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  • Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

Vinhos de Autor


O leitor André Farage essa semana enviou o seguinte comentário: “Parabéns, Márcio. Depois de beber vinho por 30 anos, tendo iniciado com aquelas belezas que vinham da Alemanha (Liebfraumilch), agora tenho a chance de aprender um pouco com seu site (blog, etc.). Sua forma sintética, direta e simples com todo requinte realmente me fará entender um pouquinho desse imenso mundovino. Sou também mineiro, campo das vertentes, terra de bons queijos, São Vicente, e dica do seu site me foi passada por outra mineira, também sua fã, Neide Pimenta, que como eu, reside em Brasília. Acompanharei seu blog e cursos - numa oportunidade, farei... Pode, por gentileza, me passar dicas de vinho autor da região de Mendoza e Salta. Quero saber sua opinião sobre esses vinhos de Salta, que estão na moda, mas alguns receiam sobre qualidade. Obrigado, André.”

Como nas últimas semanas temos divulgado artigos ligados a terminologias do mundo do vinho e a questão levantada pelo André está dentro deste contesto, nosso editor Márcio Oliveira escreveu um texto falando um pouco sobre vinhos de autor, em especial sobre Salta e Cafayate e depois sobre Mendoza.

A ideia do Vinoticias é esta mesmo: trabalhar em prol da divulgação da arte e cultura do vinho numa forma que seja fácil para todos amantes da bebida de Baco.

Vinhos de Salta e Cafayate

As videiras estão plantadas entre 1.500 e 3.000 metros sobre o nível do mar (é uma das regiões vitivinícolas mais altas do mundo). A chuva é rara (200 milímetros por ano) uma vez que é uma região muito seca, na influência do deserto de Atacama. A colheita na região é realizada uma semana antes do que em Mendoza. Os vinhos têm uma ótima acidez e são agradáveis de forma geral.

A uva branca torrontés produz vinhos com notas florais (eu particularmente penso que alguns são enjoativos de tanta flor!), mais há alguns rótulos mais sutis. Os vinhos tintos são intensos, porque os vinhedos pela altitude recebem maior insolação, fazendo com que as frutas engrossem as cascas para proteger as sementes e como se sabe é nas cascas que se concentram aromas, cor e outros elementos dos vinhos.

Além do malbec, vale conhecer os cabernet sauvignon e cabernet franc da região.

Vinhos de Mendoza.

Aqui é o paraíso na Argentina, pois a área produz cerca de 80 a 85% de tudo que é feito no país. E havendo tanta quantidade e diversidade, há vinhos excepcionais e vinhos medíocres para todo gosto e bolso.

Há bastante material a disposição na internet, inclusive no Vinotícias, uma vez que faço consultoria para Bodegas em Mendoza. Depois te dou mais noticias sobre vinhos de autor na região.

Vinhos de Autor

Quanto a questão de vinhos de autor, os trabalhos de Mariano Quiroga e Paul Hobbs na região de Salta e Cafayate, merecem boas provas de seus vinhos. A definição que ouvi deles é que no vinho de autor, a cada ano a composição muda, com a decisão dos enólogos de usar as melhores uvas das melhores parcelas no corte do vinho. Na região de Salta, Mariano Quiroga, por exemplo, combinou o floral do malbec com a potência e o final de boca da cabernet franc e o resultado criou um vinho espetacular.

No entanto, esta é busca que qualquer enólogo faz quando realiza o corte de vinhos. Por exemplo uma fusão da Malbec (emblema argentino) com a casta indicada pelos especialistas como a grande vedete para os próximos anos - a cabernet franc, como no exemplo de Salta, é repetida várias vezes em Mendoza. E muitas vezes não fica só nisto, há excelentes Cabernet Sauvignon cortados com Malbec e Syrah.

No Brasil, a definição sobre vinhos de autor não é clara, uma vez que os vinhos de garagem, ou de butique, ou de autor, têm em comum apenas a característica de serem produzidos em pequena escala, raramente atingindo grandes mercados, mesmo quando a vinícola ganha espaço na mídia e na taça do apreciador.

Aqui, o movimento daqueles que produzem vinhos diferentes é mais sazonal do que retilíneo e, de tempos em tempos, parece correr o mesmo risco de extermínio nos negócios das empresas nos seus primeiros anos de atividade. No Brasil, a tendência é seguir a melhor e mais rápida maneira de ganhar dinheiro e fama... No Velho Mundo, a atividade vitivinícola é algo que passa de avô para filho e neto. Por isso, são poucos os vinhateiros que começam como "autores" e assim permanecem no Brasil. A tentação de crescer é imensa, mesmo que ela resulte no fato de ser "butique" apenas no nome.

Outro problema, é que sendo resultado de pequenas produções, os preços acabam sendo altos para compensar as despesas de manutenção do negócio. Daí muita gente pagar caro por estes vinhos e criar grandes expectativas, nem sempre concretizadas durante a degustação do produto.

No entanto, o que os enófilos esperam de um vinho de garagem, de autor ou de butique, é que ele seja único, de personalidade marcante, e que não tenha grandes amarras comerciais. Por isso, a impossibilidade de fazer esse vinho dentro de uma grande empresa e, por isso, também, sua raridade, uma vez que no Brasil as leis e a carga fiscal limitam esses processos em muitos casos. Alguns poucos, felizmente, conseguem escapar desse processo de pasteurização ou globalização, em que quase todos os vinhos vão ficando iguais.

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