“O QUE FAZ UM VINHO SER ESPECIAL?”
- Marcio Oliveira - Vinoticias
- 10 de jun.
- 6 min de leitura
Há bons motivos para questionar a adoração pelo vinho. Mas já pensou em esquecer os rituais e simplesmente apreciar o vinho pelo seu sabor?

Os produtores de vinho geralmente têm muito mais em mente. Alguns deles pensam na tradição e se recusam a seguir as tendências das preferências modernas. Os produtores tradicionalistas de Barolo, por exemplo, se recusam a usar barricas no estilo Bordeaux para amaciar seus vinhos. Alguns deles são apaixonados pela fidelidade à expressão de uma safra específica - mesmo naquelas que as pessoas considerariam safras "ruins". Outros, porém, têm uma visão específica do vinho que desejam produzir, que se dane o gosto do consumidor, ou o que o mercado vai comprar.
Todas essas decisões na condução do vinhedo, na colheita das uvas e depois na vinificação afetarão o sabor do vinho. E ainda há a ação da “Mãe Natureza”, que pode oferecer um clima perfeito para o crescimento das uvas, ou um ano de clima inclemente que resulta em geadas e minimiza a qualidade da safra. Imagine, por exemplo, um Chardonnay que seja resultado de um ano que tenha sido frio e chuvoso, o que em termos de uvas, significaria um vinho com toques vegetais e diluído, em termos do vinho produzido, algo geralmente com acidez acentuada e ralo. Mas o vinho pode desafiar essas expectativas e se apresentar encorpado e mostrar aromas característicos de maçã verde.
Aromas de maçã verde em Chardonnay, em termos de vinho, apontam para uma decisão específica na vinificação - a decisão de não iniciar o que é chamado de fermentação malolática. Também chamada de fermentação secundária, a fermentação malolática é um processo químico pelo qual o ácido málico, naturalmente presente no suco de uva, é convertido em ácido lático. O ácido lático é frequentemente descrito como amanteigado; o ácido málico, como azedo de maçã verde.
Imagine então a situação do enólogo decidindo não iniciar a fermentação malolática. Seria esse o estilo tradicional para este Chardonnay? Ou foi uma decisão baseada na safra ou talvez nas mudanças nas preferências do consumidor?
E quanto ao vinho ser encorpado? Poderia significar que o enólogo esperou muito tempo para colher, tentando atingir a maturação máxima das uvas. Também poderia significar que apenas as uvas mais maduras foram selecionadas manualmente para a produção do vinho. Ou talvez tenha havido um envelhecimento prolongado na levedura após o término da fermentação (frequentemente chamado de envelhecimento sur lie)? Imagine quantas decisões tiveram que ser tomadas até o vinho ser engarrafado.
Com perguntas tão interessantes para o enólogo, o último pensamento que pode vir à mente dele seria a preferência do consumidor. Em princípio, o que ele tinha em mente era fazer o melhor vinho possível com as uvas que foram colhidas.
Mas alguns enólogos poderiam ficar angustiados com decisões importantes: se deveria ou não se afastar da tradição, se deveria deixar as uvas se transformarem em vinho ou esculpi-lo em algo diferente, e se deveria ou não atender às preferências do consumidor em geral. E, devido à variedade dessas decisões, é possível entender o vinho sem compará-lo com preferências que podem muitas das vezes serem passageiras.
Afinal, não se pode esquecer que em matéria de moda, as coisas podem ir e voltar, como se tudo evoluísse em ciclos contínuos, de preferência virtuosos.
O vinho é, em essência, uma peculiaridade social que tem a capacidade de formar memórias agradáveis. Essas lembranças podem então ser guardadas no cofre da memória, para serem consideradas com carinho sempre que a mesma safra se apresentar novamente. Beber vinho é algo que as pessoas adoram fazer. Pode ser visto como um ritual, no qual as pessoas apreciam o que gostam até que seu paladar evolua para abraçar novas profundidades e sabores. Elas podem abrir uma garrafa da mesma maneira, no mesmo horário do dia, ou por um motivo específico; os motivos habituais para o consumo de vinho são infinitos.
O gosto pelo vinho e a preferência pela uva são puramente subjetivos. Então, o que torna um bom vinho e o que define uma tendência vinícola específica? As vinícolas Penfolds, Biondi Santi, Mondavi, Saint-Émilion, Chateau Lafite Rothschild e Montrachet são todos ícones, lendas da produção de vinho. Suas reputações na produção de vinho são incomparáveis, e o nome por si só já eleva o preço em alguns casos.
