Dando continuidade ao artigo das curiosidades sobre os vinhos que trazem muitas perguntas e curiosidades, agora vamos escrever um pouco mais sobre OS VINHOS DA BORGONHA.
A região vinícola da Borgonha é conhecida pelos encantadores vinhos tintos brilhantes com um sabor suave e aromas delicados, de derreter o coração de cada amante de vinho. Mas a Borgonha tem outras curiosidades interessantes. Vamos conhecê-las?
♦ QUAL A VINÍCOLA MAIS ANTIGA DA BORGONHA? - A Maison Champy é a vinícola mais antiga da Borgonha com uma história de mais de 300 anos, fundada em 1720. A vinícola foi reconhecida pela UNESCO como um monumento histórico, projetado pelo famoso arquiteto - Gustave Eiffel. A Maison Champy possui vinhedos nas regiões mais famosas da Borgonha, incluindo Corton Charlemagne Grand Cru, Clos de Bully em Pernand-Vergelessess e Beaune 1er Cru Aux Cras, incluindo vários vinhedos cultivados organicamente. Foi na Maison Champy que o famoso cientista Louis Pasteur montou um laboratório e desenvolveu o método da Pasteurização. Os vinhos da Maison Champy são importados para o Brasil pela World Wine.
♦ QUAL É O VINHEDO MAIS FAMOSO DA BORGONHA? - A história do vinhedo do Romanée-Conti na Borgonha, remonta ao século XIII. Em 1232 a vinha era propriedade do Mosteiro de Saint-Vivant, em Vosne, que na época era o maior proprietário de terras da região. Pensa-se que as vinhas já foram cultivadas pelos romanos antes disso, dando-lhes o nome de “Romanée”. A vinha chamava-se "Cru de Clos" sob a administração do Mosteiro, e era considerada uma das melhores parcelas da região. Nesta altura, a vinha tinha apenas uma fração do tamanho que tem agora.
Em 1600 a família Croonembourge comprou o vinhedo e expandiu-o com a compra do vinhedo de La Tâche. Foi em 1760 que Louis François, o Príncipe Bourbon de Conti, comprou o vinhedo e o rebatizou de Romanée-Conti. Ele se recusava a compartilhar seu vinho até mesmo com amigos próximos e familiares. Depois da Revolução Francesa a vinha foi declarada propriedade nacional e mudou de mãos várias vezes. Em 1869 a família Duvault-Blochet comprou o vinhedo e acrescentou outros vinhedos, incluindo La Tâche, Richebourg e Echézeaux. Foi em 1953 que Aubert de Villaine assumiu a propriedade de seu pai, e em 1992, Henri-Frederic Roch assumiu parte na sociedade, após a expulsão de sua tia Lalou Bize-Leroy. Hoje, o vinhedo pertence e é administrado por Aubert de Villaine e Henri-Frederic Roch. O vinhedo é conhecido por produzir alguns dos vinhos mais caros do mundo.
Combine isto com a história e o prestígio desta vinícola e poderá imaginar porque é que o vinho é tão procurado. Infelizmente, o Domaine de la Romanée-Conti produz apenas 1.100 caixas de 6 garrafas de vinho por ano (em média), elevando a demanda a níveis astronômicos.
O Domaine de la Romanée-Conti já estabeleceu duas vezes o recorde dos vinhos mais caros vendidos em leilão. Duas garrafas da safra de 1945 (uma safra especialmente limitada, por razões óbvias do final da Segunda Grande Guerra) foram vendidas por US$ 496 mil e US$ 558 mil em 2018. Mesmo as novas safras custarão um bom valor. O “mais barato”, o Echézeaux, custará mais de US$ 2.500. O famoso Romanée-Conti custa pouco mais de US$ 21 mil a garrafa.
Como identificar uma falsificação: o vinho do Domaine de la Romanée-Conti é um dos mais falsificados do mundo, pois tem um preço incrivelmente alto. Felizmente, não é difícil identificar uma falsificação com uma pequena ajuda da história. A vinícola usou uma variedade de rótulos, garrafas, números de série e importadores diferentes ao longo dos anos. Antes de comprar uma garrafa, certifique-se de que todos os detalhes do rótulo e da garrafa sejam historicamente precisos. Por exemplo, certas safras de La Tâche apresentam a grafia do vinho com acento circunflexo (^) e outras não. Detalhes como esse podem ser uma revelação inoperante. Mas você precisa estudar a safra. Infelizmente, as falsificações só se tornarão mais difíceis de reconhecer agora que a procura de vinho da RDC está crescendo entre os ricos compradores na Ásia. Se você procura uma safra rara, vale a pena consultar um especialista antes de comprar.
