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“A MATURAÇÃO DO VINHO E SEUS AROMAS – PARTE II”

  • Foto do escritor: Marcio Oliveira - Vinoticias
    Marcio Oliveira - Vinoticias
  • há 3 horas
  • 5 min de leitura

O processo de envelhecimento transforma o vinho, tornando os aromas primários mais complexos e dando origem a aromas terciários que refletem o tempo de maturação, o contato com a madeira e o envelhecimento em garrafa


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A formação dos aromas primários: notas odoríferas das uvas e mosto - Os aromas primários do vinho provêm diretamente da uva e estão intimamente ligados à casta utilizada. No entanto, nem todas as uvas possuem compostos aromáticos imediatamente perceptíveis. Um exemplo emblemático é a casta Trebbiano, que não possui precursores aromáticos significativos, ao contrário da Moscatel, rica em terpenos, responsáveis ​​pelas suas notas florais.

 

Nos mostos neutros, o odor predominante é herbáceo, devido à degradação enzimática dos ácidos linoleico e linolênico. Desta reação resulta a formação de álcoois e aldeídos de seis átomos de carbono (hexanal, cis-3-hexenal, trans-2-hexenal), responsáveis ​​pelas notas vegetais típicas.

 

Além disso, em algumas castas, como a Sauvignon Blanc ou a Cabernet Sauvignon, o mosto contém compostos como as pirazinas, que intensificam o carácter herbáceo.

 

O papel da fermentação: ácidos superiores, álcoois e ésteres - Durante a fermentação alcoólica, as leveduras transformam os açúcares em álcool etílico e dióxido de carbono. Juntamente com estes produtos principais, são também gerados ácidos (acético, butanoico, hexanoico, octanoico), alguns dos quais, em concentrações elevadas, podem conferir notas desagradáveis ​​como as de queijo ou de estábulo.

 

Os álcoois superiores, como o 3-metilbutanol, o 2-metilbutanol e o 2-feniletanol, desenvolvem-se simultaneamente e contribuem com características sensoriais variáveis. O 2-feniletanol, em particular, acrescenta subtis notas florais subtis de rosas, enquanto outros álcoois superiores, como o álcool amílico e o álcool isoamílico, podem fazer lembrar solventes ou vernizes.

 

Os ésteres são formados pela reação entre álcoois e ácidos durante a fermentação e são responsáveis ​​pelas notas frutadas e frescas dos vinhos jovens. Entre os ésteres mais significativos contam-se:


Acetato de isoamilo (banana)

Butanoato de etilo (ananás)

Octanoato de etilo (frutas tropicais)

 

O equilíbrio entre os ésteres e os álcoois superiores determina o perfil aromático do vinho. Se predominarem os ésteres, o vinho adquire um carácter frutado e agradável; No entanto, se predominarem os álcoois superiores, o perfil olfativo tende a ser mais genérico e vínico.

 

A evolução do aroma ao longo do tempo e sua estratificação olfativa:


O aroma do vinho pode ser descrito como uma sobreposição de componentes voláteis que se combinam e transformam ao longo do tempo. Podemos identificar cinco categorias principais:


1 – Aldeídos e álcoois com seis átomos de carbono: responsáveis ​​pelas notas herbáceas iniciais.


2 – Álcool etílico e ácidos gordos: constituem a base olfativa comum a todos os vinhos.


3 – Álcoois superiores: acrescentam complexidade, mas podem ser percebidos como defeitos se presentes em excesso.


4 – Ésteres: conferem frescura e notas frutadas aos vinhos jovens.


5 – Compostos varietais específicos: incluem os terpenos (Moscatel), os tióis (Sauvignon Blanc), as metoxipirazinas (Cabernet Sauvignon) e a rotundona (Syrah), que conferem ao vinho a sua identidade varietal.

 

O papel da base aromática fermentativa - Um dos aspetos mais interessantes é a chamada “base aromática fermentativa”, um conjunto de moléculas comuns a todos os vinhos, que inclui álcoois, ácidos orgânicos, ésteres e acetaldeído. Esta base atua como um “tampão aromático”, absorvendo a maioria das alterações sensoriais e permitindo que surjam apenas alguns compostos.

 

Moléculas como o acetato de isoamilo e a beta-damascenona são algumas das poucas capazes de modificar esta base, acrescentando características distintas ao perfil olfativo do vinho.

