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  • Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“OS VINHOS DO PERU – PARTE 1”

O Peru abriga os vinhedos mais antigos da América do Sul, e alguns produzem até duas safras por ano. Os passeios por vinícolas de tradição ou tours no meio do deserto têm um toque em comum: o pisco, a bebida nacional.

Conhecido por sua cena culinária ricamente variada, o Peru agora está procurando um lugar ao sol no mundo dos vinhos. Na realidade, ele é o país mais antigo produtor de vinho da América do Sul.


Após a conquista do Império Inca nos anos 1531 até 1535, sob o comando de Francisco Pizarro (1478-1541), a coroa espanhola instituiu os dois grandes Vice-Reinados do Novo Mundo: o do México com a capital na Cidade de México, e o do Peru, cuja capital foi Lima abarcando toda a América do Sul.


A área ao redor de Lima, capital do Peru, foi onde os conquistadores espanhóis plantaram inicialmente as videiras. Usando variedades de uvas trazidas das Ilhas Canárias, eles fizeram vinho no século XVI. O historiador Carlos Buller escreve em seu livro “Viticultura no Peru Colonial: “É provável que o plantio de videiras tenha sido uma das primeiras coisas que os espanhóis fizeram em sua chegada, em algum momento da década de 1530, em diferentes locais do território".


Entre 1532 e 1580, mais de 700 centros populacionais foram fundados no Peru, incluindo cidades, vilas e aldeias. Cada morador destes centros populacionais recebeu um terreno para construir sua casa e para cultivo de plantas e criação de gado. As frutas típicas da região da Castela, na Espanha, foram imediatamente cultivadas, incluindo a vinha. Os primeiros vinhedos de maior dimensão foram plantados pelo espanhol, Francesco de Carabantes e Bartolomé de Terrazas, após a conquista do Império Inca pelos espanhóis, em meados de 1547.


O Marquês Francesco de Carabantes foi responsável pela importação das primeiras videiras. Os registros históricos observam que a primeira vinificação na América do Sul ocorreu na fazenda Marcahuasi do Cuzco, do império Inca mais conhecido por Machu Picchu, onde foram plantadas as videiras na década de 1540. Porém pela localização geográfica e o fato de as colinas serem de alta altitude, logo se tornaram um local de difícil acesso para o cultivo pelos espanhóis, um povo acostumado a habitarem perto do mar.


As vinhas foram movidas para baixo em direção à costa na região do Ica, que atualmente é a capital de vinho do país. Porém as maiores vinhas foram mesmo plantadas nos séculos XVI e XVII no Vale Ica do centro-sul do Peru.


Em 1550 uma crônica registra o cultivo da vinha em diversas regiões do Peru, especialmente no litoral. Em 1560 já eram comercializados “vinhos locais” considerados bons e muito bons e havia 40 mil hectares destinados à atividade. No final do século em questão, já se produzia e exportava aguardente de uva através do porto de Pisco (e daí o nome da bebida nacional). No século XVII ambos os produtos – vinho e Pisco, alcançaram grande distinção.


As vinhas se expandiram para o sul, principalmente para a região de Ica, Arequipa, Moquegua e Tacna. Isso levou a uma era de ouro da produção de vinho para o Peru, quando o vinho local foi vendido para toda América do Sul espanhola nos séculos XVII e XVIII.

Um fator marcante foi a onda de ciúmes da coroa espanhola, que proibiu produção de vinho peruano em favor da importação de seu próprio vinho da Espanha, e para burlar esta crise muitos produtores locais negociaram um acordo com a coroa utilizando sua plantação das videiras para criar uma aguardente local. Assim nasce o destilado nacional - Pisco um produto feito de uvas que passou a representar 90% das bebidas de uva preparadas no Peru em 1764.


No século XIX, a viticultura havia sido relegada à margem. Isso ocorreu devido a desastres naturais: terremotos, erupções vulcânicas e até filoxera. Também houve dificuldades econômicas na forma de restrições comerciais impostas pela coroa espanhola e pela necessidade de plantar outras culturas ligadas a alimentação básica. As vinhas sobreviventes estavam focadas na produção de Pisco, o espírito tradicional da uva do Peru, bem como o popular Borgoña - um vinho doce feito da híbrida de Isabella.


Razões sociais e naturais contribuíram para o declínio de ambas as bebidas, mas em meados do século XX ocorreu a revitalização. Os viticultores procuraram primeiro melhorar a qualidade e depois expandir a fronteira do vinho. Atualmente, tanto o vinho peruano como o pisco recuperaram o antigo prestígio e ganham prêmios nacionais e internacionais e seu devido reconhecimento.


A partir da metade final do século passado, algumas tradicionais bodegas de pisco investiram também em plantios de uvas Vitis vinifera, principalmente de variedades francesas, para produção de vinhos finos, gerando a vitivinicultura que existe atualmente no Peru. As castas que se encontram no Peru são: Albillo, Alicante Bouschet, Barbera, Cabernet Sauvignon, Grenache, Malbec, Moscatel, Sauvignon Blanc e Torrontés.