♦ CLOS DE VOUGEOT E A CONFRARIA DOS CAVALEIROS DO TASTE-VIN – Clos de Vougeot, também conhecido como Clos Vougeot, é um vinhedo fechado por um muro (um clos), na Borgonha, e uma Denominação de Origem Contrôlée (AOC) para o vinho tinto deste vinhedo. Recebeu o nome do rio Vouge, que na verdade é apenas um riacho que separa a aldeia de Vougeot da aldeia de Chambolle-Musigny. Com 50,6 hectares Clos de Vougeot é o maior vinhedo da Côte de Nuits com direito à designação Grand Cru, enquanto Corton na Côte de Beaune é o maior Grand Cru da Borgonha como um todo.
O vinhedo Clos de Vougeot foi criado pelos monges cistercienses da Abadia de Cîteaux, abadia-mãe da ordem. Os terrenos que constituem a vinha foram adquiridos pelos Cistercienses, ou a eles doados, entre o século XII e o início do século XIV. A vinha inicial consistia em doações em 1109 a 1115. A vinha estava limitada por um muro construído em torno dela, no ano de 1336 e serviu como o principal vinhedo dos cistercienses. A ordem cisterciense manteve-se como única proprietária do vinhedo durante sete séculos, até 1789, quando, durante a Revolução Francesa, o local foi tomado como “bem nacional”.
O Château do Clos de Vougeot, situado no interior do muro, foi acrescentado em 1551 através da reconstrução e ampliação de uma pequena capela e de alguns outros edifícios anteriormente existentes no local.
A Confrérie des Chevaliers du Tastevin (Confraria dos Cavaleiros de Tastevin) é uma tradicional confraria de vinhos de Borgonha, na França, fundada em 1934 para a valorização dos vinhos locais, manutenção e promoção das tradições da região e sua gastronomia. Desde 1945, este edifício serviu como sede da Confraria. Oficialmente, a Confraria dos Cavaleiros do Tastevin é um clube privado, com cerca de 12 mil membros oriundos dos mais diversos países (inclusive vários do Brasil). O site da ordem informa que “não consagra um novo membro apenas pelo seu sucesso mundano. A Confraria aprecia o mérito e o talento, honrando o seu esforço pessoal, sua inteligência científica e seu amor pela França, o seu respeito e ações em prol dos valores humanos”.
Os solos do Clos de Vougeot podem ser separados em três níveis em função da declividade do terreno. Os que produzem os melhores vinhos são os que circundam o Chateau no canto superior. Os solos aqui são calcários leves e pedregosos sobre calcário oolítico, com boa drenagem. Esta parte do vinhedo faz fronteira com os vinhedos Grand Cru Musigny e Grands Échezeaux.
Os solos da parte central do vinhedo são constituídos por calcário mais macio com argila e algum cascalho, e drenagem moderada. A maioria dos outros vinhedos da Côte de Nuits situados neste nível da encosta são classificados como Premier Cru, mas uma parte do Grand Cru Échezeaux faz fronteira com a parte central do Clos de Vougeot.
A parte inferior da vinha, situada a nascente e junto da N74, estrada principal da zona, é constituída por argila aluvial rica em húmus e é quase plana, com má drenagem. Esta parte da vinha faz fronteira com vinhas de nível de aldeia no Sul e parcialmente no Leste, principalmente vinhas de nível regional no Leste, do outro lado da N74, e algumas vinhas Vougeot Premier Cru no Norte.
Tanto a heterogeneidade geológica do Clos de Vougeot como a quantidade e variedade de pequenos proprietários de vinhas dentro do muro (há cerca de 86 proprietários, com área média de 0,6 hectares cada um, produzindo 250 caixas de vinhos nas grandes safras), contribuem para tornar os vinhos produzidos sob a designação Clos de Vougeot AOC muito variáveis em estilo e qualidade. Ao todo, o vinhedo produz cerca de 17 mil caixas de vinhos finos de qualidade clássica e infelizmente alguns vinhos medíocres, em geral da parte baixa do vinhedo. A dica é preferir comprar os rótulos da parte média para a mais alta do vinhedo de forma geral.
