É muito comum em algumas degustações me perguntarem o que torna um vinho numa garrafa de desejo, rara e cara?
Entretanto, o conceito de "vinho fino e raro" não é uma ciência exata, já que não existe um conjunto absoluto de critérios que define o que é, parâmetros e condições que determinariam se um vinho entra nessa categoria de vinho raro ou não.
O que faz um vinho virar objeto de desejo é algo que podemos avaliar olhando sobre os rótulos no mercado. O vinho produzido em massa para ser bebido no dia a dia costuma ser mais simples, curto, apesar de poder haver alguns rótulos que se destacam por serem bem-feitos e equilibrados. Ser um vinho mais simples não representa nenhum demérito, porque o mundo do vinho deve suprir rótulos para todos os bolsos e gostos.
O vinho fino é equilibrado, é bem vinificado, é complexo em aromas e sabores, é longo e persistente. Poderia até dizer que a essência do vinho fino, seria ter um gosto muito melhor do que qualquer outro rótulo, revelando uma delicadeza e uma elegância que se destaca.
Esta delicadeza tem duas origens: A qualidade do terroir, da vinha que dá origem ao vinho. Algumas vinhas provaram ser melhores que outras. Na França, por exemplo, os melhores vinhos costumavam ser classificados como Grand Cru ou Premier Cru.
O segundo parâmetro é o cuidado na vinificação. Resultado de quão talentosos são as pessoas que produzem o vinho, quanto eles sabem como transformar uvas no melhor vinho possível, levando em consideração o seu intuito, optando por um vinho monovarietal (como no caso dos Borgonhas), ou um blend (como no caso dos Bordeaux). A escolha do processo de maturação e envelhecimento, o uso de barricas de carvalho acaba resultando em vinhos melhores. Além disto, um grande vinho geralmente ficará mais refinado com a idade, diferenciando-o de vinhos comuns destinados a um consumo praticamente imediato.
● Mas, o que torna um vinho raro? - Sabemos que fazer vinhos de vinhos de grande qualidade não é algo fácil. O que torna um vinho em um rótulo raro é, portanto, o equilíbrio entre um nível de qualidade de produção e demanda.
Por exemplo, a maioria dos vinhos finos das principais vinícolas de Bordeaux é produzida em quantidades de dezenas de milhares de garrafas. Devemos lembrar que há mais 7.000 produtores (chateaux) e 13.000 vinhedos com pelo menos cerca de 40.000 rótulos produzidos em Bordeaux. Todo mundo os conhece como sendo exemplos de grandes vinhos, eles têm um sabor delicioso, equilibrado, elegante e você pode confiar em sua longevidade de guarda. Talvez pela fama que estes vinhos têm, eles são muito mais caros do que outros vinhos produzidos em outras partes do mundo do vinho em quantidades semelhantes. Entretanto, os chamados “vinhos unicórnios” de Bordeaux, objeto de desejo de amantes da bebida de Baco, estão restritos a cerca de 200 chateaux, em grande parte classificados em 1855 como os grandes produtores da região.
Na Borgonha, os melhores vinhos são feitos apenas em produções muito exclusivas com origem em pequenas vinhas. Estes rótulos são extremamente respeitáveis, têm aromas e sabores fantásticos e envelhecem magnificamente. Esses podem ser alguns dos vinhos mais caros do mundo.
As coleções de vinhos contêm uma variedade de rótulos que se estendem entre países, safras, castas e preços. Suas preferências únicas são refletidas nos vinhos que você escolhe e nos produtores de vinho que você seleciona. No entanto, muitos colecionadores também adoram a emoção da caçada e a perspectiva de possuir algo raro, caro ou verdadeiramente único. Essa emoção é o que inspira alguns colecionadores de vinhos a passar anos ou até décadas em busca de uma garrafa rara.
● Como o vinho se torna raro ou caro ? - Nem todo vinho começa caro ou raro - embora possa acontecer - mas pode se tornar objeto de desejo com o tempo. À medida que as pessoas consomem as garrafas de uma determinada safra, reduz o número de garrafas em circulação, tornando as garrafas restantes de vinho mais raras.
Os fatores relativos as safras podem ser um dos motivos pelos quais certos vinhos aumentam de preço, enquanto outros permanecem em valor típico do mercado. As uvas de safras excepcionais têm qualidades melhores, onde tudo se reúne em harmonia para criar um vinho requintado, diferenciado. Em outros anos, nos quais as uvas não cresceram e maturaram tão bem devido a fatores como chuva, sol, temperatura ou condições do solo, podem resultar em uma safra que não é tão preciosa. É mais provável que esses vinhos enfeitem a mesa de jantar do que permanecem em adegas enquanto envelhecem com perfeição.
Outra causa de raridade ou preço mais alto começa na vinícola. Se a vinícola produzir apenas 300 garrafas de um determinado rótulo, por exemplo, ele começa mais raro que um vinho com 4.000 garrafas produzidas e geralmente será mais caro.
Os vinhos finos também se tornam mais caros com a guarda, geralmente porque os vinhos mais antigos são únicos e exigem décadas de envelhecimento para atingir tamanha complexidade. Obviamente, o armazenamento do vinho desempenha um papel significativo na qualidade, com a origem verificável fazendo a diferença entre um vinho que vale US$ 2.000 e um que vale US$ 20.000 ou mais.
Existem também alguns vinhos que não são adequados para o consumo, mas que ainda valem a pena coletar apenas para a idade e o nome. É o caso de vinhos únicos, resgatados de naufrágios, ou de antigas adegas descobertas em escavações, e que geralmente são levados a leilão por serem objetos únicos.
Entretanto, não se pode esquecer que infelizmente há uma indústria de rótulos falsos, para fraudar pessoas que compram os mais raros vinhos de todos os tempos. Por exemplo, as famosas garrafas de Château Lafite que teriam pertencido a Thomas Jefferson, de safras da década de 1780. Ou o Cheval Blanc 1947, Mouton Rothschild 1945, Henri Jayer Clos Parantoux ou Richebourg, Châteaux Margaux, Pétrus, d’Yquem, La Tâche e tantos outros vinhos icônicos de safras antigas e famosas.
É conhecido que um falsário chamado Rudy Kurniawan, comprovadamente vendeu cerca de 20 milhões de dólares em falsificações. Estima-se que a cifra total possa ter ido além dos 100 milhões de dólares. Mesmo que depois condenado e preso pela Justiça dos Estados Unidos, isto mostra que o mercado de vinhos raros e caros exige expertise em casos extremos.
O mundo do vinho fino e raro é, portanto, complexo e fascinante, combinando as leis de um mercado tradicional de demanda versus oferta, com as condições climáticas de cada safra e as habilidades de todos os atores da indústria, da produção ao marketing e distribuição.
O que torna ainda mais atraente é a tensão contínua que vem, a tensão entre armazenar o vinho para melhorar com a idade, para que aumente em valor também às vezes e o desejo de abrir a garrafa para prová-la. O vinho raro é um prazer absoluto para quem pode apreciá-lo, e cria lembranças inesquecíveis que você pode compartilhar com outras pessoas.
É um ato de generosidade também, já que o grande apreciador de vinhos em geral prefere compartilhar um grande rótulo do que bebê-lo sozinho!
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).
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