Tem sido comum leitores me escreverem dizendo que compraram um vinho com 95 pontos e não gostaram. Como pode um vinho de tão boa pontuação não os agradar?
As pontuações de vinhos são importantes porque, de certa forma, nos indicam de um jeito objetivo, se estamos perto de um produto bem classificado e reconhecido por críticos como sendo de boa qualidade. Porém, a pontuação é uma ferramenta de medição ou classificação, escalonando os rótulos de forma a diferenciá-los num mercado tão concorrido, e não deve ser usada como único critério no momento de compra de um vinho.
Todo produtor deveria criar seus vinhos com o objetivo de fazê-lo o melhor possível e não o de buscar a melhor pontuação. Esta viria como resultado de um processo cuidadoso de produção que começa na condução do vinhedo, na forma da colheita ser feita, na seleção das uvas e os métodos de vinificação e maturação do produto, forma de embalagem e guarda antes de ir para o mercado.
Um vinho bem pontuado deveria ter características de tipicidade, equilíbrio, intensidade, complexidade, persistência no paladar, demonstrando a origem do varietal, seja como a própria uva e do local onde o vinhedo está plantado, e as técnicas de produção, reproduzindo, portanto, o que chamamos de terroir.
Os parâmetros não são inflexíveis, já que a avaliação do crítico é subjetiva, o que quer dizer que um vinho de nota máxima num ranking, pode ter nota diferente em outro. Não necessariamente, um vinho de alta pontuação satisfará seu paladar, já que as avaliações podem refletir o perfil do crítico. Robert Parker, um dos críticos de vinhos mais reconhecidos, prefere vinhos volumosos, encorpados como os Bordeaux ou cortes bordaleses. Se este não é seu perfil de gosto, não adiantará comprar um vinho com alta pontuação RP. Então, passa a ser importante conhecer os principais críticos de vinhos e seus critérios de avaliações.
Entre os críticos internacionais, de forma geral, podemos citar Robert Parker, Jancis Robinson, James Suckling, Tim Atkin, bem como revistas como a inglesa Decanter e a Wine Spectator. Quando falamos de críticos brasileiros podemos citar Jorge Lucki e Marcelo Copello, bem como a Revista Adega. Isto sem esquecer de Patrício Tapia e seu Guia Descorchados que atribui avaliações de vinhos da Argentina, Brasil, Chile, Uruguai e neste ano agregou Peru e Bolívia. Além disto, há guias de vinhos regionais como o Guia Penin para a Espanha, Gambero Rosso para Itália, o Hachette para França, que devem ser considerados.
No sistema ROBERT PARKER, os vinhos pontuados se dividem em seis categorias:
- Excepcionais: 96 a 100 – um vinho de excelência, complexo e com personalidade rica.
- Excelentes: 90 a 95 – um vinho excelente, com complexidade e personalidade notáveis.
- Muito bons: 80 a 89 – um vinho acima da média, sem falhas perceptíveis.
- Médios: 70 a 79 – vinhos que apesar de bem avaliados, são medianos, sem serem marcantes.
- Abaixo da média: 60 a 69 – um vinho com defeitos perceptíveis, e, portanto, abaixo da média.
- Inferiores e inaceitáveis: 50 a 59 – um vinho de baixa qualidade.
Vale ressaltar que todos os vinhos pontuados são relevantes, pois apresentam qualidade acima da média geral. Isso inclui os vinhos com pontuação inferior a 90, porque ainda podem revelar grandes surpresas aos enófilos.
Além do sistema Robert Parker, existem outras avaliações de destaque. Conheça as principais!
♦ JANCIS ROBINSON (JR) - Uma das críticas mais respeitadas do mundo do vinho, a britânica Jancis Robinson é jornalista, e possui um sistema de pontuação próprio, em uma escala que vai de 12 a 20 pontos. Eleita a crítica de vinhos mais influente do mundo, Jancis Robinson escreve diariamente para seu site JancisRobinson.com e semanalmente para o Financial Times. Jancis é coautora do ”Atlas Mundial do Vinho”, um dos livros sobre vinhos mais vendidos em todo o mundo.
♦ JAMES SUCKLING (JS) - Um dos mais importantes críticos de vinhos da atualidade, Suckling foi editor da revista Wine Spectator por 30 anos até lançar o próprio site, em 2010. A classificação de James Suckling também é um sistema de 100 pontos, mas a pontuação mínima é 90. Neste sistema, os vinhos de 90 a 95 pontos são excelentes, já os de 95 a 100 pontos são classificados como “deve-se comprar”.
♦ JORGE LUCKI - engenheiro pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, consolidou sua formação em vinho na Academie du Vin de Paris. Além de colunista do jornal Valor Econômico e das revistas Valor Investe e Prazeres da Mesa, Lucki é consultor de livros sobre vinhos traduzidos no Brasil e coautor do guia Descorchados América do Sul. Publica anualmente uma Lista dos Melhores Vinhos do Novo e do Velho Mundo, que acaba sendo uma ótima referência do que comprar, já que os vinhos são avaliados como “Melhor relação qualidade/ preço provado no Mercado Brasileiro”, “O Melhor degustado do Mercado Brasileiro” e “Soberano”, nem sempre disponível no Brasil.
