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“SINAIS DE ABUNDÂNCIA NA BORGONHA”

  • Foto do escritor: Marcio Oliveira - Vinoticias
    Marcio Oliveira - Vinoticias
  • 14 de abr.
  • 4 min de leitura

Após vários anos de pequenas colheitas na Côte-d’Or, a safra de 2023 revelou-se muita generosa, mas também heterogênea.


Safras afetadas por temperaturas acima das médias históricas, bem como a incidência de intempéries tendem a ser o “novo normal” daqui para frente em várias regiões produtoras de vinho. Nesse contexto, 2023 na Borgonha sinaliza o que pode ser uma safra de boa para ótima no novo cenário.


Produzir vinhos na Borgonha não tem sido fácil. A região tem visto anos seguidos de pequenas colheitas resultado direto da influência das modificações climáticas pelo mundo. Entretanto, a safra de 2023 traz um alento para os fãs da uva Pinot Noir, com tintos que podem ser apreciados jovens e com prazer imediato. A safra de 2023, que será lançada no mercado em 2025, oferece uma rara combinação de qualidade e quantidade, com vinhos deliciosos, bebíveis e charmosos.


Pela primeira vez em anos, a Borgonha experimentou uma estação de cultivo direta, produzindo uma colheita abundante de frutas maduras. Tanto no tinto quanto no branco, 2023 é uma safra de puro prazer. Estes são vinhos onde nenhum elemento único domina. Cada componente — álcool, acidez, tanino, fruta - está em harmonia. E eles carregam uma marca de sua estação de cultivo: a onda de calor da colheita se revela na fruta perfeitamente madura no paladar; enquanto o verão relativamente frio e úmido proporcionou um frescor satisfatório e revigorante.


A safra 2023 nasceu depois de um inverno ameno e uma primavera bastante tardia que permitiu uma brotação tardia sem sofrimento de geadas. Temperaturas elevadas em maio e junho ajudaram a floração abundante nas videiras. Uma generosa formação das uvas, seguida de uma alternância de tempestades e altas temperaturas durante o verão, exigiram uma vigilância constante em relação as doenças nos vinhedos.


Com esta formação de cachos generosa, controlar a carga de uvas por videira era essencial. Muitos produtores de vinho tentaram evitar colheita verde, com poda severa e desbrota, e foram forçados a podar cachos em julho e agosto.


Depois de vários anos de pequenas colheitas, grandes foram as tentações de encher as caves excedendo os limites de rendimento autorizados. Nestas condições, a videira não poderia fisiologicamente amadurecer todas as uvas, com cachos muitas vezes enormes. O risco de diluição era, portanto, muito grande em 2023, especialmente nas denominações regionais e comunais.


Era preciso colher rápido e na Côte de Nuits, a colheita foi realizada entre 4 e 19 de setembro, frequentemente pela manhã e usando contêineres refrigerados. Diversos produtores acidificaram algumas safras, prática recomendada por muitos enólogos, tanto para corrigir os equilíbrios porque o pH era mais alto do que para evitar os riscos dos fenóis e leveduras indesejadas (como as brettanomyces).


Alguns produtores das áreas mais importantes e famosas da Côte de Nuits, não hesitaram em praticar a sangria em algumas cubas, prática pouco comum na região. A generosidade da colheita, aliada à maturidade às vezes heterogênea, explica uma proporção ligeiramente maior da colheita total deste ano. Alguns produtores chegaram a ficar sem espaço para armazenar os cachos, uma vez que quando inteiros, eles podem ocupar um terço a mais de volume nos tanques.


Outros ainda tinham medo de baixar muito os níveis de acidez já modesta, pelo volume da colheita. Em resumo, a safra de 2023 oferece muita precisão na expressão dos terroirs. Particularmente aromáticos e perfumados, os tintos devem poder serem bebidos na juventude com prazer imediato. Vinhos dos melhores terroirs certamente envelhecerão bem, mas a evolução do paladar pede um consumo bastante precoce.


Depois de anos de safras pequenas e vários anos de aumento de preços que não escaldaram amantes de vinhos da região e de profissionais, a Borgonha entra num período de incerteza quanto à demanda por seus vinhos para exportação, ainda mais com a recente questão do “tarifaço norte-americano” em relação ao vinho francês.


UMA VISÃO POR REGIÃO NA BORGONHA:


Côte de Nuits: Há um grande potencial para tintos de alta qualidade, com um aumento no volume dos segmentos 1er Cru e Village em 37,3% e nos Grands Crus em 33,1%, segundo o BIVB (órgão oficial da região). Contudo, vinhos de Pinot Noir feitos sem respeitar baixos rendimentos tendem a sofrer em qualidade.


Côte de Beaune: Apesar de condições climáticas similares às da Côte de Nuits, as chuvas foram menos intensas. No caso dos brancos, a Chardonnay, menos suscetível a doenças fúngicas que a Pinot Noir, sustenta a qualidade mesmo em rendimentos mais altos, desde que a colheita ocorra no momento adequado.


Côte Chalonnaise: Tradicionalmente mais seca, essa sub-região enfrentou grandes tempestades em julho de 2023, resultando em perdas na produção e alta incidência de doenças fúngicas, especialmente no sul. Por isso, a qualidade geral ficou abaixo da média.


Mâconnais: Condições semelhantes às da Côte Chalonnaise foram observadas, incluindo temperaturas extremas acima de 40°C, que comprometeram a acidez dos vinhos. Apesar disso, o volume produzido foi 18% superior à média dos últimos cinco anos, e a habilidade dos produtores de se adaptarem às adversidades será determinante na escolha dos vinhos.

Especificamente para essa safra o recado é claro: fugir da Côte Chalonnaise e Mâconnais e explorar a Côte d’Or, especificamente os tintos da Côte-de-Nuits e os brancos da Côte de Beaune. Ou seja, não será fácil encontrar boas opções a preços interessantes.


Vale a pena notar que a safra de 2024, que será lançada no início de 2026, é uma safra significativamente menor para tintos e brancos e particularmente para os tintos. Os volumes de alguns vinhos tintos, particularmente na Côte de Nuits, foram descritos como "catastróficos"; alguns produtores produziram menos de 15hl/ha. Muitos dos vinhos da safra 2024 mais procurados estarão em estoque extremamente pequeno e, como resultado, alocados de forma muito restrita. Tenha isso em mente ao explorar a próxima safra.


Em todo caso, a Borgonha continuará a ser cara, mas espera-se alguma generosidade para a produção relativa a 2023 poder ser escoada.


Então, que tal aproveitar e provar um belo Pinot Noir matando as saudades da Borgonha? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).

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O VINOTÍCIAS foi criado por Márcio Oliveira, com o intuito de disponibilizar em um único espaço dicas de vinho, enogastronomia, eventos, roteiros de viagens e promoções. Inicialmente era disponibilizado na forma de uma newsletter para alunos, ex-alunos e amantes do vinho, com o crescimento do mercado e o amadurecimento do projeto a necessidade de um espaço maior para tantas informações se fez necessário e assim surgiu o blog e o site.

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