top of page
  • Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“QUATRO UVAS TINTAS INCOMUNS EM NOSSOS VINHOS”

Na recente viagem que fizemos pela Sicília e Malta (sim Malta tem vinhos e escreveremos em breve sobre eles), tivemos oportunidade de provar algumas uvas incomuns no Mundo do Vinhos.

Para aqueles de nós que estão perpetuamente caçando o incomum, o Mundo do Vinho é uma meca de novas descobertas e prazeres para nossas taças. Existem milhares de variedades de uvas para produção de vinhos, a maioria das quais existe apenas em microclimas ou regiões específicos. Apesar de quão raros esses vinhos varietais são, eles estão ao seu alcance se você buscar por eles.


Curiosamente, há informações que dizem que, se você provasse uma nova variedade de vinhos a cada semana, levaria 40 anos para experimentar todos eles! Dependendo da sua idade, portanto, melhor começar a correr para não perder nenhuma!!


Aqui estão algumas uvas tintas SICILIANAS que você merece conhecer:


♦ FRAPPATO – que no dialeto siciliano significa perfumada, também é chamada com os nomes de Frappato Nero di Vittoria e Frappatu, produz vinhos tintos que em princípio os sicilianos com quem tivemos contato não levavam seus rótulos muito a sério. A uva Frappato está agora presente em toda a Sicília, mas essencialmente na província de Siracusa e de Ragusa.

Com aromas intensos de romã, morango, com notas de especiarias de pimenta branca, algo de tabaco e cravo da índia, seus sabores de frutas com cheiro doce e cor vermelha pálida não são algo para desdenhar. A Frappato, disseram eles, pode realmente estar geneticamente relacionada com a Sangiovese (que produz os melhores vinhos tintos da Toscana!). Mas o melhor, ela está perfeitamente em casa crescendo nas proximidades do vulcão Etna na Sicília. Os primeiros registros dessa variedade datam do século XVII, mas há um argumento sobre se é nativa ou foi introduzido pelos espanhóis. É uma das bases para o Cerasuolo di Vittoria, que é até o momento o único DOCG da Sicília.


O vinho é muito fácil de gostar e beber e harmoniza perfeitamente com peixes como o salmão, e portanto a Frappato por ser um coringa para quem gosta de vinhos tintos para acompanhar crustáceos, peixes, carnes brancas e as vermelhas.


É uma videira robusta, cuja produção é constante, mas modesta. Os cachos são alados, compactos, médios e de forma piramidal. As bagas são azuis, irregulares, esferoidal-elipsoides, com casca espessa e cobertas com bastante pruína. A floração precoce a torna sensível a quaisquer mudanças climáticas, cada vez mais frequentes durante os períodos de primavera. Tem maturação tardia, com a colheita que geralmente ocorre no final de setembro.


Entre os Frappatos que bebemos durante o Roteiro Enogastronômico elaborado pela Zenithe Travelclub de Belo Horizonte (o grupo de viajantes era de 33 participantes) recomendo o Frappato da vinícola Planeta (custa cerca de 20 euros), o Frappato da vinícola COS (custa cerca 35 euros) e o "Il Frappato" da vinícola Occhipinti (orgânico/biodinâmico, e que custa cerca de 46 euros).


A Frappato é vinificado com Nero d'Avola em Cerasuolo di Vittoria ou mesmo pura, com fermentação e envelhecimento em tanques de inox, para destacar os aromas florais e frutados típicos da uva. Vinificado em pureza, a Frappato dá uma cor rubi, aroma brilhante, vinoso e frutado, pois lembra seu nome, mas também com notas florais e frutadas. Na montagem com o Nero d'Avola, é sutil, com notas de grafite ou mineral. No paladar, o vinho é de corpo médio, com taninos macios e sabor fresco e leve. Também pode produzir um vinho espumante de rosé com o método clássico.


Na DOCG Cerasuolo di Vittoria, a encontramos em Alcamo, Eloro, Erice e Vittoria Doc, quase todas nas províncias de Ragusa, Siracusa e Catania, e também são vinificadas como IGT. O Frappato, sendo um vinho geralmente leve, se presta à combinação de queijos e pratos dos menus de segundos cursos como peixes saborosos ou primeiro prato equilibrado.


♦ NERELLO MASCALESE - O Nerello Mascalese é a estrela tinta do momento, juntamente com os outros cultivares autóctones de Etna. A Nerello parece ter feito sua primeira aparição na costa da Calábria e depois foi espalhada para a Sicília, onde também é cultivada na parte ocidental da ilha. Está presente nas encostas de Etna e em torno de Mascali há pelo menos 400 anos. Hoje, sinônimo de território e qualidade, é universalmente apreciado pela elegância que a caracterizou no lado norte do Etna e, é claro, em Castiglione di Sicilia.


