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  • Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“MARIA ANTONIETA E LUIS XVI E SEUS VINHOS – PARTE 2”

O orçamento anual da "Mesa do Rei", que chegava na época a 7 milhões de francos, incluía vários tipos de compras: primeiro, com o fornecimento de vinho para a mesa real - Champagnes, Borgonhas brancos e tintos, vinhos do Reno e alguns vinhos do Rhône como Hermitage e Côte-Rôtie.

Também são mencionados licores, Rivesaltes, vinho de Chipre e Málaga. Para o vinho destinado a oficiais e mesas secundárias, encontramos principalmente vinho Ile de France feito de Gamay, vinhos de Orleans, ou tintos escuros cuja potência e cheiros almiscarados atraíam os criados. Certamente cada região vinícola era capaz de provar que em algum momento foi capaz de abastecer o Palácio de Versalhes com vinho.


Coroado rei aos 19 anos, Luis XVI fez várias tentativas de reformar a França, de acordo com os ideais iluministas. Estes incluíram esforços para abolir a servidão e aumentar a tolerância em relação aos protestantes. A nobreza francesa reagiu com hostilidade às reformas propostas, e se opôs com sucesso a sua implementação. Em seguida ocorreu o aumento do descontentamento entre as pessoas comuns. Em 1776, Luís XVI apoiou financeira e ativamente os colonos norte-americanos, que buscavam sua independência da Grã-Bretanha, que foi realizada no Tratado de Paris de 1783.


Em agosto de 1786, Luis XVI foi informado por seu Ministro das Finanças Calonne sobre o colapso financeiro iminente da coroa. Ele apresentou um plano de reformas ao rei que incluía uma renovação do sistema tributário para eliminar as isenções do clero e da nobreza. A melhor fonte de receita tributária à coroa era o imposto sobre terra, do qual a Igreja Católica, a maior proprietária de terras da França, estava isenta. Além do mais, a maioria dos nobres não pagava qualquer imposto desse tipo. Evidente que nem a Igreja e nem os nobres apoiaram o Plano de Reformas.


O investimento feito na Independência Americana com a contratação de empréstimos internacionais, mais a dívida e crise financeira que vieram em seguida contribuíram para a impopularidade de Luís XVI, que culminou no Estado Geral de 1789. O descontentamento entre os membros das classes média e baixa da França resultou na oposição à aristocracia francesa e à monarquia absoluta, das quais Luís e a rainha Maria Antonieta, eram vistos como representantes.


De setembro de 1788 a dezembro de 1789, uma crise de pão havia minado a estabilidade social e policial do país. A escassez do alimento resultou em parte do mau tempo e das péssimas colheitas entre 1787 e 1788, seguido pelo inverno de 1788-1789. A falta de alimento para o povo pesava sobre Rei e há uma rica fonte de informações sobre a condição social da França na véspera da Revolução. Elas destacam a urgente necessidade de reformas nos privilégios do clero e o absolutismo da monarquia; e o povo ainda reconhecia a fé católica romana e, longe de criticar o seu domínio, ainda a via como uma tradição bem como a manutenção da lealdade à monarquia.


Em 1789, a tomada da Bastilha, durante os distúrbios em Paris, marcou o início da Revolução Francesa. Na noite do dia 20 para o 21 de junho de 1791, uma berlinda – pequena carruagem de 4 rodas, vidraças laterais e suspensa por molas – pesadamente carregada se afasta de Paris. A bordo estão o Rei Luís XVI, a rainha Maria Antonieta e seus dois filhos, mais Madame Elisabeth, irmã do rei, e a governanta das crianças.


Onze meses antes, o rei e seu povo celebravam juntos a Festa da Federação – comemorativa do primeiro aniversário da Queda da Bastilha, episódio considerado como ponto de partida da Revolução Francesa, que parecia ter se encerrado e a monarquia constitucional bem instalada.

A indecisão e conservadorismo de Luís XVI, levaram ao povo da França a vê-lo como um símbolo da tirania, e sua popularidade se deteriorou progressivamente. Sua credibilidade foi extremamente comprometida. A abolição da monarquia e a instauração da república tornaram-se possibilidades cada vez maiores.


