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  • Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“OS VINHOS DA BAIRRADA”

Esta região vinícola portuguesa, lar da casta Baga, está passando por uma revolução na medida que os produtores inovadores apostam na qualidade e exploram o potencial das castas autóctones.

Tema de uma degustação virtual com amigos, a Bairrada ainda é uma região portuguesa a ser mais bem conhecida. Mas afinal, uma pergunta que me foi feita hoje, é como se faz uma degustação virtual? Temos uma confraria com uma agenda marcada de temas e dias nos quais teremos todos nas suas casas, uma garrafa de vinho da região, ou até mesmo um rótulo escolhido para servir de referência numa discussão em torno do tema.


Historicamente, a Bairrada era uma região conhecida por duas coisas: pelo seu vinho espumante e pela alta produtividade. Os altos rendimentos geralmente não são vistos como algo bom, mas foram um fator chave para a produção de vinho a granel durante os séculos XIX e XX.


A região da Bairrada foi, no passado, uma terra de passagem e de conquistas, de lutas entre cristãos e árabes no tempo da formação de Portugal, quando a capital do reino era Coimbra. A Bairrada já produzia vinhos há séculos, e sofreu um imenso revés quando o Marquês de Pombal, primeiro-ministro durante o reinado de D. José I (1750-1777), ordenou que as vinhas fossem arrancadas e substituídas por outras culturas.


Seu intuito era proteger a qualidade e autenticidade do vinho do Porto, quando o vinho estava se tornando popular entre os consumidores britânicos. Vários produtores da Bairrada rotularam os seus vinhos como Porto, e vários produtores do Porto usaram vinhos da Bairrada para melhorar os seus vinhos. O resultado desta malandragem foi que o governo ordenou que todas as vinhas da Bairrada fossem arrancadas. Posteriormente as vinhas foram replantadas, mas tal ação gerou ressentimentos que duram até os dias atuais, de forma que autoridades e poder político não costumam ser bem aceitos pelos produtores da Bairrada.


A Bairrada foi também terra de defesa da independência ameaçada pelos exércitos invasores de Napoleão, detidos na serra do Bussaco.


A Bairrada é uma região vinícola situada na província da Beira Litoral e região do Centro (Região das Beiras), entre o Dão e o Atlântico. Há uma frase famosa que diz: “Bairrada faz os melhores e os piores vinhos”. O principal motivo disto é a inconstante e ácida casta Baga, que perfaz cerca de 95% das uvas tintas, e 80% de todas as castas da região.


Por ser uma zona muito próxima do mar, o seu clima é tipicamente atlântico, com invernos amenos e chuvosos e verões suavizados pelos efeitos dos ventos atlânticos. Entretanto, o clima atlântico com fortes ventos e chuva no inverno, e o verão quente e seco, não colabora. Muitas vezes a uva Baga começa a apodrecer na vinha antes mesmo de estar completamente madura. Devido as dificuldades extremas, a Bairrada tanto pode produzir tintos poderosos de longa guarda, como vinhos magros, pobres e de estilo vegetal. Obviamente bons produtores podem fazer toda a diferença.


A região tem uma grande amplitude térmica na época do amadurecimento das uvas, chegando a uma diferença de até 20º C entre o dia e a noite. Este fenômeno é responsável por manter a acidez das frutas, criando grande frescor nos vinhos.


A palavra portuguesa popular para argila é barro, o que pode ser a origem do nome Bairrada. No entanto há quem sugira que o nome deriva simplesmente da palavra bairro. Os solos dividem-se entre os terrenos argilosos e calcários, arenosos e calcários. Calcários jurássicos e triásicos deram origem aos ricos solos de argila calcária, que produzem vinhos tintos com maior estrutura e longevidade. Já os solos mais arenosos tendem a gerar vinhos mais leves, porém mais aromáticos.


As vinhas destinadas à produção de produtos com a denominação "Bairrada" devem cumprir com o regulamento que indica que as vinhas "devem estar instaladas em solos "calcários pardos ou vermelhos", em "solos litólicos húmicos ou não húmicos", ou em podzóis de materiais arenáceos pouco consolidados".


As propriedades vinícolas são geralmente de dimensão reduzida. A área ocupada pelas vinhas não ultrapassa os 10.000 hectares. Existem mais de 5.000 produtores registrados na Bairrada, e a maioria deles envia as suas colheitas para cooperativas locais, onde são posteriormente misturadas com outras vinhas. A Bairrada é também uma área onde os produtores de vinho estão se tornando inovadores criativos, com grandes nomes como Filipa Pato produzindo vinhos em tradicionais tonéis de argila Amphorae.