Os vinhos elaborados a partir da Nerello Mascalese receberam ampla notoriedade na última década, são exemplares frescos, com aromas frutados e herbáceos, bem como excelente mineralidade e uma nuance terrosa. A Nerello Mascalese revela aromas de frutas vermelhas, como cereja, framboesa e amora, nuances florais e herbáceas, notas de especiarias, além de toques de baunilha, alcaçuz e tabaco. Além disso, os vinhos Nerello Mascalese têm um perfume semelhantes com os vinhos nobres de Borgonha (leia-se Pinot Noir) e Barolo (Nebbiolo).


Em 2013 um estudo científico provou que a Nerello Mascalese é resultado do cruzamento da Sangiovese com a Mantonico di Bianco, que também gerou a Gaglioppo di Ciró e a Mantonicone, ambas autóctones da Calábria. A variedade recebeu esse nome devido a planície de Mascali, entre o Monte Etna e a costa onde acredita-se ser sua terra natal – uma pequena porção de vinhas que restou após o ataque da filoxera na década de 1880. O prefixo Nerello refere-se à coloração escura das uvas, compartilhado também pela casta Nerello Cappuccio, parceiro de mistura mais comum da variedade. Ambas são encontradas nos vinhos produzidos na denominação de origem de Etna, onde a uva Nerello Mascalese representa a maior parte da mistura e é cultivada em maiores quantidades do que a Cappuccio.


Os solos compostos por materiais vulcânicos de Etna combinados com altitudes que chegam a até 1.000 metros – alguns dos vinhedos mais altos da Europa – ajudam a produzir vinhos com caráter e complexidade imensa, sem o peso excessivo característico dos vinhos tintos da Sicília.


As vinhas da Nerello Mascalese é uma variedade de maturação tardia e dominam também a DOC Faro, em torno da cidade de Messina. Situada nas colinas acima da cidade, as videiras cultivadas em Faro alcançam altitudes impressionantes, contribuindo para a elaboração de vinhos com características singulares.


Fora de Etna e de Faro, a uva Nerello Mascalese é utilizada em misturas nos vinhos rotulados como Sicília IGT, ao lado da variedade dominante da ilha, a Nero d’Avola. Estes vinhos são produzidos nas versões tintas, mas exemplares rosés também são encontrados. Na Calábria, as denominações de Lamezia, Savuto e Sant’Anna di Isolia Capo Rizzuto também permitem o uso da Nerello Mascalese para o uso em vinhos de corte.


♦ NERELLO CAPUCCIO - O Nerello Cappuccio raramente vinificado em pureza, é usado principalmente na mistura para suavizar as bordas do Nerello Mascalese. Uma variedade autóctone que dá vida a vinhos, desde suavidade, harmonia e prazer. Também conhecida como "capa", seu nome vem do fato de que a planta forma um capuz pitoresco de folhas para proteger os cachos do sol e dos agentes atmosféricos. A Tenute Mannino que tivemos oportunidade de visitar, cultiva a casta na propriedade de Piedra Marina.


A uva é muito utilizada em cortes com a Nerello Mascalese, a comparação seria como a Cappuccio sendo a Merlot e a Mascalese a uva Cabernet Sauvignon de um corte bordalês.


♦ PERRICONE / PIGNATELLO - é conhecido por esses dois nomes em Palermo e Trapani. É frequentemente misturado com o Nero d'Avola para dar aos vinhos uma estrutura mais interessante. A uva Perricone é originária da região vitivinícola da Sicília, na Itália. Uma variedade muito antiga, já era cultivada desde a época do Império Romano.

Entretanto, a área de cultivo da Perricone diminui muito durante os séculos XIX, em decorrência da praga Filoxera, e XX, após a Segunda Guerra Mundial. Hoje, a uva Perricone ocupa menos de duzentos hectares de vinhedos em toda a ilha da Sicília, onde integra as Denominações de Origem Controlada (D.O.C.) de Eloro, Contea di Sclafani e Monreale.


Os Vinhos Perricone são estruturados e complexos, apresentando grande corpo e um ótimo potencial de envelhecimento. No nariz, revelam um bouquet aromático intenso, onde destacam-se aromas de frutas vermelhas e negras maduras, como cereja, ameixa e amora, notas de especiarias, como pimenta-preta, nuances herbáceas, como alecrim e orégano, além de toques de café e cacau. Os Vinhos Perricone são versáteis, acompanhando bem carnes vermelhas, massas e queijos maduros.


Na próxima semana falaremos de uvas brancas incomuns da Sicília!!! Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).

bottom of page