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Foto do escritorMarcio Oliveira - Vinoticias

“O EFEITO BORBOLETA E O VINHO”

O filme de Ashton Kutcher de 2004, O Efeito Borboleta, chamava a atenção para que eventos de pequena escala podem gerar consequências imprevisíveis.

O Efeito Borboleta foi introduzido por Edward Lorenz no contexto da previsibilidade atmosférica. Ele estava falando de asas de gaivota no artigo – não eram borboletas. O nome “Efeito Borboleta” foi proposto como um título para uma palestra que Lorenz deu logo após a publicação de seu trabalho em 1969.


O Efeito Borboleta é real, no sentido de que pequenas mudanças em pequenas escalas podem mudar o clima para sempre – mas é duvidoso que uma borboleta possa causar qualquer tipo de mudança significativa no clima. Como uma imagem que captura a imaginação, funciona bem – não é o exemplo perfeito, mas é ilustrativo. Coisas um pouco maiores – um avião, por exemplo, ou uma nuvem cumulus – podem ter um efeito final no clima em qualquer lugar.


A presença ou ausência de uma nuvem pode alterar as circulações ao redor da nuvem, que, à medida que mudam, alteram circulações de tamanho um pouco maior, que depois mudam circulações de tamanho ainda maior, então surge esse efeito cascata de influência de alto nível deste começo em pequena escala.


Dentro desta ideia do efeito borboleta, há uma hipótese que o eixo de rotação da Terra esteja mudando por conta do volume de concreto que tem sido usado nas contrições na China, e os efeitos começam a ser sentidos no clima mundo afora.


No hemisfério norte, o início da primavera coincide com a época de maior risco de geadas. Os viticultores observam as condições ambientais e o risco elevado de geadas que podem provocar grandes danos aos brotos tenros da videira.


E neste ano, infelizmente, a primavera mostrou seu lado mais cruel nos vinhedos de alguns países da Europa, notadamente França e Norte da Itália.


As imagens de fogareiros acesos noite adentro nos vinhedos da Borgonha podem ser lindas, mas a realidade é triste. As geadas primaveris devastaram os vinhedos de praticamente toda a região de Chablis, algumas denominações da Borgonha, do Languedoc, Champagne, Bordeaux e na Itália, no Vêneto e no Piemonte, provocando danos nas áreas afetadas.


Durante o repouso da videira o frio intenso é benéfico, pois supre a demanda de horas de frio das cultivares, garantindo a uniformidade e o percentual de brotação na primavera. Contudo, nestas regiões também é frequente a ocorrência de geadas no final do inverno e início da primavera, quando as plantas já iniciaram a brotação. Essa situação de risco torna-se ainda mais severa em cultivares de baixa exigência de frio (brotação precoce) e em anos que ocorrem dias quentes no final de março, estimulando a brotação e elevando a suscetibilidade aos danos por congelamento nas geadas.


A videira é uma planta sensível às geadas a partir do estádio de ponta verde (brotação), pois os tecidos jovens, devido ao nível de hidratação, são danificados pelo congelamento interno de modo irreversível.


O fenômeno da geada acontece quando a temperatura do ar no nível do solo desce a menos de zero grau centígrados. Nesse momento, começa o processo de congelamento dos tecidos da planta.


Após o repouso invernal, a videira começa a se mobilizar para produzir a brotação e começar o desenvolvimento vegetativo do vinhedo. É precisamente nesses primeiros estágios de crescimento, quando a planta está mais exposta as intempéries e em pleno desenvolvimento, que o risco da geada é mais alto. Algumas horas de geada no começo da primavera podem provocar a perda de 50% a 100% de uma futura colheita. As gemas que darão lugar aos cachos são os órgãos afetados pelas geadas, com um efeito devastador, não só afetando a safras, bem como podendo comprometer os anos seguintes em que a videira precisará se recuperar.


Nem sempre a planta corre risco, graças à quantidade de gemas que brotarão posteriormente, mas a probabilidade de frutos dessas gemas é muito baixa. Após a geada, os danos são visíveis de forma clara em um ou dois dias. Geralmente os brotos atingidos pela geada começam a apresentar um aspecto pardo, como se estivessem queimados, devido ao congelamento da água na célula; e ao descongelar rapidamente, a água sai das células deixando-as desidratadas e provocando esse aspecto de queimadura que leva à morte dos tecidos.


