e continental. É quente no verão e apresenta invernos severos. Não chove durante 137 dias por ano e o índice pluviométrico em 2019 foi de 500mm/ano, motivo pelo qual 85% dos vinhedos precisam de irrigação. O país apresenta mais de 300 dias de sol ao ano, e possui uma amplitude térmica importante que pode variar de 15 a 20°C no mesmo dia.
SOLO E RELEVO - Os solos são de origem vulcânica, ricos em basaltos e com presença de parcelas de calcários em alguns locais onde contribuem também para a qualidade das uvas produzidas. O relevo é montanhoso com vinhedos plantados em altitudes que podem variar de 400 a 1800 metros acima do nível do mar.
REGIÕES VINÍCOLAS ARMÊNIAS
A Armênia tem cinco regiões históricas de cultivo de vinho, incluindo: Vayots Dzor, Aragatsotn, Armavir, Ararat e Tavush. Dessas regiões, Vayots Dzor, Aragatsotn e Armavir oferecem as melhores oportunidades para vinhos finos, passeios turísticos e hospitalidade.
O Vale do Ararat tem a maior área de produção, onde cerca de 65% dos vinhedos do país estão plantados, com a maior concentração da vinícolas e onde apresenta mais horas de sol ao ano. A região do Vayots Dzor ao Sul do país possui cerca de 10% da produção e é o lar das castas Areni e Voskehat. Armavir é uma região com predominância do clima continental, com vinhedos plantados à 800 metros acima do nível do mar, com vinhos feitos em Karas “grandes ânforas de barro”, e nesta região estão plantadas a maior variedade de castas tanto as autóctones como as internacionais. Em Aragatsotn estão localizados os vinhedos mais altos do país, a temperatura durante o dia é quente e o clima é seco, sendo que durante a noite ocorre uma refrigeração natural baixando a temperatura devido a altitude, conferindo uma excelente amplitude térmica e favorecendo a vinicultura. A região Tavush é caracterizada pelas áreas elevadas e por produção de uvas para conhaque.
VAYOTS DZOR - localizada ao longo de uma faixa centro-sul de um planalto estreito, a região elevou a reputação internacional da Armênia por vinhos de qualidade. O enólogo Vahe Keushguerian a apelidou de “Mendoza da Armênia”.
As principais uvas cultivadas aqui são Areni para tintos e espumantes e Voskehat para brancos. Muitos comparam Areni a um Pinot Noir mais encorpado ou a uma Grenache mais enxuta por seus aromas de frutas vermelhas, acidez viva e taninos sedosos. A ágil Voskehat, conhecida por notas florais, cítricas e de frutas de pomar, produz estilos limpos e brilhantes e vinhos de textura saborosa, especialmente quando envelhecida em karas.
Muitas vinícolas na Armênia compram uvas de Vayots Dzor porque as uvas prosperam nos solos vulcânicos e no clima mais frio da região. A viticultura na região permaneceu ininterrupta durante a era soviética, pois era considerada muito distante e muito fria para se preocupar em obter uvas para conhaque. Essas mesmas características protegeram as videiras da filoxera. Os vinhedos são plantados em altas elevações, alguns vinhedos se aproximando de 1.800 metros acima do nível do mar.
Visualmente, Vayots Dzor apresenta uma topografia impressionante de montanhas e vales. Os vinhos refletem essa grandeza em qualidade, complexidade e potencial de envelhecimento. Embora apenas algumas vinícolas tenham instalações para receber visitantes, vale a pena fazer uma viagem de um dia ou passar a noite para provar algumas garrafas.
A NOA Wine em Aghavnadzor oferece uma experiência de degustação rústica mais adequada ao campo do que uma vinícola contemporânea. Uma pérgula coberta de videiras sombreia um pátio de pedra com vista para as montanhas emoldurando vinhedos frondosos. A NOA produz vinho de uvas orgânicas 100% cultivadas na propriedade, que os visitantes podem degustar mediante agendamento. A equipe recebe os hóspedes com a hospitalidade característica da Armênia: uma mesa de piquenique coberta de queijos locais picantes, pepinos e tomates frescos do Vale de Ararat, ervas aromáticas como manjericão roxo e lavash, um pão achatado tradicional usado para enrolar "sanduíches".
