Iniciando o ano de 2022, os amantes do vinho perguntam o que podemos esperar como tendências de consumo da bebida. Não há dúvida que este período de pandemia gerou um aumento no consumo de vinho no Brasil, já que isolados em casa e sem poder aglomerar em reuniões com amigos e familiares, ou mesmo alimentar-se em restaurantes e viajar, muitas pessoas encontraram no vinho uma boa companhia para as horas de isolamento.
No entanto, é importante separar os fatores relacionados à pandemia que impulsionaram o consumo do vinho no Brasil, daqueles que já estavam presentes no nosso mercado. Em outras palavras, é preciso distinguir as tendências estruturais e de longo prazo, daquelas ocasionais e potencialmente de curto prazo. Na medida em que está havendo a abertura para saídas das pessoas das suas casas, fazer viagens, comer em restaurantes, voltar a participar de degustações e feiras de vinho, as tendências irão se consolidando, ou não e poderemos em breve avaliar as que se efetivaram.
● FATORES ESTRUTURAIS PARA O AUMENTO DO CONSUMO NO MERCADO NACIONAL:
♦ Crescimento da Base de Consumidores no Brasil - Pesquisas de rotina da Wine Intelligence apontam que a base de consumidores regulares de vinho no Brasil cresceu em 17 milhões de pessoas na última década. Em 2010, 22 milhões de respondentes declaravam consumir vinho ao menos uma vez por mês. Em 2020 este número subiu para 39 milhões para bebedores regulares.
♦ Crescimento do Comércio Virtual de Vinhos - Os brasileiros foram rápidos em adotar as plataformas digitais para fugir do isolamento durante o período da pandemia. O país já é o quarto maior grupo de usuários no Facebook (130 milhões), o terceiro no Instagram (99 milhões) e o segundo em número de downloads do app Vivino (4 milhões). A popularidade das empresas de e-commerces de vinho que já era alta antes da pandemia, continuou a crescer e explica as potencias que Evino e Wine se tornaram, com a primeira comprando a Grand Cru e a segunda agregando a Cantu. Atualmente o Brasil é o terceiro maior mercado virtual de vinhos no mundo, com mais de 10,6 milhões de compradores – atrás apenas de China e Estados Unidos.
♦ Consumidores Abertos a Provar todos os Estilos de Vinhos - Segundo o relatório Wine Brazil Landscapes 2021, da Wine Intelligence, 70% dos consumidores brasileiros se declaram dispostos a explorar novidades, contra 51% nos Estados Unidos, 47% na China e 43% no Reino unido. Este foi um fator estrutural que ajudou no crescimento do consumo do vinho, no momento em que as opções de lazer ou entretenimento foram limitadas pelo afastamento social. Por outro lado, o crescimento da base de consumidores e estes abertos a provar todos os estilos de vinhos também explica o aumento do consumo de vinhos rosés e com mais açúcar residual.
Novas oportunidades de Consumo - as ocasiões para o consumo de vinho durante a pandemia não se limitaram às ocasiões formais como almoços e jantares. Surgiram novas formas de consumo, como acompanhar lives, degustações virtuais, beber uma taça de vinho para relaxar no fim do dia.
♦ Estes fatores deram margem a algumas tendências: O que esperar dos novos consumidores? O hábito de tomar vinho não está mais centrado na tradição, ostentação, em adultos mais velhos e à almoços ou jantares requintados. Os novos consumidores de vinho são jovens e pessoas em geral que não veem problema em provar o vinho em diferentes, estilos, formatos e tecnologias. O crescimento dos estilos mais acessíveis ao paladar de bebedores iniciantes, com maior teor residual de açúcar, para ocasiões informais. permite imaginar que:
♦ Espumantes e Rosés em alta - De acordo com os profissionais da indústria do vinho, os espumantes representam a melhor oportunidade no mercado da bebida, seguido de perto pelos rosés.
♦ Oportunidade nas embalagens alternativas e econômicas - as embalagens alternativas representam a principal oportunidade de inovação na indústria, impulsionada pela demanda dos consumidores por portabilidade e conveniência. Portanto, há boa perspectiva para vinhos em lata e embalados em “bag-in-box”.
Vinhos em lata são mais simples e leves, feitos para serem consumidos em festas, piqueniques, sem formalidades. Ao contrário dos vinhos engarrafados, o valor de uma latinha é bem mais baixo e permite uma degustação sem compromisso.
No Bag-in-box o vinho fica dentro de um saco plástico inodoro e sem sabor, dentro de uma caixa com uma torneirinha. Desta forma, o vinho que fica dentro do saco não tem contato com o oxigênio, evitando a oxidação do líquido, e fazendo o vinho poder ser bebido ao longo de alguns dias.
Tanto o vinho em lata ou em Bag-in-box, são ideais para festas e para quem não se importa com a tradição de abrir uma garrafa com rolha.
♦ Sustentáveis e orgânicos são uma tendência – Há uma tendência a evitar consumir vinhos com uso exagerado de pesticidas, herbicidas e fungicidas sintéticos nos vinhedos. A tendência valoriza o consumo de vinhos gerados por agriculturas sustentável, orgânica ou biodinâmica, em que os viticultores cuidam do meio ambiente, com menor risco à saúde. Dentre os estilos alternativos, os vinhos produzidos de maneira sustentável são vistos como os mais promissores pela indústria, seguidos bem de perto pelos orgânicos.
No entanto, lendo o artigo de Jancis Robinson desta semana (https://www.jancisrobinson.com/articles/new-years-resolutions-revisited ) talvez o melhor seja entender nesta questão o fato de vinhos com “mínima intervenção humana” serem uma tendência. E quanto a questão sustentabilidade, levar em conta o consumo de água necessário para criar uma taça de vinho (estimado em 120 litros!), a questão dos baixos salários dos agricultores que foram duramente atingidos pela Covid, e o absurdo peso das garrafas que dá a “falsa ideia” de se estar consumindo um vinho de qualidade superior.
