
Não há dúvidas que beber vinho é um grande prazer e um hábito saudável, desde que bebido com moderação; mas muitas vezes traz preocupações e pode ser um pouco complicado; ainda mais para quem está se iniciando neste mundo de Baco.
As perguntas sobre os erros mais comuns vão se repetindo, tais como servir o vinho na temperatura inadequada, usar taças inapropriadas ou bebê-los em harmonizações desastrosas, algo que é cometido com frequência.
Parte destes erros foram relatados por três renomados especialistas espanhóis que explicaram o que não devemos fazer (e como agir corretamente) para desfrutar plenamente da experiência do vinho em um artigo publicado no jornal El País. São eles: Guillermo Cruz, sommelier do restaurante Mugaritz, na cidade de Rentería, Guipúzcoa, Espanha, (duas estrelas Michelin e eleito sexto melhor do mundo em 2015) e Melhor Sommelier da Espanha de 2014; o sommelier Iván Martínez, prêmio Nariz de Ouro de 2014; e Alicia Estrada, autora do livro Os 100 Melhores Vinhos Por Menos de €10 (em espanhol, Ed. GeoPlaneta, 2015).
Erro nº 1: Um vinho mais caro é sempre melhor.
Há vinhos caros excepcionais, e vinhos por menos de 10 euros (R$ 40) também excepcionais. Muitas pessoas provam vinhos caros e se decepcionaram. O fundamental é comprar vinhos que podemos e sabemos desfrutar. Os vinhos caros às vezes são difíceis, fechados, e precisam de uma certa preparação sensorial, um certo conhecimento, uma experiência, ou como dizemos, ter bebido uma certo volume ao longo da vida! Alicia Estrada também aponta que o conceito de "melhor" é relativo e explica que: -"O vinho é uma bebida de momentos. Não é o mesmo daquele do domingo, ou da paella que você compartilha com a família, e o de uma noite romântica, ou que alguém bebe com clientes em um jantar de trabalho".
Erro nº 2: Sempre devo abrir a garrafa de vinho meia hora antes de servi-lo.
Se queremos oxigenar o vinho porque está fechado, por ser um amadurecido que precisa respirar, ou de certas variedades de uva que precisam de mais oxigênio, faz mais sentido fazer uma aeração ou decantá-lo. Fazendo isso vamos evitar ter que abri-lo uma hora antes ou duas, explica o sommelier Iván Martínez.
Você não estará fazendo nenhum mal ao conteúdo, mas tampouco vai trazer grandes benefícios. Se você suspeitar que o vinho precisa ser aberto, remova a rolha com várias horas de antecedência, ou faça uma decantação ou aeração (uma decantação vigorosa), porque a porcentagem de oxigênio que influencia a capacidade na garrafa de 750 ml é muito reduzida.
Erro nº 3: Se meu vinho está quente, coloco um cubo de gelo nele!
Fazer isto, especialmente com vinhos brancos e rosés é uma atrocidade comparável a misturar um grande vinho reserva com refrigerante. "É uma pena, porque ao jogar gelo estamos misturando vinho com água", diz Guillermo Cruz. É preciso pensar que, por trás de cada garrafa, existe um trabalho maravilhoso, uma filosofia, alguém que está todo ano esperando essa safra para que, no final, sua emoção se transforme em uma garrafa de vinho. É quase preferível manter o vinho na geladeira por mais cinco minutos do que acrescentar um cubo de gelo. Perde-se o equilíbrio do vinho.
Há hoje no mercado vinhos que foram especialmente desenvolvidos para serem bebidos com gelo. Neste caso, colocar gelo é obter o melhor deles.
Erro nº 4: Encher completamente a taça com vinho.
Em geral queremos o melhor serviço para nossos convidados e portanto, além de muitas vezes empanturrar seus pratos, enchemos suas taças até transbordar. Mesmo que tenhamos boas intenções, estamos dando uma má impressão, a de quem não tem relacionamento algum com o mundo do vinho.
Iván Martínez recomenda encher as taças "sempre menos da metade”. Há várias razões para isto: porque o vinho esquenta muito; porque se você enche completamente não pode mexer a taça para aerar o vinho... Vamos diminuir a intensidade do vinho.
Erro nº 5: Servi-lo num copo e não numa taça.
Pode ser que beber água em um taça Bordeaux seja muito chique; mas fazer o contrário - tomar vinho em um copo de água - denota inexperiência. Uma taça de vinho com certa altura e com um bojo que tenha um diâmetro é vital para que, ao mexer o vinho, ele se oxigene e todos seus aromas possam ser volatilizados, aconselha Iván Martínez. A haste da taça permite segurá-la sem ter que colocar os dedos na altura do vinho, aquecendo-o.
Erro nº 6: Imaginar que um Reserva é sempre melhor do que um vinho Jovem.
Alicia Estrada explica que tudo “depende”. “Uma indicação de Reserva nos diz que o vinho passou muitos meses em barril, e, portanto, terá maiores condições de longevidade e guarda por mais tempo. Mas não é uma garantia de qualidade." O barril fornece sabores e aromas, o que os vinhos jovens não possuem, mas muitos deles oferecem, em troca, uma frutosidade, um frescor e um toque mais moderno. Se o processo de maceração carbônica é aplicado, podem ganhar na intensidade de sabor e de cor.
Erro nº 7: Só bebo vinho com as refeições.
Você chega em casa do trabalho, exausto depois de um dia de trabalho difícil, e abre uma cerveja gelada... Pode ter algo melhor? Talvez não, mas o vinho pode cumprir a mesma missão em pé de igualdade. Para Alicia Estrada. "Há um vinho que você toma enquanto está preparando a refeição, e outro que pode tomar quando chega em casa do trabalho, cansado, mal-humorado... Os franceses chamam de “vinhos que alteram”: fazem você passar de um estado anímico a outro. Levam a um estado de relaxamento e preparam para aproveitar o final do dia com sua família ou amigos.