De forma geral todos os amantes de vinhos querem saber quais serão as tendências no mundo de Baco para o ano que se inicia. Alguns não querem perder a chance de estarem na moda, outros, querem saber como os preços vão estar.
Na verdade, há duas coisas que são importantes de se esclarecer: que as coisas estão mudando muito rápido, e talvez sem alguma reflexão ficaria difícil de prever as tendencias, mas por outro lado, algumas linhas do comportamento do mercado já estão se consolidando e guiando as ações de produtores de vinhos, tais como opção por vinhos mais leves e frescos, cultivo sustentável de uvas e serviço em taça, que estão entre as principais perspectivas para o próximo ano neste nosso universo líquido.
Há evidentemente as tendências que precisam ser entendidas como mundiais, regionais ou nacionais, visto que há uma série de aspectos socioeconômicos, culturais, que se relacionam ao consumo do vinho e mesmo de outras bebidas.
♦ JANEIRO SEM ÁLCOOL - Um detalhe que chamou a atenção desde o ano passado foi o que os franceses chamam de “Janeiro sem Álcool”, ou "Janeiro Seco" que atinge pessoas que dirigem carros, pessoas mais jovens, mulheres grávidas ou simplesmente pessoas dispostas a passarem um mês completo sem beber álcool.
Uma das explicações para passar o mês de janeiro sem consumir álcool vem dos abusos que são praticados durante o mês de dezembro em confraternizações e comemorações do Natal e Ano Novo. A atitude vem crescendo sobretudo entre jovens e há uma tendencia geral de moderação no consumo de bebidas.
Uma tendência geral de declínio no consumo de álcool na França vem sendo observada há algum tempo. Primeiro porque os consumidores regulares de vinho tenderem a desaparecer, sob o efeito da renovação geracional. As gerações mais jovens consomem vinho de forma ocasional com menor frequência. Entre as décadas de 1960 e 2022, o consumo individual médio de vinho entre os franceses caiu mais de 60%!
♦ VINHOS NO-LOW ÁLCOOL - Após os países anglo-saxônicos e escandinavos, a França e agora a Alemanha, por sua vez, multiplicam experiências gastronômicas não alcoólicas. Seja pelo Champagne Rosé Zero Álcool, ou pelos coquetéis "Virgin" feitos para o lançamento de restaurantes e hotéis da moda, a tendência de bebidas livres de álcool ("No") ou com pouco álcool ("Low") está ganhando terreno mesmo em restaurantes estelares identificados por suas estrelas Michelin.
Principalmente, mas não só, para as camadas mais jovens, o vinho e o consumo de álcool mudaram e muita gente agora tem mais cuidado com o que consome e muito cuidado com quanto consome. Em países como Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Japão isto é uma tendência cada vez maior, que se alastra a outros países.
Há uma grande variedade de coquetéis leves criados com especiarias, ervas, raízes e chás sendo servidos em Paris. E o mais interessante é que se no início desta “moda” o consumo era pequeno, com o tempo as pessoas gostaram mais desses coquetéis, os apreciaram e passaram a recomendar aos amigos. Como resultado, o consumo tem sido crescente.
Alguns dos grandes chefs franceses estão adorando criar harmonizações de pratos com vinhos livres de álcool, o que muda completamente o perfil aromático dos pratos e aumenta os meios da refeição se expressar. Na alta gastronomia francesa, uma das cabeças mais estreladas no momento, Anne-Sophie Pic e sua sommelière, Argentina Paz Levinson, são pioneiras no movimento “Sem Álcool”. Ela diz que quando estava grávida, era assustador ir ao restaurante e ficar na água a noite toda. Ela queria criar algo excepcional para que todos os clientes que não bebessem álcool pudessem aproveitar sua vida social. Hoje, dela reconhece que todo mundo está começando a provar e aprovar o movimento.
♦ VINHOS MAIS LEVES E FRESCOS - Vinhos de cor escura, com alto teor alcoólico e carvalho pesado, estão fora de moda, enquanto a acidez, vivacidade e frescor estão na moda, afirma Jancis Robinson. Cada vez mais consumidores procuram vinhos frescos e leves, com cores mais claras e naturais, continuou ela. A demanda por sauvignons blancs vigorosos e outros vinhos brancos refrescantes como chardonnays não barricados, bem como tintos de cores mais claras como pinot noir, juntamente com rosé e espumantes tem aumentado.
