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  • Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“OS VINHOS DE STALIN”

A Geórgia afirma ser a região de origem do vinho, e a descoberta de artefatos mostram evidências de produção da bebida por pelo menos 8.000 anos no local.

A Geórgia (Tbilisi é a capital) encontra-se na intersecção entre a Europa e a Ásia, combinando as paisagens da Cordilheira do Cáucaso de um lado e o mar Negro do outro. Além de ser um dos destinos de férias preferidos dos europeus, é fonte de inspiração para muitos produtores e enólogos de diferentes partes do mundo por seus vinhos produzidos em ânforas como há milhares de anos. Hoje, os vinhos de ânfora (os chamados vinhos laranja) estão em alta no mercado e um dos produtores mais famosos na categoria é Josko Gravner, do Friuli, Itália. A região do Alentejo, em Portugal, também tem uma produção relevante de vinho em ânfora.


Joseph Stalin (originalmente Ioseb Jughashvili), nasceu em Gori, 80 Km a noroeste de Tbilisi. Embora muitos em sua cidade natal guardem lembranças controversas do líder soviético, ele não é uma figura popular na Geórgia. No entanto, em nome do capitalismo, o seu nome ainda tem alguma importância: como o georgiano mais famoso da história, e rotular um vinho como o seu favorito tem potencial para aumentar as vendas. Como tal, seu rosto aparece em muitas garrafas e seu nome é usado como um endosso póstumo para muitas marcas (dependendo de vários graus de evidência histórica).


Antes da era comunista, Khvanchkhara, o vinho que agora é mais frequentemente anunciado como o favorito de Stalin era conhecido por outro nome: Vinho de Kipiani. Criado pelo nobre Dimitri Kipiani na década de 1870, ganhou o Grande Prêmio de Ouro no Festival Europeu do Vinho de 1907. A produção do vinho foi confiscada e nacionalizada por Stalin em 1943, após o que passou a ser conhecida pelo nome da aldeia em que suas uvas eram cultivadas: Khvanchkara.

Diz-se que Stalin serviu Khvanchkara a Churchill e Roosevelt na conferência de Yalta de 1945, e isso é considerado uma prova irrefutável de que deve ser sua bebida favorita. No entanto, os amantes de outro tinto meio doce georgiano, Kindzmarauli, muitas vezes discordam. Cultivado em Kakheti, a região vinícola mais famosa da Geórgia, este é um dos tintos semidoces mais populares da Geórgia. Embora possamos nunca saber qual ele realmente favoreceu, qualquer visitante deve tentar provar os dois. Os melhores vinhos da Geórgia merecem ser aclamados por sua qualidade, e não apenas por suas associações duvidosas.


O nome de Stalin não é explorado apenas por sua "fama" soviética; ele genuinamente tinha uma paixão pela bebida. Ele dava festas que apresentavam um consumo incrível, e os convidados eram convidados a beber, quer gostassem ou não. Há ainda notícias que Stalin também gostava de Chkhaveri, um vinho branco cultivado na costa do Mar Negro, mas muitos relatos afirmam que o tinto era o que ele realmente amava.


Na década de 1930, uma fome catastrófica atingiu a União Soviética, o caos gerado pela coletivização, políticas socioeconômicas brutais, devastou as regiões produtoras de grãos do país. Alguns, no entanto, atribuíram já naquela época a mudanças climáticas. Milhões morreram de fome, e cadáveres acumulados ao longo de trilhos ferroviários e estradas, enchendo o ar com o mau cheiro da decomposição.


Atrás da Cortina de Ferro, em 1936, Stalin ordenou a produção em massa de espumantes, as prateleiras podiam estar vazias, mas o “champagne” não faltava e era acessível. Quando um ditador é obcecado por determinada comida ou bebida, isso faz mudar a forma de comer e beber por gerações, neste caso, devido ao poder que o “champagne” confere. Ele proclamou que o champagne era um importante sinal de bem-estar, da boa vida que o socialismo colocaria à disposição de todos – longe da simples promessa de Lenin de “pão e paz”.


Para obter um produto mais barato e de maturação precoce na saída, Anton Frolov-Bagreev, um enólogo encarregado de resolver esse problema, propôs uma nova tecnologia de produção – o método do reservatório. Agora o champagne fermentava no tanque, o que tornava a produção mais volumosa, e todo o processo de fermentação demorava cerca de um mês. O inventor de um novo método de produção de espumante recebeu o Prêmio Stalin em 1942.


Desesperado para mostrar que a União Soviética tinha mais a oferecer do que privações e perseguições, o governo lançou um esforço concentrado para produzir e democratizar o espumante e outros produtos de ponta. A ideia era disponibilizar coisas como champagne, chocolate e caviar a um preço bastante barato, para que pudessem dizer que o novo trabalhador soviético vivia como os aristocratas do velho mundo.


Hoje em dia, podemos lembrar que Putin está em disputa com a França pela questão dos champagnes... A produção de champagne soviético priorizou a quantidade em detrimento da qualidade. O resultado foi o “Sovetskoye Shampanskoye” (Champagne Russo), um vinho espumante barato, doce em xarope, para o trabalhador soviético comum. Deveria simbolizar a boa vida soviética. Era o único espumante disponível, e para aqueles que cresceram no Leste Europeu, atrás da Cortina de Ferro, seu sabor é indelevelmente entrelaçado com camadas de memória e nostalgia.