A década de 1980 marcou um período de regeneração da região da Bairrada. Pioneiros como Luis Pato modernizaram a abordagem de vinificação, reduzindo os rendimentos normalmente produzidos em massa, desengordurando as uvas para reduzir os taninos duros e envelhecendo vinhos em carvalho francês para criar equilíbrio.


Os vinhos portugueses são tipicamente misturas. É raro encontrar variedades únicas, e as regiões vinícolas geralmente são conhecidas por uma seleção de variedades combinadas. A Bairrada, no entanto, é uma das poucas excepções. A casta Baga, utilizada na produção de vinhos tintos e espumantes, domina largamente a região e é a estrela do espetáculo na maioria dos vinhos da Bairrada.


Mais recentemente, a região está experimentando um número crescente de produtores especialistas em uma única casta - incluindo para uvas brancas portuguesas - e pequenas vinícolas boutiques estão se concentrando em trabalhar com qualidade.


A casta Baga é a variedade tinta dominante. Conhecida também como Tinta da Bairrada, Tinta Fina ou Tinta Poeirinha, a Baga não é uma uva fácil de cultivar e funciona muito bem em solos argilosos e requer boa exposição ao sol. Quase 50% dos vinhedos na Bairrada são de Baga. A fruta desenvolve-se melhor quando plantada em solos argilosos, com grande exposição ao sol, características presentes na região portuguesa.


Os vinhos feitos a partir da casta Baga costumam ser intensos, com taninos acentuados, cor profunda e aromas concentrados. Além de muitos dos melhores tintos de Portugal, a Baga faz também espumantes Blanc de Noir – espumantes brancos produzidos com uvas tintas. Também há produções de espumantes tintos elaborados com essa uva. Costumam ser bem equilibrados e têm elevada longevidade.


Recentemente foi permitido na região DOC da Bairrada plantar castas internacionais, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir que partilham os terrenos com outras castas nacionais como a Touriga Nacional ou a Tinta Roriz. Outras uvas tintas plantadas são: Camarate (conhecida localmente ainda como Castelão Nacional), Jaen, Alvarelhão.


A casta branca Fernão Pires (na região denominada por Maria Gomes) é a mais plantada. Existem também as castas Arinto, Bical, Rabo de Ovelha, Cercial, Chardonnay, Sercialinho. Bical é a uva mais elogiada, capaz de originar vinhos de guarda. Boa parte das brancas é direcionada para a produção de espumantes, que estão entre os melhores de Portugal. Os brancos da região são delicados e aromáticos. Os espumantes da região são muito utilizados como bebidas aperitivas ou a acompanhar a cozinha local.


A região tem produtores tradicionalistas que ainda praticam a pisa a pé, e fermentam as uvas, ramos e todo o resto em lagares de pedra sem recursos ao controle de temperatura. Os vinhos, escuros e tânicos, costumam amadurecer em madeira de vários usos por até cerca de 2 anos. Entretanto, produtores modernistas e cooperativas que operam numa escala maior, adotam técnicas de desengaçamento das uvas, fermentação em cubas de aço inoxidável de temperatura controlada, criando excelentes vinhos envelhecidos em barricas de carvalho francês.


♦ Categorias

● DO Bairrada - os vinhos com a denominação Bairrada no rótulo são produzidos nos concelhos da Mealhada, Catanhede, Anadia, Oliveira do Bairro, Águeda e mais um pouco em partes de concelhos vizinhos. A região tornou-se DOC em 1980, embora a Bairrada tenha visto as suas primeiras vinhas plantadas há séculos. São permitidos brancos, rosés, tintos e espumantes. Os espumantes precisam ser produzidos pelo método tradicional e precisam ter, no mínimo, 9 meses de estágio. Se o tinto levar o termo "Clássico" no rótulo, precisa ter, no mínimo, 50% de Baga e 12,5% de álcool. Há também outras regras a serem seguidas com relação ao cultivo das uvas.


● IG Beira Atlântico - abrangendo uma zona muito maior que a DO Bairrada, esta Indicação Geográfica também pode produzir brancos, rosés, tintos e espumantes, além de frisantes. O número de castas permitidas, tanto portuguesas quanto internacionais, é muito maior, ao mesmo tempo em que há menos regras com relação ao cultivo e produção dos vinhos. Dentro do IG Beira Atlântico há a sub-região Terras de Sicó.


● Vinho Terras de Sicó - limita-se aos concelhos de Alvaiázere, Ansião, Condeixa-a-Nova, Penela e Soure e as Freguesias de Lamas (Miranda do Corvo), Abiúl, Vila Cã, Redinha e Pelariga (Pombal) e Aguda (Figueiró dos Vinhos). Predominam as castas: Alfrocheiro Preto, Baga, Bastardo, Rufete, Tinta Roriz, Trincadeira e Touriga Nacional, nas tintas e Fernão Pires, Rabo de Ovelha, Arinto e Cerceal, nas brancas. Os vinhos precisam ter estágio mínimo de 6 meses, antes da comercialização, e os rosés precisam ser feitos pelo processo de "bica aberta" com ligeira maturação.