Essa tendência também é apoiada por dados recentes de pesquisas de mercado da NielsenIQ, nos EUA, mostrando que o sauvignon blanc foi a única variedade de vinho com maior volume e valor de vendas em 2022 e 2023.
Além disto há que considerar as mudanças climáticas que em 2022 e 2023 trouxeram um calor abrasador, níveis de seca recorde, geadas primaveris, tempestades de granizo e incêndios florestais forçando os viticultores a pensarem fora da caixa em termos de práticas vitivinícolas e a considerar novas castas que possam responder melhor a um clima em mudança. Nada melhor com este calorão cada vez mais frequente a adoção de vinhos mais leves e frescos.
♦ SUSTENTABILIDADE – As gerações mais jovens de consumidores de vinho continuam a procurar um melhor tratamento do ambiente e a apoiar os enólogos empenhados em práticas “verdes”. Estes consumidores querem vinhos que correspondam aos seus valores, centrados num futuro sustentável.
A produção de vinho requer recursos naturais, como água e energia. Ao adotar medidas sustentáveis, as vinícolas podem minimizar o consumo desses recursos e reduzir seu impacto ambiental. Isso inclui a gestão responsável da água, o uso de energias renováveis e a minimização do desperdício. A transparência na gestão destes insumos de produção está cada vez mais presente em toda a cadeia.
Jancis Robinson tem feito uma campanha mundial para reduzir o peso das garrafas de vinho e esta também é uma atitude de sustentabilidade. Com a garrafa de vidro respondendo por 50% a 68% da pegada de carbono do vinho, Robinson previu que mais vinícolas reduzirão o peso de suas garrafas de vinho. A alta pegada de carbono é atribuída à produção e transporte da bebida. Garrafas de vidro pesadas também prejudicam a saúde dos funcionários que trabalham em vinícolas e lojas, ao carregarem caixas pesadas, todos os dias. O objetivo do SAQ (Société des Alcools du Quebec), no Canadá, é reduzir o peso das garrafas de vidro para 420 gramas”, afirmou Robinson. Hoje, muitas vinícolas usam garrafas de vinho que variam de 700 a 900 gramas.
Quando dizemos que algo é sustentável, nos referimos à qualidade de ser capaz de se manter, sem ajuda externa e sem esgotar os recursos disponíveis, em três dimensões fundamentais: a ambiental, a econômica e a social. Aplicado à viticultura, isto se traduz em melhorias na maneira como o vinho é feito através da implementação de práticas ecológicas de produção e de manejo dos vinhedos, economicamente viáveis e comprometidas com a comunidade. Isto vai desde o manejo do vinhedo, até a gestão de resíduos, dos recursos energéticos e do tipo de embalagem. Um conceito importante é deixar a terra em melhores condições do que está hoje para as gerações futuras.
Por causa das mudanças climáticas, mais regiões vinícolas buscarão variedades de uvas resistentes a doenças para plantar em seus vinhedos. Isso pode incluir variedades que resistem melhor a secas e inundações, bem como novas uvas híbridas que podem se adaptar melhor às mudanças climáticas. Regiões, como Bordeaux, na França, já aprovaram castas mais vigorosas para combater as alterações climáticas: Arinarnoa, Castets, Marselan, Touriga Nacional, Alvarinho e Liliorila. Relacionado a isso está a maior adoção de porta-enxertos de vinhedos resistentes à seca e a doenças pelas vinícolas no futuro.
Além disto, é importante destacar a preocupação que as empresas devem ter, com a transparência em relação aos consumidores que estão cada vez mais alertas para possíveis tentativas de enganá-los. É mais importante as empresas serem claras e transparentes no ponto em que estão no seu caminho para a sustentabilidade, do que “fingirem” estar mais à frente do que estão na realidade.
