O Império Romano desempenhou um importante papel na distribuição e popularização do vinho. Porém, os romanos aprenderam sobre vinho e viticultura com os gregos, etruscos, e também com egípcios e cartagineses, assim como com os fenícios.
Do período da monarquia até a primeira parte da República há pouca ou nenhuma evidência que forneça apoio à hipótese de os romanos produzirem vinhos em grande escala.
A viticultura romana da época parecia apenas mais um ramo da horticultura. Concentrando-se apenas na conquista de estados vizinhos, tribos, e ainda na subordinação de toda a Península Itálica, os romanos dependiam principalmente do vinho grego, com sua própria viticultura e vinicultura longe de serem prioridades. Vale lembrar que, nessa época, o vinho já tinha mais de cinco mil anos de história, desde as primeiras evidências de elaboração de vinhos na região do Cáucaso.
Este quadro, porém, mudou a partir do século II a.C., quando a maioria dos poderes de Roma ainda estava focada no crescimento e na expansão. A partir de então, o vinho passou, gradualmente, a ser um dos fundamentos da economia. Assim, o século II a.C. cria um marco na história do vinho romano e da viticultura.
Foi a partir desta época que a relação de Roma com o vinho mudou. Se, antes disso, os romanos contavam com os vinhos feitos pelos gregos ou etruscos, gradualmente aprenderam com eles e os superaram, construindo uma poderosa indústria vinícola. E isso deixou uma marca não somente na Península Itálica (como em Pompéia, por exemplo), mas em todos os cantos do grande império que construíram.
Os romanos estenderam sua expansão geográfica no Mediterrâneo a partir de 270 a.C. A Gália abrangia a atual França, parte da Bélgica, bem como parte da Grã -Bretanha. No primeiro século a.C., a Gália foi dividida em sessenta territórios ocupados por povos, liderados por famílias numerosas unidas em assembleias aristocráticas. Esses povos gálicos mantiveram as relações entre eles, no entanto, sem grandes objetivos comuns que pudessem os unir. Isso constituía sua vulnerabilidade perante os romanos.
Os gauleses eram ótimos artesãos e tinham habilidades de metalurgia sólidas (ferro), ourivesaria e esmaltaria. Eles negociavam, organizados entre eles e também com os gregos e os romanos. A escravidão era comum e um nicho comercial.
Narbonne, na região do Mediterrâneo, no Languedoc e no corredor do Rhône - se torna uma província romana em 118 a.C. A Gália foi conquistada pelos romanos em 57 a.C., pelos exércitos liderados por Júlio César. Além de Narbonne já província do Império, os romanos dividem a Gália em três províncias: Aquitânia, Bélgica e Lyonnaise. O sistema institucional e organizacional romano impõe uma hierarquia em “civitas” (aglomerações), com as administrações lideradas por magistrados locais, de acordo com os respectivos estatutos legais. Uma rede de estradas pavimentadas construída pelos romanos promovia as trocas de mercadorias que desenvolveu um intenso comércio neste período.
O vinho chegando às fronteiras da Europa - Através da expansão do Império Romano, as uvas atingiram as províncias mais distantes e, depois, expandiram-se para além destes limites. Um exemplo foi a Panônia (que atualmente corresponde à Hungria, leste da Áustria, norte da Croácia, Eslovênia e noroeste da Sérvia). Plantas como ameixas, pêssegos e uvas foram trazidas junto com colonos romanos. A abundância de plantas introduzidas pelos romanos sugere que horticultura e viticultura tenham desempenhado um papel importante nesta região.
Na França (ou Gália, como era conhecida na época) a viticultura já existia desde a instalação das colônias gregas no Mediterrâneo (como Massalia, atual Marselha, fundada em 600 a.C.). Mas foram os romanos os grandes responsáveis por sua popularização. Foi por conta do conhecimento científico dos romanos, de que o ar frio flui por encostas e se acumula em vales, que a geografia de produção mudou na antiga Gália. Os primeiros registros de vinhos em áreas como Bordeaux e Borgonha, por exemplo, são da época romana.
Este é o caso também em regiões da atual Alemanha (como o Mosel) e na Grã-Bretanha. A própria palavra vinho em boa parte das línguas europeias tem origem no latim vinum. Isso evidencia que a influência do vinho romano muitas vezes cruzava até as próprias fronteiras do Império.
Tribos germânicas fora do Império, como os alamanos e os francos, consumiam grandes quantidades de vinho produzido na Germania romana. Isso mudou quando um edital do século V proibiu a venda de vinho fora dos assentamentos romanos. Para Hugh Johnson, isso poderia ter sido um dos motivos responsáveis pela invasão destes povos, funcionando como um incentivo adicional para as invasões bárbaras e ataque aos assentamentos romanos, como Trier, por exemplo.
Para os romanos, a videira e a oliveira eram inseparáveis. A implementação de vinhedos é antes de tudo um fenômeno urbano, uma função urbana ou periurbana se as restrições espaciais o impunham. As cidades eram erguidas especialmente ao longo dos rios. Sob o Império Romano, o trabalho de institucionalização está alinhado com a extensão da videira, da oliveira e do trigo. Essas conveniências são então os fundamentos da atividade econômica. As leis protegiam a produção de vinho.
A formidável quantidade de rios e afluentes, que tece uma extensa rede sobre a Gália, seu vasto mosaico de solos inférteis para a agricultura, mas, por outro lado, propício às vinhas, e sua climatologia são as poderosas vantagens comparativas da Gália quanto à produção do vinho.