- “Uma defesa comum daqueles que percebem as desvantagens das garrafas pesadas é que eles as usam apenas para seus vinhos de topo e usam garrafas mais leves para a maioria de sua produção. Mas essa prática reforça a percepção do consumidor de que vidro pesado é igual a vinho superior, perpetuando assim seu uso”. (palavras da Jancis Robinson).
♦ Poderá haver Escassez de Vinho no Mundo - Após uma considerável alta no consumo de vinhos em 2020 e 2021, há um “risco iminente” de escassez de vinho no mundo todo. O alerta é da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), maior entidade do setor.
De acordo com a organização, o motivo é o mau tempo, que impactou a produção em países como Itália, Espanha e França. Nos países da União Europeia, a queda no volume produzido deve ser de 13% em relação ao ano de 2020. Segundo a associação, a produção da bebida em 2021 foi uma das mais baixas de toda a história.
Os vinicultores que sobreviveram à pandemia em 2020, estão enfrentando um problema muito maior: as alterações climáticas que atingiram as regiões produtoras em 2021.
♦ O Preço do Vinho de Regiões Tradicionais como Borgonha deverá aumentar - As mudanças climáticas trouxeram desafios inesperados para algumas regiões produtoras sobretudo na França, e o resultado será fatal: com safras menores, e com rótulos altamente procurados, os vinhos serão sobre valorizados, o que justifica a tendência a seguir.
♦ Busca por Regiões fora do Radar – apesar do consumo de vinho ter aumentado em volume, a renda média dos trabalhadores diminuiu durante a pandemia. E mesmo com a retomada da economia, alguns efeitos já foram sentidos; o consumidor ajustou o seu gosto ao seu bolso. Além dos países ou regiões com maior tradição, como França, Itália, Espanha e Portugal – no Velho Mundo e Chile, Argentina, Estados Unidos – no Novo Mundo, com altos padrões de excelência, vinhos de qualidade são elaborados atualmente em dezenas de países e centenas de regiões, e grande parte delas são desconhecidos dos consumidores.
Pense em novas regiões na Argentina, Chile, África do Sul ou Estados Unidos, onde muitos produtores quebraram paradigmas e passaram a elaborar vinhos sensacionais, e muitas vezes mais em conta do que os rótulos que antes bebíamos. Na Europa, ainda existe muito a descobrir, lembrando apenas num primeiro momento da Eslovênia, Grécia, Croácia, ou mesmo regiões menos conhecidas de países mais tradicionais, como Jura e Savoia na França, Lazio ou Abruzzo na Itália, Galícia ou Ilhas Canárias na Espanha.
♦ Valorização do Pequeno Produtor e Artesanal - Um dos impactos da Covid foi a piora da distribuição de renda, verificada praticamente em todo o mundo. Se muitas pessoas e pequenas empresas perderam renda nos últimos meses, parte disso foi abocanhado pelos grandes produtores que geram negócios
Comprar vinhos de produtores menores e mais artesanais faz todo sentido para fazer a economia girar mais rápido nesta camada social. Há uma diferença também em termos de qualidade, pense em outros produtos que você consome. Será que o queijo daquele produtor artesanal não dá de dez a zero naquele equivalente industrial que está na gôndola do supermercado?
♦ Valorização de Uvas Autóctones e de Novas Regiões – uma tendência de uma certa forma relacionada às anteriores, é o maior consumo de vinhos feitos a partir de variedades autóctones, que representam um local ou terroir diferenciado? É chegada a hora de provar um Encruzado, Alvarinho ou Loureiro de Portugal, um Chenin Blanc da Africa do Sul, um Savagnin, Poulsard, ou um Trousseau do Jura, na França. Assim como ocorreu na gastronomia, onde cada dia mais se valoriza o ingrediente local, no mundo do vinho a generalização está perdendo espaço.
♦ Menos ostentação, mais pesquisa – A explosão dos comentários sobre vinhos nas mídias sociais fez surgir um grande número de pessoas que fala sobre a bebida. Vinho entretanto, não é ostentação, ou símbolo de status, é uma bebida para ser consumida com amigos e família, e não somente para postar em mídias sociais. Valorize o conteúdo dos comentários, mas sobretudo, valorize seu gosto pessoal. De que adianta comprar aquele vinho que um crítico ou revista especializada indicou se ele está longe do seu gosto ou bolso?
Procure conhecer melhor os vinhos, como eles são elaborados, quem são os seus produtores e como são as regiões onde foram produzidos. Com isto você ganhará conhecimento e liberdade para fugir dos modismos e escolher melhor seus vinhos no futuro. E toda esta informação está disponível na internet, facilitando as pesquisas sem a necessidade de investimento numa biblioteca volumosa.
♦ Tendência ao Crescimento do Enoturismo quando as Viagens estiverem liberadas - segundo os dados mais recentes obtidos nas pesquisas sobre o consumo de vinho, 55% dos que responderam as consultas estariam dispostos a viajar para o exterior uma vez terminadas as restrições ao turismo. Além disto, há várias regiões do Brasil a serem descobertas, uma vez que o consumo de vinho nacional cresceu durante a pandemia. É também uma forma de você se aprofundar no conhecimento da bebida. O efeito será observado no ano de 2022 tanto no consumo internacional como no doméstico.
Desejamos que seu 2022 seja de muitas alegrias, saúde e que não falte vinho em sua taça !!! Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (baseado em artigos disponíveis na internet e minhas considerações).
Comments