À medida que o Peru começa a desfrutar de um aumento na produção e qualidade de seus vinhos, o país também cresce no cenário mundial. Pela primeira vez, Guia Descorchados incluiu recentemente um capítulo sobre os vinhos peruanos.


Com a chegada dos anos 1980, a produção passou a ser influenciada pela modernidade. Os produtores começaram a adquirir equipamentos de aço inox e contrataram consultorias de enólogos europeus. O famoso enólogo francês, Émile Peynaud (considerado por muitos, o pai da enologia francesa), ajudou a modernizar a mais antiga vinícola do Peru, a Viña Tacama (fundada em 1540), localizada no Vale de Ica, principal região produtora do país. O lugar exibe paisagens intrigantes, com vinhedos plantados literalmente no meio do deserto.

Hoje, depois de modernizar suas vinícolas e reorganizar suas vinhas com a ajuda de consultores internacionais, os produtores peruanos de vinho estão determinados a surpreender o mundo com seus bons produtos. O vinho peruano é de fato uma indústria em crescimento, cerca de cinco a dez por cento ao ano. Muito desta recuperação deve-se ao fato de um grande investimento do governo na indústria do Pisco, com esta iniciativa em colocar o Pisco, como representante do espírito nacional em todo mundo, deu aos seus produtores um bom fôlego para que o lucro obtido retornasse aos seus investimentos na produção de vinho.


Atualmente, os enólogos e produtores peruanos estão divididos entre dois caminhos diferentes, que oferecem muito potencial. Um caminho é escolher variedades europeias para criar seus rótulos, principalmente Malbec, Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Tannat, Sauvignon Blanc e Chardonnay.


O outro é optar por "uvas patrimoniales" ou uvas patrimoniais que foram historicamente usadas para produzir o Pisco. Estas incluem Quebranta, Mollar, Negra Criolla (conhecida como País no Chile), Torontol, Moscatel Negro del Peru, Albilla (Palomino Fino) e Italia (Muscat de Alexandria no Peru). Algumas destas castas existem desde o início da viticultura na América do Sul, enquanto outras foram criadas no próprio continente.


Para muito enólogos, a produção de vinhos a partir de uvas de Patrimoniales é uma maneira de diferenciar os vinhos do Peru num mercado globalizado. Outros estão convencidos de que as variedades europeias oferecem um futuro mais promissor no Peru. Há também o grupo que acredita que o Peru tem terroirs com muito potencial para produzir expressões únicas usando variedades como Malbec, Syrah, Cabernet e Muscat de Alexandria, não descartando variedades de Patrimoniales, e o principal objetivo seria mostrar que o Peru pode produzir vinhos elegantes com um sabor distinto.


O Peru tem cerca de 15.000 ha de vinhedos destinados à produção de Pisco e vinhos doces. Apenas uma pequena parte dessa área de superfície é usada para produzir uvas de qualidade para vinhos secos. A maior parte das uvas do Peru são destinadas à produção da bebida nacional.


De norte a sul, a região viticultural se estende de Lima, até ICA, Arequipa, Moquegua e Tacna. Todos os terroirs são influenciados pela corrente de Humboldt do Oceano Pacífico. A altitude e a exposição fornecidas pelos Andes em áreas áridas na borda norte do deserto costeiro do Pacífico também são um fator positivo para a produção de vinhos. Na costa norte há vinhedos que estão a 1.500 metros acima do nível do mar.


Com verões quentes e poucas chuvas, o Peru tem vinhedos onde se colhem até duas safras ao ano, graças à combinação entre inverno com temperaturas adequadas para produção de vinho, geralmente sem geadas, e investimentos em irrigação dos vinhedos. Hoje, as plantações ficam na costa central, ao redor da cidade de Pisco, onde a brisa do Pacífico ajuda a reduzir as temperaturas extremas. A região dá nome a uma bebida popular entre peruanos e estrangeiros, por causa do alto teor alcoólico - o pisco, aguardente de uva.


A condição climática é favorável à viticultura: na Costa Seca do Peru, onde se concentram as principais regiões produtoras, há cerca de 12 horas diárias de sol e as temperaturas noturnas são amenas. Combinada à alta tecnicidade dos equipamentos de produção e uso intensivo da irrigação, a safra do Peru tem se iniciado cada vez mais cedo, pressionando a janela das exportações nacionais.


O clima desértico da região de Ica é diferente de qualquer outra região vinícola do mundo: as dunas reinam supremas, o que não é exatamente o que vem à mente quando você pensa em um clima ideal para a produção de vinho. É devido a essas condições únicas que os vinhos peruanos têm um sabor doce distinto. O Peru tem a mesma altitude e influência do oceano que o Chile, praticamente não tem geadas e em muitas partes é desértico e seco tendo grande potencial vinícola.


TEREMOS A CONTINUIDADE NA PRÓXIMA SEMANA - Então, sentiu vontade de provar um vinho PERUANO?


Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação as pesquisas).

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