No século I a.C, era provável que o vinhedo da região do Alto Rio Tarn (hoje - Gaillac), localizado na franja ocidental da província romana do Narbonne, se expandisse para outras regiões. O transporte fluvial pelo Rio Tarn (afluente do Gironde) abre o acesso ao mercado da cidade galo-romana de Burdigala (atual Bordeaux), uma civita (cidade-galo-romana) e ao mercado dos países do Mar do Norte por mar. Nesta época Burdigala então não tinha vinhedos.
No entanto, é uma variedade de uvas que não seja a cultivada pelos romanos na vinha de Narbonne, que teria possibilitado iniciar a atividade do vinho de Bordeaux. A uva “Biturica” - "ancestral" de Cabernet Franc, foi trazida da Cantabria, no noroeste da Espanha e assim nasceu o vinhedo de Bordeaux. Um comércio intenso com o arquipélago britânico será realizado a partir daí.
Os países do norte da Europa serão os principais mercados de vinho. Para os romanos, a atração desses mercados justifica o projeto de expansão do vinho no território do norte da Gália, as regiões cujos rios fluem em direção ao Atlântico e ao Mar do Norte. As variedades de uvas usadas na zona sul pelos romanos, no entanto, não permitem vislumbrar a expansão da vinha mais ao norte. A expansão dos vinhedos segue os cursos de água navegáveis por barcaças e os vales alimentados por caminhos de planícies.
Durante o período de paz com os conquistadores romanos, o povo gálico Allobrogico (estabelecido na região do Isère e Savoia) desenvolveu na região onde se encontra hoje o estado “Lambrusco” uma variedade, chamada Allobrogica, capaz de poder estender a expansão da vinha em direção ao norte, em solos frios e sujeitos a possíveis geadas. (Em 2006, os arqueólogos descobriram elementos de uma vinha em Gevrey-Chambertin, correspondendo ao modo de cultura romana da vinha nesta época. O desenvolvimento estaria no final do século I ou no início do segundo).
Deste modo, apesar de consumirem um vinho muito diferente daquele que estamos acostumados hoje, os romanos talvez tenham sido a civilização responsável por levar a cultura da uva e do vinho para praticamente toda a Europa. E esta tendência persistiu após a queda do Império, já que a adoção do Cristianismo como religião oficial acabou intensificando o processo.
A transição de cultos pagãos dos gauleses a favor da religião cristã foi feita pela aculturação e implicou no desaparecimento dos druidas. A partir do século III, a evangelização é muito ativa. A religião cristã se torna a religião do império.
Em 213, Roma concedeu o direito de cidadania a todos os gauleses do império. Eles mostraram apego ao império, mas as invasões na Gália se seguirão por muitos séculos. O Imperador Probus (276-282) rejeita os primeiros ataques dos povos germânicos, dos Alamanos e dos Francos. Essas são as primeiras manifestações das "invasões bárbaras". Essa última expressão geralmente se aplica às múltiplas incursões/locais dos povos invasores no atual território da França nos seguintes séculos. Os romanos, no entanto, aceitam uma primeira ocupação pacífica nas fronteiras orientais para conter as pressões germânicas de "emigrantes".
O uso do vinho na celebração litúrgica, porém, não foi o único caminho adotado pelo vinho para se popularizar desde a época romana. Para os romanos, além de ser um importante aliado na busca do prazer (os cultos de Baco que sirvam como testemunha), o vinho também era usado como medicamento. Assim, seja para curar o corpo como a alma, o vinho ganhou cada vez mais adeptos. E boa parte deste movimento certamente se deve ao Império Romano.
Nesta época alguns hábitos alimentares já estavam estabelecidos e semelhantes aos atuais. De manhã era a hora do ientaculum, equivalente ao nosso café da manhã, e formado tipicamente por pão, frutas e queijo. No meio do dia era o prandium, uma espécie de almoço leve, com ovos e vegetais. Alguns trabalhadores retornavam aos pães e queijos para um lanche da tarde chamado vesperna, mas os pratos principais ficavam mesmo para a noite: no jantar (ou ceia) eram servidas as carnes – de todo tipo: porco, aves, carne vermelha e caças em geral.
Naturalmente que tais seleções variavam principalmente entre diferentes classes sociais. As colheres já eram usadas para as refeições, enquanto os garfos tinham a função de servir os alimentos. Para beber, o vinho, tão amado pelos romanos, era servido em copos de vidro, prata ou cerâmica. Frutas secas, pães e peixe completavam o cardápio ideal de um dia normal em Roma.
As variedades de uva usadas e as técnicas desenvolvidas no Norte do Rhône e em Bordeaux permitem iniciar a expansão do vinho em um clima continental nas áreas ao norte da Gália, particularmente as regiões cujo fluxo de rios é derramado em direção ao Atlântico e ao Mar do Norte.
No boom do vinhedo galo-romano, o vinho gálico era exportado para Roma! O Imperador Domiciano (reinado de 81-96) freiou e proibiu a expansão da vinha na Gália. O Imperador Probus (reinado de 276-282) restaurará a liberdade de cultura da videira dois séculos depois e Lyon se torna um centro do comércio de vinhos muito forte.
A vinha atingirá seus limites de expansão do norte durante a porção do segundo século IV. As vinhas qualitativas neste momento se estabelecem na região de Paris e Picardy (Amiens), usando os rios como acesso mais imediato aos mercados vigorosos dos países do Mar do Norte. Essas vinhas mais ao norte da Galia desfrutarão da primazia comercial nesses mercados nórdicos por quase um milênio.
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações durante a prova dos vinhos e pesquisas).
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