Em 23 de junho de manhã, a berlinda retoma o caminho para Paris, escoltada por três deputados. Entra na capital dois dias depois, em meio a um silêncio fúnebre, os curiosos sendo ordenados de não pronunciar uma palavra sequer.


O rei foi levado de volta ao palácio real das Tulherias e colocado sob “vigilância do povo”. Tem todos os seus poderes provisoriamente suspensos. Por conveniência, a Assembleia qualifica a peripécia de Varennes como “sublevação” e não “fuga”. A confiança entre a monarquia e a Revolução estava irreversivelmente quebrada, ainda mais que se suspeitava de um pacto do soberano com o estrangeiro, ou seja, crime de traição à pátria. Os republicanos iriam doravante alçar sua voz em favor da causa da República. A monarquia seria finalmente derrocada pelas manifestações de 10 de agosto de 1792.


Em 21 de janeiro de 1793, um domingo pela manhã, Luís XVI, rei da França, foi levado à guilhotina erguida na Place de la Revolution (hoje Place de la Concorde), em Paris, onde foi decapitado. Estava em curso, então, a Revolução Francesa que, após a execução do rei, entraria em sua fase mais dramática e violenta chamada de Terror.


Depois de inicialmente ser considerado tanto um traidor como um mártir, historiadores franceses têm adotado uma visão geral diferente de sua personalidade e papel como rei, descrevendo-o como um homem honesto impulsionado por boas intenções, mas que não estava à altura da tarefa hercúlea que teria sido a profunda reforma da monarquia francesa. Luís XVI não gostava da pompa e desejava que o serviço em sua corte fosse "reduzido ao que era absolutamente necessário". Cargos foram abolidos na década de 1780. Cerca de um terço daqueles que existiam em 1750 desapareceram durante o seu reinado.


Maria Antonieta Habsburgo Lorena, foi decapitada a 16 de outubro de 1793, na mesma guilhotina instalada Praça da Concórdia, onde enfrentou com destemor a insolência dos juízes e a morte. Subiu as escadas do cadafalso sem a ajuda de ninguém, apesar de ter as mãos amarradas por trás. Perdeu no trajeto um dos sapatos, hoje guardado no Museu de Belas Artes de Caen, na região da Normandia. Mas seguiu em frente. A lenda diz que aceitou calçar o sapato do carrasco Charles-Henri Sanson, que no exercício do ofício, tirou a vida de quase 3.000 pessoas.


As últimas palavras de Maria Antonieta teriam sido: “Senhor, eu imploro seu perdão”. Portanto, dirigiu-se aos céus, não à multidão, como fizera nove meses antes seu marido, ao ser guilhotinado pelo mesmo carrasco. Sanson pegou a cabeça decepada de Maria Antonieta pelos últimos fios de cabelo – os outros foram cortados previamente e incinerados, para não virarem relíquias dos monarquistas – e a exibiu à multidão, que gritou em coro: “Viva a República! Viva a Liberdade!”


Horas antes da rainha ser retirada da Prisão da Conciergerie, situada no andar térreo do antigo Hotel de Ville, e levada em carruagem ao cadafalso, uma mulher chamada Rosalie Lamorlière, empregada da família do carcereiro, preparou-lhe o último prato da vida. Era uma sopa de galinha com vermicelli, um tipo de spaghetti. Obviamente, a rainha estava abalada, porém serena. Na verdade, Maria Antonieta se limitou a tomar algumas colheradas do caldo. Mal tocou nos fios da massa. Só faltava terem usado a taça seio, peça em porcelana fabricada pela Real Fábrica de Porcelana de Sèvres, cuja produção foi interrompida pela Revolução Francesa e ressurgiu como empresa nacional sob Napoleão Bonaparte.

A lenda – mais uma – sustenta que Maria Antonieta a mandou fazer no formato de seu seio. A taça de boca larga e haste baixa, ricamente trabalhada, era de fato utilizada na corte da rainha e de Luís XVI. Mas não há certeza de que foi moldada no seio de Maria Antonieta. Caso a história não seja verdadeira, pelo menos é muito boa.