♦ Estilos de vinho

● Vinhos brancos - frutados e florais, quando novos, evoluem para uma nota resinosa quando envelhecidos, muito frescos e persistentes. Possuem muita longevidade.


● Vinhos rosés - aromas de frutos vermelhos, com muita acidez.


● Vinhos tintos - vinhos de grande elegância e estrutura, com aromas de frutos silvestres que evoluem com a idade para um buquê de especiarias, café e couro, com taninos marcantes e acidez vivaz. Possuem uma enorme capacidade de envelhecimento.


● Espumantes - variam de frutados e florais quando jovens a complexos e estruturados. Podem ser Brutos, Secos ou Meio-secos. A Bairrada é considerada a principal região do país na produção de vinhos espumantes.


♦ Principais produtores da Bairrada: Quinta da Aguieira, Caves Aliança, Quinta das Bágeiras, Quinta de Baixo, Adega Campolargo, Quinta do Carvalinho, Quinta do Encontro, Caves Messias, Luís Pato, Filipa Pato, Caves Primavera, Casa de Saima, Caves São Domingos, Caves São João, Sidónio de Sousa e Caves Valedarcos.


Para os turistas apaixonados por vinhos, é possível conhecer a região que conta com rotas com bons hotéis, restaurantes, vinícolas e adegas à disposição dos visitantes, além das várias atrações naturais e históricas.


As belas praias da região, como a Costa Nova, Barra e Vagueira, convidam a um mergulho, enquanto na montanha, em locais como a Curia e o Luso, encontramos algumas das termas mais famosas do país.


Em Anadia, no coração da Bairrada, os turistas podem visitar o Museu do Vinho da Bairrada, onde se pode assistir a diversas exposições sobre a cultura do vinho na região, ou na sua enoteca, provar alguns dos melhores vinhos bairradinos.


Aliada às maravilhosas experiências de Enoturismo e para os amantes de turismo de natureza, são ainda locais a visitar a Mata Nacional do Bussaco, na qual se reúnem várias espécies botânicas e a pateira de Fermentelos, onde é possível observar diversas aves aquáticas.


♦ GASTRONOMIA DA BAIRRADA E HARMONIZAÇÕES

Da gastronomia da região, devidamente acompanhada pela oferta de vinhos regionais, destacam-se as sopas de peixe e as entradas à base de mariscos, os pratos de peixe grelhado ou assado no forno, e as carnes, desde o pato até à chanfana de cabra, passando pelo famoso leitão da Mealhada assado em forno de lenha. Nos doces valem a pena provar os ovos-moles de Aveiro, as queijadas de Tentúgal, os pastéis de Santa Clara de Coimbra ou a doçaria conventual do Lorvão.


● O LEITÃO ASSADO À BAIRRADA - o potencial de Baga para harmonizar com comida é muito grande, e o espumante também tem grande potencial de harmonização. A cerca de meio caminho entre Lisboa e Porto, e a 20 minutos de carro de Coimbra, encontramos uma pequena cidade com menos de 5.000 habitantes chamada Mealhada. Despretensiosa por fora, a beleza está nas inúmeras tascas que lotam suas ruas, todas servindo o mesmo prato: leitão e espumante.


Há algo sobre leitão rico e vinho espumante que, quando combinados, nunca para de satisfazer. Na Mealhada é ampliado. Na verdade, é tão popular que todo mês de setembro a cidade recebe um festival de leitão, onde os moradores passam dias provando leitão enquanto degustam um delicioso espumante!


● OUTRAS COMBINAÇÕES DE VINHO DA BAIRRADA E ALIMENTOS - Sendo uma região de clima marítimo próximo do oceano, não é nenhuma surpresa que o marisco seja uma combinação popular com os vinhos frescos da Bairrada. Graças à sua rica acidez, a Baga é especialmente bom acompanhamento para peixes ricos e carnudos, como atum fresco e pratos de lula.


Para acompanhar queijos, é mais adequado para variedades mais suaves com alto teor de acidez, como um queijo de cabra macio - que é comum encontrar em grande quantidade em Portugal.


A Bairrada possui uma rica diversidade de produção de vinho que ainda permanece desconhecida de muitos amantes da bebida de Baco. Se Portugal é fonte de grandes vinhos no cenário europeu, a Bairrada é uma joia por descobrir!


Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet e minhas considerações)

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