OS TIPOS DE GEADAS:


♦ GEADAS BRANCAS – elas acontecem por conta de uma queda significativa na temperatura e a quando a umidade ambiente é alta. Isso faz com que a geada cubra a planta, formando uma capa esbranquiçada na superfície. Este tipo de geada nem sempre é comprometedora para o vinhedo.


♦ GEADAS PRETAS – neste caso, a camada branca não aparece sobre a planta, especialmente porque a umidade do ambiente do ambiente é baixa. A geada não forma a camada branca porque não se forma a condensação pelo ar frio. Assim, o frio seco incide diretamente na estrutura vascular de cada planta, destruindo o tecido interno e aportando a cor escura, parda, que precede a destruição dos órgãos afetados. Os efeitos deste tipo de geada são muito fortes sobre as plantas.


♦ GEADAS POR ADVECÇÃO - esse tipo de geada vai se formando pela entrada de grandes massas de ar frio, muito espessas, podendo chegar a chegar a ter dois quilômetros. Costumam ser geradas por ventos com velocidades superiores a 15-20 quilômetros por hora, tratando-se de geadas com grande poder de destruição para os vinhedos e cultivos em geral.


Entre as peculiaridades está a inexistência de inversão térmica, que se produz quando as temperaturas vão diminuindo à medida que aumenta a altitude.


AS SOLUÇÕES PARA PROTEGER AS VINHAS DAS GEADAS - Uma das soluções para combater as geadas nas vinhas: borrifar ou "nebulizar" as vinhas durante o alerta de geadas. Isto pode ser feito com o uso de Turbinas eólicas, helicópteros, aquecedores/fogareiros.


♦ TURBINAS EÓLICAS FIXAS ANTI-CONGELAMENTO - Instaladas perenemente na vinha, funcionam com motor e protegem parcelas de 5 ha. O princípio de seu uso busca padronizar as temperaturas misturando a camada de ar quente da altitude e a camada de ar frio do solo. É eficaz até -4°C. Vantagens: proteção mais ampla, principalmente em redes. Uma vez instalado, comissionamento simples. Desvantagens: poluição visual e sonora e problemas de manutenção. Ineficaz em caso de vento superior a 10km / he contra geadas "radiativas" ou negras. Custo: investimento de € 40.000 para 5ha, ou seja, € 800 / ha + € 250 / ha de custos operacionais. Existem modelos dobráveis ​​com preço de € 47.000.


♦ TURBINAS DE VENTO MÓVEIS – Podem ser instaladas em abril e ligadas antes do amanhecer, dependendo dos alertas. O princípio de seu uso é o mesmo que as torres fixas, mas para proteger apenas 3ha. Eficaz até -3°C. Vantagens: menos caro do que uma turbina eólica estacionária e menos poluição visual. Desvantagens: Ineficaz em caso de vento superior a 8km / he contra geada "radiativa" ou geada negra. Precisa armazená-las depois do uso. Custo: investimento de € 30.000 para 3ha, ou seja, € 1.000 / ha + € 100 / ha de custos operacionais.


♦ HELICÓPTEROS - De plantão em caso de alerta de geada, são acionados em caso de ameaça a cada 10 a 20 minutos acima das parcelas identificadas, pouco antes do amanhecer. Eles foram usados ​​em particular em Montlouis-sur-Loire em abril de 2017 e novamente agora em 2021. O princípio: o helicóptero abaixa a camada de ar quente em altitude até o solo, para ganhar 3 a 4,5°C. Vantagens: um helicóptero pode proteger até 25ha. O uso só é feito quando necessário, portanto, nenhuma poluição visual permanente. Barato. Desvantagens: poluição sonora e requer muita preparação com pilotos treinados. As autorizações de voo não são dadas até o amanhecer, o que pode ser tarde demais. Custo: € 7.500 por 25ha, para mobilizar um helicóptero uma manhã, ou € 900 / ha por 3 manhãs de proteção.