Perto da NOA ficam duas das principais atrações da região: o complexo de cavernas de vinho Areni-1 e o mosteiro Noravank do século XIII. Considerada a vinícola mais antiga do mundo, a Areni-1 foi escavada depois que arqueólogos descobriram crânios humanos e um sapato de couro da Idade do Cobre. Os visitantes pagam uma pequena taxa pelo passeio, enquanto o mosteiro, dramaticamente situado em um penhasco de tons ocres no fundo de um vale, é gratuito.
De volta a Yerevan, vá aos bares da Saryan Street para degustar vinhos de Vayots Dzor. Procure pelos vinhos espumantes tradicionais de Keush e tintos e brancos secos de Zulal, ambos feitos por Vahe Keushguerian. Keushguerian, um campeão no uso de uvas autóctones, ajudou a revitalizar e modernizar a indústria do vinho, ao mesmo tempo em que serviu como embaixador internacional do país. Outras marcas de vinícolas boutiques premium a serem procuradas incluem Yacoubian-Hobbs e Zorah.
ARAGATSOTN - Localizada no canto noroeste do país, Aragatsotn (que significa "pé de Aragats") recebeu investimentos significativos nos últimos anos, tanto na expansão de vinhedos quanto na construção de vinícolas modernas. Juntamente com sua proximidade com Yerevan, Aragatsotn apresenta uma opção atraente de viagem de um dia. Comparado a Vayots Dzor, os vinhedos ficam em elevações significativamente mais baixas, variando de 1.100 a 1.400 metros acima do nível do mar. A maior parte do solo é vulcânica, resultado de antigos fluxos de lava do Monte Aragats. As principais uvas cultivadas em Aragatsotn incluem Areni, Voskehat mais Rkatsiteli, e as mais obscuras Kangun, Haghtanak e Karmrahyut. Duas experiências de vinho e hospitalidade se destacam em Aragatsotn: as vinícolas Van Ardi e Voskevaz Winery.
Fundada em 2008, a Van Ardi desfruta de vistas do Monte Aragats à distância. Os hóspedes podem sentar-se no pátio com um almoço de truta do lago ou cordeiro harmonizado com Syrah (cultivado a partir de mudas vindas da Califórnia), Areni, Voskehat e Kangun - uma uva branca local com aromas florais e tropicais.
A família por trás da Voskevaz reformou a vinícola mais antiga em funcionamento na Armênia, datada de 1932, em uma vila medieval. Visite as antigas salas de tanques, agora um museu, repletas de relíquias e antiguidades da era soviética. A Voskevaz produz vinhos excelentes, especializando-se em Voskehat e Areni, de vinhas velhas envelhecidas em karas.
ARMAVIR - Na fértil planície de Ararat, a oeste de Yerevan, fica Armavir. A 900-1.100 metros, a paisagem avermelhada e semidesértica fala sobre o clima: ensolarado e seco. No pico do verão, as temperaturas podem chegar a 48 °C. Enquanto isso, a queda brusca da temperatura no inverno força as vinícolas a cobrir parte dos caules das videiras com terra para que as raízes e o enxerto não congelem. É uma paisagem hostil para vinhos finos, e grande parte da safra de uvas vai para a indústria de conhaque.
Erguendo-se do solo vulcânico perto da fronteira turca, fica a moderna fachada de vidro e aço da Karas Wines. Fundada em 2000, os proprietários argentinos-armênios, também produtores de vinho na Patagônia, convidaram Michel Rolland para ajudar a estabelecer a marca. Desde então, a Karas se tornou uma empresa internacional.
Então, gostou de conhecer a história do vinho na Armênia? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
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