Em vez de ter um nome renomado para vender um vinho, aqui estão algumas qualidades que tornam um bom vinho excelente e especial:
♦ ALTA QUALIDADE DA UVA - A alta qualidade da uva garante que não haja falhas no processo de vinificação, o que equivale a boas habilidades e conhecimento em vinificação. Ela proporciona um bom aroma e um equilíbrio perfeito entre acidez, taninos e sabor.
Essa qualidade pode ser alcançada com condições perfeitas de cultivo. Além da habilidade do vinicultor, a Mãe Natureza desempenha um papel fundamental. O solo, o clima e a flora (como outras plantas ao redor das uvas, ervas daninhas, leveduras e bactérias) se combinam para criar as condições ideais de cultivo. Há outras considerações:
♦ O POSICIONAMENTO DO VINHEDO, A ALTITUDE E EXPOSIÇÃO FAZEM DIFERENCA - Ele está em uma encosta ou em um vale? O vinhedo está localizado à beira-mar ou próximo a um rio? A complexidade da composição do solo, é que contribuirá para a profundidade e a complexidade do sabor.
O ícone da vinificação, Robert Mondavi, acreditava que "Fazer um bom vinho é uma habilidade; fazer um bom vinho é uma arte". No entanto, o processo de vinificação é uma ciência complexa que requer uma sinergia de elementos para ser bem-sucedido.
♦ QUAL TÉCNICA É MELHOR? - O processo de vinificação ocorre após a colheita das "uvas perfeitas", e o processo de vinificação começa, o que exige muita habilidade e conhecimento.
Na verdade, as tendências do vinho são fortemente influenciadas pela gastronomia, estilo de vida dos consumidores, a demanda por grandes rótulos e sua escassez e prestígio.
Tem havido muitos debates ao longo dos anos entre os vinicultores do Velho e do Novo Mundo sobre qual técnica de vinificação é melhor. No entanto, o que se pode dizer é que existe uma disparidade de preços entre os vinhos devido à qualidade dos vinhedos, ao tamanho da colheita e ao terreno em que a vinha está localizada.
Produzir um vinho incrível custa dinheiro. Leve em conta que, o custo econômico de reduzir a produtividade da colheita e aumentar a qualidade das uvas, aumenta a escassez do vinho, aumentando assim o seu valor. A quantidade de cuidado, mão de obra e materiais investidos em uma colheita específica aumentará o custo da garrafa.
O aroma e o equilíbrio do vinho são fundamentais. Grandes vinhos não só têm bom sabor, mas também aroma. O equilíbrio entre acidez, taninos e aroma foi cuidadosamente considerado para criar o caráter único, a textura e as assinaturas ricas do vinho. Nunca espere que um Beaujolais Nouveau de preço modesto tenha o mesmo sabor de um Cabernet Sauvignon envelhecido e caro.

A capacidade de um vinho envelhecer bem, ou seja, sua longevidade, é um fator crucial para determinar se ele é considerado um "grande vinho". Essa longevidade é influenciada por diversos fatores, como a variedade da uva, a safra, as práticas vitícolas, a região vinícola e o estilo de vinificação. Este é o caso de um Barca Velha 1983 degustado recentemente.
As tendências do vinho são fortemente influenciadas pela gastronomia, estilo de vida dos consumidores, escassez e prestígio. Por exemplo, vinhos tintos gelados têm sido um grande sucesso na Austrália, juntamente com os tintos mais leves e aromáticos mundo a fora. Há alguns anos era raro beber um vinho rosé a não ser que você estivesse na Provence. Hoje, o rosé está por todo canto alegrando as taças com vinhos frescos e frutados. Quem imaginaria beber um Champagne com uma pedra de gelo?
Um vinho é considerado especial quando apresentar uma harmonia entre doçura, acidez, taninos e álcool. A persistência no paladar, a capacidade do vinho deixar uma sensação agradável e duradoura, é um indicativo de alta qualidade. A complexidade dos sabores e aromas, a capacidade de identificar camadas e nuances, é um traço de um vinho especial.
Em resumo, a especialidade de um vinho reside na sua capacidade de entregar uma experiência sensorial única, prazerosa e memorável, resultado da combinação harmoniosa de todos os fatores que influenciam sua produção e qualidade. Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).
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