♦ LONAS - Elas são instaladas nas vinhas em abril e até meados de maio. Vantagens: proteção eficaz contra o gelo. Desvantagens: Proibido nas AOC desde 2003, porque "modifica as características do ambiente". Complicado para implantar. Ineficaz ou mesmo agravante em caso de geadas negras. Custo: € 1,20 / m2 de lona, ​​+ custos de mão de obra.


♦ CONVECTORES DE AR ​​QUENTE - Também chamados de "Frost Buster" (versão rebocada) e "Frost Guard" (versão fixa), esses aquecedores funcionam a gás. O princípio: eles difundem o ar quente e protegem aproximadamente 0,5 ha até -3°C. Vantagens: eficaz contra todos os tipos de geadas e adequado para parcelas com quebra de paisagem. Desvantagens: ruído e eficiência reduzida em vento> 10km / h. Custo: investimento € 7.000, ou seja, € 1.400 / ha + custos de funcionamento € 300 / ha. Versão "FrostBuster rebocada": investimento € 18.000.


♦ SPRINKLING - Um sistema permanente de "nebulização" das vinhas durante o alerta de geada. O princípio: transformar água em gelo produz energia e, portanto, calor. Vantagens: eficaz contra todos os tipos de geadas, até -7°C. Desvantagens: você precisa de um riacho próximo (e permissão para bombear) e solo capaz de absorvê-lo. Custo: investimento entre € 8.000 e € 140.000 / ha, ou seja, € 1.000 / ha + custos operacionais € 350 / ha.


♦ FOGAREIROS BAIXOS OU VELAS – Colocam-se velas (ou toras calóricas) entre as fileiras de videiras e elas ficam acesa antes do amanhecer por várias horas. O princípio: aquecimento do ar, efetivo até -4 ° C. São necessárias 400 velas para proteger 1ha por 8h. Vantagens: adequado para pequenas parcelas. Desvantagens: é preciso muita gente para implantar as velas (20 por ha). Custo elevado em caso de geadas frequentes. Questão de armazenamento. Custo: investimento € 2.500 / ha + custos trabalhistas.


AVALIAÇÃO DOS DANOS PÓS GEADA - O dano se refere à morte de órgãos ou da planta, enquanto a lesão se refere aos impactos sobre partes de órgãos ou da planta. Quando os brotos de uma videira são danificados (mortos) por uma geada, a videira em si está sofrendo uma injúria ou lesão.

Quanto maior a proporção de brotos danificados, maior será a lesão e os impactos nesta videira. Considerando este enfoque, há duas etapas de análise de danos: a primeira análise deve ser feita nas inflorescências ou no potencial de produção do ciclo atual. Os danos variam muito em função da cultivar, do estádio de desenvolvimento da planta, da intensidade da geada, do sistema de condução, da localização no vinhedo/relevo, dentre outros fatores. A segunda etapa da análise é sobre a garantia da produção do ciclo subsequente, recuperando as plantas que foram danificadas com maior intensidade.


Para uma avaliação adequada da intensidade do dano, é conveniente esperar um período mínimo de 5 dias após a geada, pois algumas partes da planta que aparentemente não sofreram danos também podem estar comprometidas. Neste período, é importante manter as pulverizações com fungicidas no vinhedo, visando manter a sanidade das plantas não danificadas pela geada. Passado este prazo inicial, o produtor deve proceder o levantamento de danos no vinhedo por setores, levando em consideração a cultivar, posição no relevo (inclinação, elevação), proximidade de barreiras que impeçam o fluxo e o direcionamento do ar frio no vinhedo, variações de solo quanto ao armazenamento de água e fertilidade.


Com base nestas variáveis, define-se as zonas mais representativas e contrastantes de sintomas para se conduzir a análise de danos sobre a brotação. Nesta análise será caracterizado o nível de impacto da geada em cada setor do vinhedo, definindo-se as intervenções e a intensidade de manejo que será adotado nas áreas afetadas.


Na sequência, destacam-se algumas das principais ações que podem ser executadas nas áreas comprometidas pela geada.


