“UMA LENDA ESPANHOLA – VEGA SICILIA”

No final do mês de junho orientei uma degustação sobre grandes rótulos da Espanha e entre eles, um que se destacou foi o Alión, produzido pela Vega Sicilia. Daí para frente, a vinícola tem sido motivo de perguntas nas minhas Confrarias, gerando este artigo.

Em muitos aspectos, a Vega Sicilia é a vinícola mais famosa e importante da Espanha, mas, como se não bastasse, também é uma das vinícolas mais admiradas e respeitadas do mundo.

A Vega Sicilia foi fundada na região espanhola de Ribera del Duero em 1864 por Don Eloy Lecanda y Chaves, que trouxe da França mudas de uvas de Bordeaux, incluindo Cabernet Sauvignon, Malbec e Merlot (naquela época, a Malbec era muito mais prevalente nos vinhedos de Bordeaux do que hoje) e as misturou com a variedade local Tempranillo para produzir seus vinhos. Embora as raízes do sucesso futuro da Vega Sicilia tenham sido plantadas cedo, sua "era de ouro" provavelmente começou mais tarde, após 1903, sob o comando do proprietário Antonio Herrero, cujos vinhos começaram a acumular prêmios e medalhas na Espanha e internacionalmente.

Hoje, a Vega Sicilia é propriedade da família Álvarez (desde 1982: o mesmo ano em que a Ribera del Duero recebeu o status de Denominação de Origem - DO), e pode-se dizer que a vinícola não perdeu o ritmo, continuando e possivelmente aumentando ainda mais seu sucesso, recebendo elogios e prêmios em todos os lugares.

A história da vinícola deu um grande salto quando foi adquirida por David Álvarez e seus filhos, entre eles Pablo Álvarez Mezquíriz, que lidera o grupo Tempos Vega Sicilia há mais de 30 anos. Foi sob a direção obstinada e visionária de Pablo que a Vega Sicilia se transformou em um império vinícola global, sem nunca renunciar à qualidade artesanal que a consagrou.

Embora não se saiba ao certo, o nome Vega Sicilia provavelmente deriva da combinação de "vega", uma referência à vegetação local que cresce ao longo das margens do Rio Duero, e "Sicilia", derivada de Santa Cecília, uma santa a quem são dedicadas muitas aldeias locais da região de Castilla y León.

Na verdade, Vega Sicilia não é apenas uma vinícola: o nome indica uma empresa que abrange diferentes vinícolas, que incluem: Vega Sicilia propriamente dita e Bodegas Alión (ambas na Ribera del Duero); Bodegas Pintia (na promissora região vinícola de Toro); Macán (na Rioja, esta é uma parceria com Benjamin de Rothschild); e Oremus em Tokaj, na Hungria.

Da mesma forma, algumas vinícolas têm histórias longas e históricas, outras são muito mais recentes: por exemplo, a Vega Sicilia propriamente dita e a Alión foram fundadas em épocas muito diferentes (Vega Sicilia em 1864; Alión em 1991), mas as duas são, em muitos aspectos, dois lados da mesma moeda. Uma simplesmente oferece uma versão mais moderna de um vinho (Alión), enquanto a outra remonta a métodos mais tradicionais de vinificação (Vega Sicilia). No entanto, ambas falam, ainda que de maneiras ligeiramente diferentes, da língua de seu local de origem - a Ribera del Duero. Por isso, cada vinícola da empresa possui seus próprios vinhedos.

Na vinícola Vega Sicilia, são produzidos três vinhos: o Valbuena 5° Ano (um vinho Tempranillo com uma pequena parcela de Merlot e envelhecido por cinco anos, daí o "5°" no nome do vinho), o mundialmente famoso Único (que significa literalmente "único") e o Único Reserva Especial (um blend multi-safras que é uma referência moderna às antigas tradições vinícolas espanholas).

Não é exagero dizer que estes dois últimos rótulos estão os melhores vinhos produzidos na Espanha (Pingus e Ermita seguramente estão na mesma lista). Tanto o Unico quanto o Reserva Especial são principalmente vinhos Tempranillo, com uma pequena parcela de Cabernet Sauvignon, e ambos são envelhecidos por cerca de dez anos antes de serem lançados para venda. Em contraste, o Valbuena 5° Ano, embora seja um vinho mais acessível do que os dois outros ícones, o nível de qualidade oferecido todos os anos pelo Valbuena 5° é tal que ele está longe de ser um vinho base.