 

A análise da complexa estrutura aromática do vinho pode ser comparada a uma orquestra olfativa. Alguns vinhos varietais distinguem-se pela presença de uma molécula dominante, um verdadeiro “solista” que orienta a percepção aromática. É o caso, por exemplo, do Sauvignon Blanc, onde os tióis voláteis desempenham um papel fundamental na definição do bouquet.


Por outro lado, existem vinhos “orquestrais”, sem uma única molécula dominante, em que a percepção olfativa resulta do equilíbrio entre múltiplos componentes aromáticos. Nestes casos, a variabilidade ambiental e a do terroir tem têm uma grande influência, tornando a identidade do vinho mais vulnerável a fatores externos.

 

A evolução do aroma do vinho ao longo da sua maturidade

O envelhecimento do vinho é um processo dinâmico em que o equilíbrio químico entre moléculas voláteis sofre transformações contínuas. Os ésteres de fruta, inicialmente predominantes nos vinhos jovens, tendem a hidrolisar com o tempo, libertando álcoois e ácidos que podem afetar negativamente a percepção aromática.

 

Esta fase de transição pode provocar uma diminuição temporária da intensidade olfativa, uma espécie de “fase de sono” em que o vinho parece aromaticamente neutro. Posteriormente, se o vinho tiver precursores aromáticos suficientes, estes podem libertar novas moléculas odoríferas, restaurando a complexidade e a riqueza do bouquet.

 

O papel do oxigênio na evolução aromática - Um dos elementos-chave na transformação dos aromas do vinho é o oxigénio. O seu impacto varia consoante o tipo de vinho:


Nos vinhos brancos, o oxigênio representa uma ameaça significativa, promovendo a formação de compostos como o acetaldeído e o fenilacetaldeído, responsáveis ​​por notas oxidativas desagradáveis, como a maçã cozida ou o caramelo.


Nos vinhos tintos, no entanto, a presença de antocianinas e taninos confere uma proteção antioxidante natural, retardando os processos de degradação.


O controle do oxigênio durante a vinificação e o armazenamento é, portanto, essencial para preservar a qualidade aromática do vinho ao longo do tempo.

 

Temperatura e estabilidade dos ésteres - Outro fator determinante na evolução do aroma do vinho é a temperatura de armazenamento. Estudos científicos mostram que as temperaturas elevadas aceleram a degradação dos ésteres voláteis, reduzindo a frescura aromática do vinho. Por exemplo, o acetato de isoamilo, responsável pelas notas de banana em vinhos jovens, hidrolisa rapidamente a temperaturas superiores a 20°C. Por outro lado, os ésteres etílicos mais resistentes podem contribuir para uma maior longevidade aromática, tornando-os especialmente desejáveis ​​para a produção de vinhos destinados ao envelhecimento.

 

A interação entre a madeira e o aroma do vinho - O envelhecimento em madeira introduz um elemento adicional de complexidade à evolução do aroma do vinho. As barricas de carvalho libertam compostos fenólicos, como a vanilina e a whisky-lactona, que interagem com o perfil aromático pré-existente. Em vinhos com baixo potencial aromático, estes compostos podem dominar as características varietais, resultando numa presença excessiva de notas de madeira. No entanto, em vinhos com elevado potencial aromático, a presença de precursores permite uma fusão harmoniosa entre os aromas varietais e os compostos libertados pela barrica, garantindo um maior equilíbrio e complexidade.

 

Conclusão- O aroma do vinho é o resultado de um equilíbrio complexo entre moléculas voláteis que evoluem durante a vinificação e o envelhecimento. A compreensão destes processos permite aos profissionais intervir nas técnicas de fermentação e vinificação para obter os perfis aromáticos desejados.

 

Então, ficou curioso em provar melhor a interação entre o vinho e a madeira? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).

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O VINOTÍCIAS foi criado por Márcio Oliveira, com o intuito de disponibilizar em um único espaço dicas de vinho, enogastronomia, eventos, roteiros de viagens e promoções. Inicialmente era disponibilizado na forma de uma newsletter para alunos, ex-alunos e amantes do vinho, com o crescimento do mercado e o amadurecimento do projeto a necessidade de um espaço maior para tantas informações se fez necessário e assim surgiu o blog e o site.

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