♦ NOVAS FORMAS DE EMBALAGEM - A sustentabilidade no mundo do vinho vai além das vinhas e adegas, alcançando até mesmo as prateleiras das lojas. A crescente conscientização sobre o impacto ambiental das embalagens levou a uma revolução nas escolhas de embalagens de vinho. Garrafas mais leves, rótulos recicláveis e embalagens inovadoras estão se tornando a norma, refletindo o compromisso da indústria com a redução do desperdício e a preservação dos recursos naturais.
O vinho chegou à categoria das bebidas prontas para consumo. O Portonic, elaborado com o vinho do Porto e envasado em latinhas de alumínio, é um bom exemplo. O coquetel pronto para beber é a aposta de vinícolas, como a portuguesa Taylor’s, para o mercado europeu durante o verão, e para outros países em que o clima temperado é uma constante ao longo do ano. O consumidor jovem quer bebidas mais fáceis de beber e neste caso o coquetel já vem pronto. As bebidas prontas para consumo devem representar 8% do mercado de bebidas alcoólicas até 2025. Em 2020, elas tinham 4% do mercado.
Direto da latinha, é impossível sentir seus aromas. Cabe ao vinho fisgar o consumidor apenas pelo seu sabor e sua imagem, de uma bebida refrescante, leve e, não raro, frisante. Servido gelado, traz também a praticidade de consumo, especialmente onde o vinho na garrafa de vidro seria impossível de ser consumido.
Além dos novos formatos, novos materiais, vamos ter também cada vez mais as marcas a querer comunicar com os consumidores através das embalagens, levando-os às Redes Sociais, Sites, ou QR Codes.
♦ MARKETING – Uma das tendências em Marketing será aumentar o interesse do consumidor em variedades de uva únicas, ou desconhecidas e novas regiões vinícolas. Variedades de uvas autóctones e alternativas terão seu momento, uma vez que muitos consumidores, sobretudo os mais jovens, têm interesse em experimentar castas nativas que crescem naturalmente há centenas de anos em países como Portugal, Itália, Grécia, Geórgia, entre outras regiões.
Da mesma forma, há um aumento na atração por novas regiões vinícolas, especificamente denominações menores e vinhedos especiais, o que vai valorizar os vinhos “single vineyards”, buscando entender o clima e a cultura em vinhedos especiais e terroirs em todo o mundo.
Por outro lado, é preciso continuar a procurar comunicar com os vários segmentos de clientes, compreender com quem as marcas querem comunicar, quem corresponde e se envolve, em que canais estão, que ferramentas utilizar e que parceiros envolver.
O Marketing acabará envolvendo uma maior colaboração entre parceiros: seja o produtor; o distribuidor; a importadora; a loja especializada; o restaurante que deverão trabalhar em conjunto, sem esquecer da geração de conteúdo para as redes sociais para que tudo chegue ao público-alvo e consumidor.
♦ MUDANÇAS NOS CONSUMOS DE BARES E RESTAURANTES - O vinho tinto não é mais rei e frutas podem ser adicionadas à bebida. Além do ressurgimento do consumo de vinho branco, especialmente na Europa, há escassez de chardonnay nas regiões vinícolas do Oregon à Nova Zelândia.
Até pouco tempo atrás, o vinho era a bebida do restaurante, escolhida para harmonizar com a gastronomia, enquanto nos bares reinavam os coquetéis e os destilados on the rocks. Entretanto, o vinho vem encontrando nos bares, e não apenas nos wine bars, um espaço propício para expandir os domínios. Os novos pontos de consumo aparecem sem fazer grande alarde, e chama atenção até a quantidade de bares de praia que ofereceram o vinho geladinho, concorrendo com o consumo de cerveja e outras bebidas geladas.
A adição de frutas e outros sabores ao vinho também está começando a entrar na moda, remontando aos velhos tempos dos coquetéis de vinho – muitos dos quais foram inventados na Europa. Esta tendência também é apoiada por dados recentes de pesquisas da NielsenIQ mostrando que os coquetéis de vinho aumentaram suas participações nas vendas.
Sobremesas preparadas com bebidas alcóolicas estão também dentro da tendência para atrais clientes.
♦ POLARIZAÇÃO DOS PREÇOS – As categorias de vendas de vinhos que mais crescem são as premium e de preço mais baixo (vinhos de entrada). Menos consumo para algumas pessoas, significa poder consumir melhor qualidade e a tendência a moderar o consumo.