Maria Antonieta foi guilhotinada na Place de La Concorde sob o olhar de milhares de populares e enterrada no cemitério La Madeleine, que foi extinto em 1794 (ficava atrás da igreja de mesmo nome). Antes de ser enterrada em uma vala comum sem identificação, ela teve seu rosto moldado em cera por Marie Grosholtz – mais tarde conhecida como Madame Tussaud (a mesma que fundou o museu de cera em Londres). Em 1815, após a queda de Napoleão Bonaparte e com a Restauração Bourbon, os corpos de Maria Antonieta e Luís XVI foram exumados e enterrados na Basílica de St. Denis. Seus restos mortais se encontram lá até os dias de hoje.


♦ Como era o Champagne na época de Maria Antonieta – A aristocracia francesa já bebia champagne quando Maria Antonieta assumiu o trono junto com Luís XVI. Luiz XIV já era um grande bebedor do vinho com borbulhas. Por volta de 1740, a moda do champagne acabou repentinamente. Produtores e distribuidores inflaram o mercado de espumantes, encharcando os salões nobres com bebida de má qualidade, em busca de dinheiro fácil. Isso quebrou as pernas dos vinicultores da Champagne, cuja reputação acabou abalada.


Foi na realidade Jeanne Antoinette Poisson, a Madame de Pompadour (1721-1764), que entrou para a história como a poderosa e influente amante do rei Luís XV que resgatou o hábito de beber champagne de qualidade nas festas da nobreza. No século XVIII, ela elevou o hábito de tomar champagne na corte francesa de Luís XV ao delírio.


Era uma influenciadora em vários sentidos que gerava moda por onde passava. Ajudou a divulgar o rococó, patrocinou escultores e pintores e mantinha a própria prensa em constante movimento, imprimindo livros para sua biblioteca pessoal.


Os ingleses também eram grandes apreciadores de Champagne e preocupados com a fragilidade das garrafas que se quebravam com facilidade por conta da pressão interna gerada pelo gás originado da fermentação do vinho, produziram garrafas mais resistentes em seus fornos alimentados com carvão do que os fornos franceses, alimentados com madeira. Eles também resgataram o uso romano de rolhas - no tempo de Dom Pérignon, usavam-se trapos encharcados de óleo para selar as garrafas.


Mas foi a relação de Pompadour com um comerciante da Champagne que selou a entrada da bebida nas altas rodas da aristocracia francesa e, consequentemente, a sua associação a festas e sofisticação. Isso sem contar o pequeno detalhe que a família de Pompadour tinha lucrativas terras na Champagne.


Graças a ela, Claude Möet, fez com que seu vinho fluísse cada vez mais em Versalhes. A Möet et Cie surgiu em 1743 e virou Möet et Chandon em 1833. Em mais de 200 anos, tornou-se uma marca poderosa de luxo. Em 2018, homenageou Pompadour com uma edição limitada de champanhe rosé que faz uma releitura contemporânea de um baile de máscaras na corte.


Por outro lado, sabemos que Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin (1777-1866), a famosa Veuve Clicquot assumiu a vinícola quando da morte do marido em 1805 e, mesmo sem experiência com negócios e sem dominar a produção do vinho, transformou a indústria com uma marca que evidenciava a sua condição de mulher na sociedade francesa do começo do século retrasado. Foi ela que desenvolveu técnicas essenciais no chamado método tradicional (ou champenoise). É o caso do remuage, em que as garrafas ficam em um suporte, inclinadas de cabeça para baixo para criar um vinho límpido, sem resíduos.


Durante o auge do consumo do Champagne pela nobreza francesa, o vinho possuía altos teores de açúcar residual, mais de 150 gramas por garrafa, ou seja, ele costumava ser extremamente doce. Foi somente por volta de 1850 que os Champanhes se tornaram "Brut" (secos), com muito menos açúcar, para adaptar o vinho ao gosto inglês, que era o principal mercado comprador.


Ou seja, o champagne que Maria Antonieta e Luís XVI beberam era doce, e certamente teria resíduos da sua vinificação. Muito diferente do champagne largamente consumido na atualidade.


Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet e minhas considerações)

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