Os vinhos da parte “baixa” (a inclinação é de apenas 3 a 4 graus) do vinhedo costumam ser os mais criticados e, por isso, há quem questione o fato de todo o vinhedo ser classificado como Grand Cru. No entanto, há produtores que defendem esses vinhos, dizendo que, em anos mais secos, eles são melhores que os da parte superior.
O vinho do Clos de Vougeot ganhou notoriedade quando foi apresentado no filme “A Festa de Babette”. No filme, o vinho da safra 1846 é servido durante o jantar, cuja festa se passa em 1885, o que já demonstrava a grande capacidade de envelhecimento deste vinho.
♦ A UVA TINTA EMBLEMA DA BORGONHA – A Pinot Noir é uma das uvas mais antigas, cultivada há mais de 2 mil anos. Sua origem é a região da Borgonha, no leste da França. Há indicações que comprovam seu cultivo nesta região desde o século 4 d.C. A família das Pinots (Pinot Noir, Pinot Blanc, Pinot Gris, Pinot Meunier), que compartilham o mesmo DNA, tem como característica sofrer facilmente mutações, e geneticamente se adaptar a novos terroirs. Isso para os vinhos nem sempre é bom, pois o sabor da Pinot Noir muda significativamente conforme o local onde ela é cultivada, gerando grandes vinhos ou vinhos medíocres.
Poucas castas têm sua imagem e qualidade tão ligadas a uma região como a Pinot Noir à Borgonha. Os borgonhas tintos podem ser fechados quando jovens, mas alcançam uma complexidade incomparável depois de alguns anos. A Pinot Noir é uma variedade que tem alta acidez, característica essencial para dar frescor à bebida e para que o rótulo passe por barrica de carvalho e envelheça bem na garrafa.
Apesar de seu manejo ser difícil, por ser frágil e suscetível a geadas na primavera e fungos, é cultivada na Borgonha, onde ganha características diferentes de acordo com o terroir.
Pela fama de seus vinhos, acabou sendo plantada em outras regiões no Novo e Velho Mundo. No clima frio, se destacam aromas de mirtilo, já em climas quentes, notas de ameixa-preta são mais comuns. No Chile e Argentina, onde também está disseminada, pode ser encontrados perfumes de framboesa e cravo.
O vinho da Pinot Noir do Velho Mundo é geralmente mais delicado, ácido e terroso. Um dos principais fatores para isto é o clima: no Velho Mundo, a Pinot Noir é plantada principalmente em regiões de clima frio como Borgonha, Champagne, Alemanha, agora Inglaterra e norte da Itália, enquanto no Novo Mundo ela é plantada em regiões mais quentes como Califórnia, Austrália, norte da Nova Zelândia, Chile e Argentina. Claro que em alguns lugares a altitude desempenha um papel enorme na retenção da acidez nas uvas.
Outro fato importante que diferencia Pinots do Novo e Velho Mundo é a levedura escolhida para a fermentação: os produtores do Velho Mundo usam principalmente leveduras naturais ou selvagens, que dão aos vinhos um toque terroso e uma complexidade mais profunda. Em comparação, a maioria dos produtores de Pinot Noir do Novo Mundo usa levedura selecionada, que produz vinhos frutados e de sabor mais limpo, e o resultado será um estilo completamente diferente. Por exemplo, na Borgonha, muitos produtores de vinho escolhem fermentar com cachos de uvas inteiras para aumentar a estrutura tânica de seus vinhos. Esse esforço pode resultar em amargor no início, mas resulta em vinhos que envelhecem por até mais de 20 anos na garrafa.
Além disto, os produtores de vinho do Velho Mundo geralmente não usam tanta influência de carvalho quanto no Novo Mundo. Ou o vinho passa menos tempo em barris de carvalho ou esses barris já são usados 2 ou 3 vezes antes de o vinho maturar neles. Os vinhos do Novo Mundo tendem a ser envelhecidos em carvalho (francês e às vezes americano), o que dá aos vinhos sabores adicionais, como baunilha e especiarias de panificação.
Então, gostou de conhecer um pouco mais sobre o Vinho da Borgonha e sobre a Pinot Noir? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
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