♦ A ADEGA PERDIDA DE STALIN - Durante a Segunda Guerra Mundial, Joseph Stalin, temendo um avanço alemão sobre a Rússia, providenciou para que obras de arte e tesouros valiosos - incluindo uma magnífica adega de vinhos, fossem dispersos e escondidos em cantos remotos.


O estoque de vinhos que pertencia a Josef Stalin se originou da adega do último czar da Rússia, Nicolau II, e seu pai Alexandre III. Os vinhos foram escondidos por Stalin em Tbilisi, na Geórgia, perto do local de nascimento de Stalin, quando ele temeu que Hitler confiscasse a coleção.


Entretanto, uma lista com a relação dos rótulos foi descoberta como um catálogo abrangente da coleção de vinhos de Nicolau II. O vinho se tornou propriedade do Estado após a Revolução Russa de 1918, durante a qual Nicolau e toda sua família foram executados. Agora propriedade de Stalin, o vinho fora discretamente removido para uma remota vinícola georgiana. Havia rumores de que o vinho estava escondido em um porão escuro, profundo e úmido há mais de 70 anos. A coleção era significativa, porque, por exemplo listava mais de 200 garrafas de Château d’Yquem, além de outros grandes Sauternes e os melhores châteaux de Bordeaux, de safras que remontam a 150 anos. É um tesouro de vinhos que provavelmente não tem igual no mundo, e o que torna a história ainda mais inesperada é sua descoberta por alguns comerciantes de vinho de Sydney, na Austrália.


John Baker que era o proprietário da Double Bay Cellars e conhecido por comprar e vender grandes adegas de vinho, recebeu por fax folhas de papel com números e combinações de letras. Veio de um amigo que fazia negócios na Geórgia e havia apenas uma palavra anexada: “Interessado?”


As folhas de papel fax que eram uma lista de vinhos de uma adega, precisaram ser decifrados. Baker presumiu que a lista foi compilada por alguém lendo os rótulos franceses para um georgiano que a escreveu em idioma georgiano e então, quando eles quiseram vender a adega para alguém interessado, o livro da adega da Geórgia teve que ser traduzido para o inglês.


A lista era um verdadeiro tesouro, incluindo várias garrafas de vinhos dos grandes Chateaux de Bordeaux, além do Chateau d'Yquem de 1854 a 1940. Ao todo eram 217 d'Yquems dos anos 1800 e 1900, junto com outras raridades das principais propriedades de Bordeaux, incluindo Latour, Margaux e Mouton Rothschild.


Baker permaneceu cético até que foi colocado em contato com os proprietários de uma vinícola em Tbilisi, Geórgia, onde os vinhos estavam supostamente guardados. Os proprietários precisavam de dinheiro para ressuscitar a vinícola e estavam dispostos a vender a adega. Acreditava-se que Stalin havia escolhido o local por ser próximo à cidade onde ele nasceu.


Baker embarcou em uma viagem audaciosa, e potencialmente perigosa para a Geórgia para descobrir se os vinhos realmente existiam; se as garrafas eram autênticas e se toda a coleção poderia ser comprada e transportada para venda em uma grande casa de leilões de Londres. Ele precisava descobrir se a lista da adega era material de mito e lenda, ou se era verdadeira.


Baker e seu gerente geral Kevin Hopko voaram para a Geórgia. Mas, quando eles chegaram, houve um obstáculo. “Muitos vinhos não tinham rótulos”, o que era o resultado de ficar muito tempo em uma adega úmida. O que era bom para rolhas, mas menos para rótulos de vinho feitos de papel. Para realmente provar o que eles eram, Baker e Kevin levaram uma garrafa sem rótulo, mas com uma rolha que dizia 1870, para avaliarem se seria um Yquem.


John Baker diz que não apenas viu os vinhos e fez um inventário deles, mas foi capaz de certificar como verdadeira uma garrafa de valor inestimável de Chateau d'Yquem da década de 1870 e prová-la no próprio Chateaus d´Yquem. Ele diz que foi confirmado pelo enólogo do Chateau, Sandrine Garbay, da garrafa ser "definitivamente de um Yquem".


Mas tendo encontrado o que acreditava ser a adega de Stalin, Baker a perdeu - ou melhor, foi impedido de trazê-la para fora da Geórgia pelos proprietários da vinícola e um grupo de pessoas que ele descreve como de caráter "duvidoso".


As afirmações surpreendentes estão contidas em um novo livro, Stalin’s Wine Cellar, que Baker co-escreveu juntamente com Nick Place. Ele relembra a aventura do vinho em sua vida, que começou em Sydney em 1998. Para ele, “esses vinhos viveram a história do século 20 e quase representam a história do século 20, da Revolução Russa à Segunda Guerra Mundial”, diz Baker. “Esses vinhos ficavam lá em seu estado de sono enquanto tudo isso acontecia acima deles.”


O negócio fracassou graças a camadas de intriga, incluindo avisos indiretos para não perguntar demais ou tentar entrar em contato com as principais autoridades russas ou os comerciantes da vinícola. A história termina com a chance de um encontro em 2019 com um dos protagonistas georgianos que Baker presumiu que nunca mais veria.


A pergunta que fica é se os vinhos ainda existem? Baker, tem certeza de que muitos vinhos ainda existem, e seria apenas uma questão de como, onde e quando encontrá-los.


Se um dia você estiver viajando pelo Cáucaso, entretido com as paisagens que esta história te revelou, não deixe de provar os dois tintos semidoces, Khvanchkara e Kindzmarauli, que disputam o status de suposto vinho favorito de Stalin!!!


Saúde!!!Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet e minhas considerações)

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