♦ REPODA - Na videira, a primeira brotação é a mais fértil, oriunda dos cones primários nas gemas compostas. Quando ocorre algum dano nestas brotações primárias, as plantas ativam o crescimento de novos brotos a partir dos cones secundários ou de gemas basais que não tinham brotado. Portanto, o impacto na produção após uma geada tardia é proporcional ao número de brotações primárias que morrem, ao número de brotações secundárias que brotarão e à fertilidade destas brotações secundárias.


No geral, o potencial de compensação da produtividade pelas brotações de gemas secundárias é influenciado pelas condições de cultivo do ciclo anterior e está intimamente associado à cultivar. Ou seja, todas as ações que podem favorecer a fertilidade de gemas, como adubação equilibrada, controle de vigor e de excesso de produção, maior exposição solar de gemas e controle fitossanitário adequado podem garantir uma produtividade em áreas com maior risco de danos por geada tardia. A escolha de genótipos (copa e porta-enxertos) que proporcionem maior fertilidade de gemas para estes locais também se apresenta como uma boa estratégia preventiva.


Inicialmente, todas as partes danificadas são retiradas da planta, identificando-se os pontos para proceder a repoda. Nos casos mais leves, quando no momento da geada as varas apresentavam apenas a brotação das pontas, pode-se eliminar estas brotações apicais danificadas a fim de forçar a brotação das gemas mistas dormentes nas porções intermediárias-basais do sarmento (ramo). Nos setores em que as plantas já apresentavam maior uniformidade de brotação, deve-se podar o sarmento de ano abaixo da parte brotada/afetada, mantendo-se os brotos que apresentam cachos parcialmente danificados.


Contudo, nos setores em que as novas brotações foram totalmente danificadas, deve-se eliminá-los com uma poda mais drástica, visando estimular a brotação das gemas cegas ou basilares, na base do sarmento de ano, ou a brotação de gemas da madeira velha.


Este procedimento mais drástico da repoda nas plantas comprometidas é essencial para a formação dos sarmentos férteis no ciclo seguinte, pois não se pode garantir a produção no ciclo atual em todas as cultivares. Em plantas de Vitis vinifera, nas quais são preconizadas podas curtas e longas de produção, destaca-se que as gemas basilares não são férteis (brotos sem cachos). Contudo, em cultivares Vitis labrusca ou híbridas, em que se preconiza uma poda curta ou mista, as gemas basilares podem apresentar fertilidade, dependendo do manejo adotado na propriedade, garantindo a produção no ciclo atual e reduzindo o impacto da geada tardia.


Para Douglas Stanford - Professor Associado de Física do Instituto Stanford de Física Teórica, que estuda gravidade quântica, teoria quântica de campos e teoria de cordas, o “efeito borboleta” é real, mas é difícil de detectar. Podemos associar as mudanças climáticas às questões de desmatamento de grandes áreas, ao aquecimento global por conta do uso de combustível fóssil (derivados do petróleo), ao fenômeno de urbanização das populações, ao lixo que vai sendo lançado no mar; em resumo- a ação daninha do homem que age de forma indiscriminada sobre o planeta Terra.


Para entender o “efeito borboleta”, podemos imaginar um experimento com uma máquina do tempo. Você volta no tempo e muda uma pequena coisa inconsequente, como a posição de um único átomo. Então, quando você avança novamente para o presente, praticamente tudo mudou, de uma maneira aleatória, subestimando o quão poderoso seria o rearranjo do presente.


Uma regra prática é que as coisas sobre o presente que seriam fáceis de prever no passado, como quando os monges da Idade Média observavam os vinhedos e podiam imaginar como seriam as safras de seus vinhedos, hoje parecem difíceis de prever, e a solução para os vinhateiros é ficar atentos aos sites de informação sobre o tempo e ligar os fogareiros tentando atenuar os efeitos das geadas.


Neste 2021 os efeitos das geadas serão devastadores e algumas regiões francesas irão amargar com perdas de 50 a 80% da safra, resultando em diminuição dos volumes de vinho disponíveis e certamente num aumento de preços para compensar estas perdas.


Portanto, nada melhor que provisionar as adegas dos vinhos que você mais aprecia!!! Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet, e no Manual da Embrapa Uva e Vinho sobre Geadas)



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