♦ MARCELO COPELLO – é um dos principais formadores de opinião da indústria do vinho no Brasil, com expressiva carreira internacional. Duas vezes eleito “o mais influente jornalista de vinhos do Brasil” pela revista Meininger´s Wine Business International, a mais respeitada publicação mundial dedicada aos negócios do vinho, com circulação em 40 países. Eleito “Personalidade do Vinho” 2011 e 2013 pelo site Enoeventos. É curador e sócio do RIO WINE AND FOOD FESTIVAL, o maior festival de vinhos da América Latina. Publica o Anuário Vinhos do Brasil, publicação oficial e maior referência mundial em vinhos brasileiros. Colaborador de diversos veículos de imprensa no Brasil e exterior, colunista de vinho das revistas Veja São Paulo e Veja Rio, e por dez anos colunista do jornal Gazeta Mercantil.
♦ GAMBERO ROSSO (GR) - O guia anual é especializado em vinhos italianos. Seus métodos de avaliação dispensam a numeração típica das comparações “a la Robert Parker” em escala de 100 pontos e conferem aos vinhos, de 1 a 3 Bicchieri (pequenas taças) para fazer uma distinção contextualizada de vinhos bons, muito bons e excelentes, respectivamente dentro de suas categorias. Ao conquistar 3 Bicchieri por 10 vezes consecutivas, o produtor do rótulo recebe uma Stella (estrela). O Gambero Rosso chega a avaliar mais de 45.000 rótulos por ano, resenhando boa parte deles, refletindo a produção de mais de 2,5 mil produtores italianos.
Mais que um guia de vinhos, essa bíblia da enologia italiana é íntegra na triagem que faz, reunindo vinhos de qualidade comprovada e, que no sacar das rolhas, falem uma mesma língua. Merece ser lido por quem deseja aproximar-se da cultura italiana, ornando-se um livro de cabeceira para quem deseja entender melhor o que come e bebe na Itália.
♦ DECANTER WORLD WINE AWARDS – O Guia britânico avalia vinhos de todo mundo e sua pontuação varia entre 1 até 5 estrelas, sendo 1 correspondente de médio a bom e 5 para vinhos considerados únicos.
♦ VINOUS (V) - a Vinous foi fundada em 2013. Antonio Galloni é venezuelano, nascido em Caracas, e sua família imigrou para os Estados Unidos quando ele ainda era muito jovem. É fundador da Vinous da qual também é o principal crítico cobrindo os vinhos de Bordeaux, Califórnia, Itália e Champagne. De 2006 a 2013, Galloni foi membro da equipe de degustação da publicação de Robert Parker - The Wine Advocate. A saída de Galloni da equipe da Wine Advocate gerou um processo judicial em 2013 por quebra de contrato e fraude, entretanto a publicação goza de respeito no mundo do vinho. Além de Galloni, a Vinous dispõe de uma equipe de renomados críticos e escritores, como Stephen Tanzer. Os vinhos também são classificados por meio da escala de 100 pontos.
♦ WINE SPECTATOR (WS) - A revista americana, disponível nas versões impressa e digital, é uma das mais tradicionais do mundo do vinho. Ano a ano, a publicação elabora uma lista com os 100 melhores vinhos do mundo. A relação é elaborada por uma equipe de especialistas e os vinhos entre 90 e 95 pontos são considerados “de destaque”, enquanto os de 95 a 100 pontos são chamados “clássicos”.
♦ GUIA DESCORCHADOS (DS) - O guia Descorchados, elaborado pelo chileno Patrício Tapia, é impresso anualmente, pontuando vinhos da Argentina, do Brasil, do Chile e do Uruguai e o mais recente avalia também os vinhos do Peru e Bolívia. O sistema utilizado é o de 100 pontos, sendo que 80 é a pontuação mínima. Além da classificação numérica, o guia elege os melhores vinhos de cada país em diferentes categorias, como melhor tinto, melhor branco, entre outros.
♦ WINE ENTHUSIST (WE) - Uma das maiores revistas do mundo, fundada no final dos anos 1980. A publicação Wine Enthusiast avalia os vinhos com o sistema de 50 a 100 pontos, além de classificar por faixas de preço, como a lista “Best Buys”, uma das mais concorridas e comentadas do segmento no mundo inteiro.
♦ WINE & SPIRITS (W&S) - A revista norte-americana é outra que figura entre as mais importantes avaliadoras de vinhos. Foi a única a ganhar o prêmio James Beard por cinco vezes, graças à qualidade e relevância da publicação. Foi fundada em 1982 e chega a avaliar mais de 15 mil garrafas a cada ano.
Uma opinião que costumo dar aos amigos e leitores do Vinotícias é que ninguém deve se prender apenas a pontuação de um vinho no momento de sua compra. Além de procurar conhecer melhor o produtor, sabendo onde e como trabalha seus vinhos, deve-se levar em conta o momento em ele será servido.
O mais importante será entender que nenhuma pontuação será mais eficaz do que você conhecer seu próprio paladar e saber do que gosta!!! Saúde!!!
Aproveite para comentar se gostou ou não!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação as pesquisas).
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