Em resumo, o Vega Sicilia Unico é um vinho vintage e Vega Sicilia Unico Reserva Especial é uma combinação de duas ou três safras de Unico. Não se surpreenda se não encontrar safras recentes de Vega Sicilia Único. É um dos vinhos que passa mais tempo envelhecendo em barrica e garrafa antes de ser vendido. Pode envelhecer por dez anos, o que significa que a safra mais recente até o momento é o Vega Sicilia Único 2009.

No entanto, não se assuste se encontrar uma garrafa de Vega Sicilia Unico Reserva Especial com o ano atual no rótulo. Isso não é uma indicação da safra do vinho, pois, como já dissemos, este vinho é uma mistura de duas ou três safras de Unico. A data refere-se ao ano de lançamento da Edição Especial, que pode ser uma mistura de safras de dez ou doze anos, como o Vega Sicilia Único Reserva Especial 2019, que é uma mistura das safras Único de 2006, 2007 e 2009. Essa informação pode ser encontrada no rótulo frontal de cada garrafa.

Esses dois vinhos têm uma capacidade de envelhecimento incrível. São vinhos deliciosos, feitos para serem apreciados imediatamente, mas podem ser guardados por até 60 anos, desde que armazenados nas condições certas.

A Bodegas Alión produz um único vinho, intenso, rico e moderno, consagrado como um dos grandes tintos da Ribera del Duero. De estilo próprio, diferente dos Vega Sicilia, combina de certa forma as qualidades da Espanha com o melhor do Novo Mundo. A seleção e o cultivo das uvas seguem os mesmos rígidos padrões de qualidade dos Vega Sicilia. A diferença está nas vinhas, um pouco mais jovens do que as utilizadas para o Vega Sicilia Unico e o Valbuena 5º Año. Além disso, o Alión é elaborado 100% com a uva Tinto Fino. As técnicas de vinificação são extremamente modernas e o envelhecimento acontece sempre em barricas novas de carvalho francês.

A Bodegas Pintia está localizada em Toro: a família Alvarez a comprou em 1996, permitindo-lhes elaborar uma expressão diferente do vinho Tempranillo, que fala tanto de uma localização diferente (diferentemente de Ribera, Toro tem verões muito mais quentes e um solo diferente, rico em cascalho e pedras, com subsolos argilosos) quanto de um biótipo local de Tempranillo, a Tinta de Toro (ou pelo menos é assim quando as vinícolas usam vinhas antigas e locais da variedade de uva adaptada localmente, em vez de plantar mudas vindas de viveiros). O segredo da Toro é explorar ao máximo o poder inerente que os vinhos possuem e combiná-lo com um mínimo de elegância.

A Bodegas Macán nasceu em 2004 como uma joint venture entre a Compagnie Vinicole Baron Edmond de Rothschild e a Vega Sicilia. Os primeiros vinhos, Macán e Macán Clásico, nasceram em 2009, a primeira safra, com as garrafas lançadas em 2013. O prédio da vinícola foi construído em 2016 na cidade de Samaniego.

A região vinícola de Tokaj, na Hungria (na verdade, Tokaj-Hegyalja, situada em uma área montanhosa no nordeste do país) é até agora a única aventura fora da Espanha. A Vega Sicilia fundou a propriedade Oremus em 1993 (apenas três anos após a queda do Muro de Berlim), cujo nome completo é Tokaj-Oremus Viñedos y Bodegas. Lá, eles produzem tanto os famosos vinhos doces da região quanto os clássicos vinhos secos (aliás, Vega Sicilia está entre os pioneiros deste último estilo de vinho húngaro desde 2000).

Uma das atrações de Oremus é seu parque de vinhedos finos, como Petracs e Mandolás (classificados como de Premier Cru desde pelo menos o século XVII). Em 1999, a empresa construiu uma vinícola moderna em Tolcsva, um edifício que se beneficia de um labirinto de túneis subterrâneos e adegas que datam do século XIII.

A história da Vega Sicilia é a prova de que um ícone não se constrói apenas com tradição: é necessário paixão, ousadia, visão e, acima de tudo, paciência. A empresa segue fiel à sua essência, e sempre mirando novos horizontes.

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