Apesar da diversidade de rótulos disponíveis no mercado o maior volume está posicionado no preço baixo, seja em vinhos de entrada das vinícolas, onde a margem em cada garrafa é pequena, sendo muitas vezes a opção por fazer promoções de vendas para estimular a baixa de estoques. Entretanto, é importante prestar atenção em promoções em que vendem com desconto vinhos que tiveram o preço aumentado antes da liquidação. Aliás, agora em janeiro começam as promoções de vendas para baixar os estoques e cumprir as metas de vendas que não foram alcançadas no final do ano passado.
Não podemos esquecer do cenário econômico em alguns países e a instabilidade económica atingindo a classe média que se contrai, o que significa que o consumo provavelmente vai para focar em categorias de vinhos de preço mais baixo.
O aumento do consumo em mercados emergentes como China, Índia, Japão, Brasil, Rússia e Europa Oriental é visto como uma oportunidade para a indústria do vinho até 2025, juntamente com o enoturismo, visitas às adegas e engajamento do consumidor.
♦ COMO OS PREÇOS DE VINHOS DEVEM SE COMPORTAR – A cena de vinhedos franceses iluminados por velas e fogueiras rodaram o mundo no ano de 2022. A imagem simbolizou as geadas fora de época, que reduziram sensivelmente o volume da safra na Europa, principalmente na Borgonha. Poucos meses depois, importadores receberam as novas tabelas de preços, com aumentos de mais de 20%. E não foi só a geada que causou a subida de preços: houve aumento nos custos de produção e transporte desde o final da pandemia.
O valor dos fretes entre Europa e Brasil quintuplicaram nos últimos dois anos, enquanto o aumento da espera para liberação de mercadorias pesou no fluxo de caixa dos importadores. Containers que custavam antes 700 euros hoje não saem por menos de 3 mil euros, e o que antes levava 10 dias para liberar, hoje ultrapassa os 30 dias.
Frente aos aumentos de preços, os consumidores se dividem em três grupos: uma minoria, que não muda seu perfil de consumo; aqueles que reduzem a quantidade de consumo e os que continuam gastando o mesmo valor, mas por um vinho de menor qualidade e mais barato. Não se pode esquecer que uma parte dos consumidores viaja para o exterior e traz seus vinhos na mala, em especial os mais caros nas prateleiras das importadoras.
Frente as mudanças climáticas, a crise econômica mundial, não vejo perspectivas de preços melhores para os consumidores de vinho. Basta lembrar que Bordeaux arrancou 10% do seu vinhedo com o objetivo de manter os preços frente a uma menor produção geral. E para tentar baratear os custos de produção as colheitadeiras mecânicas são responsáveis por mais de 80% de todos os Bordeaux produzidos hoje em dia. Uma verdadeira adaptação aos “tempos modernos”.
♦ BOOM DO ENOTURISMO - o enoturismo emerge como a tendência mais observada pelo trade no mercado vinícola brasileiro. Sete em cada dez profissionais do setor apontam que as visitas a regiões vinícolas e as experiências associadas possuem alto impacto nos seus negócios.
As atividades associadas, como degustações, workshops e eventos temáticos, reforçam o engajamento do público e proporcionam uma conexão mais profunda com o universo do vinho. Em um cenário onde a experiência do consumidor é cada vez mais valorizada, o enoturismo demonstra ser uma ferramenta poderosa para a indústria vinícola seja nacional ou estrangeira.
♦ AQUISIÇÕES DE VINÍCOLAS MENORES POR GRUPOS MAIORES - Fusões e aquisições já vem acontecendo há algum tempo, e pelo visto o movimento neste sentido vai continuar a crescer, com empresas do setor se fundindo ou sendo adquiridas. O mercado de vinho atrai a criação de novas importadoras e distribuidoras, o que deve aumentar a concorrência em geral, que pode ser positiva para o consumidor.
Com o Ano Novo que se inicia, nada melhor que desejar que as tendências tragam pontos positivos para quem gosta de vinho!!!
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação as pesquisas).
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