“COMO AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ESTÃO INFLUENCIANDO A PRODUÇÃO DO VINHO EM NOVAS REGIÕES? – PARTE I”
- Marcio Oliveira - Vinoticias

- 18 de jul.
- 5 min de leitura

Embora tradicionais países vinícolas como França, Itália e Espanha liderem a produção global, algumas regiões menos esperadas ou desconhecidas começam a chamar a atenção e se destacar na produção de vinho. Países como Inglaterra, Índia, Bulgária, Romênia, México e Peru estão ganhando visibilidade no mundo do vinho, alguns com tradição milenar, outros com projetos mais recentes.
Com o aumento da temperatura do planeta devido ao aquecimento global, novas regiões começaram a cultivar uvas Vitis vinifera, além de investirem em castas autóctones (nativas) - em geral mais adaptadas e capazes de sobreviver às alterações climáticas. Essas novas regiões produtoras surgem como uma possível solução para auxiliar o mercado em um cenário de incertezas, diante das alterações do clima e até mesmo do consumo decrescente de vinho em regiões tradicionais.
E vale lembrar que se as temperaturas elevadas estão criando opções para estas novas regiões produtoras, elas também estão fazendo com que algumas áreas se tornem impróprias para a viticultura, em especial regiões que já são de clima quente, como partes da Austrália, sul da Europa, norte da África e América do Sul podem sofrer com o aumento das temperaturas, afetando a qualidade das uvas e do vinho.
♦ INGLATERRA – Historicamente, a Inglaterra não era conhecida por sua produção de vinho, mas vinícolas surgidas em várias regiões, têm experimentado com sucesso o cultivo de uvas e a produção de vinhos espumantes e tranquilos, aproveitando o clima mais frio a temperado do país, influenciado pelas mudanças climáticas, que se tornou favorável para a viticultura, em especial para a elaboração de espumantes.
Nos últimos anos, os vinhos ingleses têm ganhado reconhecimento e prestígio em premiações ao redor do mundo. Regiões como Sussex, Kent e Hampshire já são destaque na produção de espumantes elegantes, com a utilização de uvas como chardonnay, pinot noir e pinot meunier, que são as uvas clássicas utilizadas na elaboração do Champagne.
Aliás, os vinhos espumantes ingleses são produzidos a partir do método tradicional, no qual a segunda fermentação ocorre em garrafas armazenadas em caves subterrâneas, e algumas “maisons” de champagne têm forte presença e reconhecimento na Inglaterra, seja através de distribuição, parcerias ou mesmo produção local de espumantes inspirados no método champenoise.
Exemplos incluem Pol Roger, reconhecida pela preferência dos ingleses, e Moët & Chandon, que era a fornecedora oficial da rainha Elizabeth II, além de outras casas com grande reconhecimento, como Ruinart e Taittinger. Embora a produção de champagne genuíno seja exclusiva da região de Champagne, na França, a influência e admiração por essas marcas na Inglaterra são notáveis. A Vranken-Pommery apresentou um pedido oficial para construir sua própria unidade de vinificação em Hampshire. Em 2014, o grupo comprou 40 hectares de vinhedos em Hampshire e desde então vem se familiarizando com o terroir inglês.
Além da produção de espumantes, que é o foco central do país, a Inglaterra produz vinhos rosés, brancos (Chardonnay) e tintos tranquilos (Pinot Noir).
♦ MÉXICO – A produção de vinho mexicano, embora menos conhecida, tem crescido nos últimos anos, com regiões como Baja California se destacando pela produção de uvas como Cabernet Sauvignon, Merlot e Zinfandel, e até mesmo vinhos de clima mais quente, como o Chenin Blanc. A produção de vinho no México começou após a chegada dos espanhóis no século XVI, mas o verdadeiro boom ocorreu a partir da década de 1990.
Regiões como Valle de Guadalupe, na Península da Baja California, têm surpreendido os entusiastas com seus exemplares cheios de personalidade. Atualmente, uvas como cabernet sauvignon, merlot, zinfandel, chenin blanc, sémillon e chardonnay são cultivadas para a elaboração de brancos, tintos e rosés.
A região de Baja California concentra 80% da produção de vinhos mexicanos. Essa região, situada na fronteira com os EUA, é conhecida pelo seu enoturismo e pela rota do vinho, que conecta diversas vinícolas. Além da Baja Califórnia, há produção em outros estados, como Coahuila, destacando-se o Vale de Parras, com a Casa Madero (a vinícola mais antiga das Américas, criada em 1597), e o Vale de Arteaga, que produz vinhos com foco em Pinot Noir, Chardonnay e Malbec. Pequenas produções também são encontradas em Guanajuato e Querétaro, com projetos de vinhos de baixa intervenção.
♦ CHINA – A produção do vinho na China passou por mudanças significativas nas últimas décadas, com um crescimento inicial seguido por um declínio. A China se tornou um importante mercado para vinhos importados e um crescente produtor nacional, com várias regiões vinícolas promissoras. No entanto, o consumo per capita atingiu um pico e as importações se estabilizaram, com uma contração do mercado nos últimos anos, exacerbada pela pandemia.
A China emergiu como um mercado atraente para vinícolas globais, impulsionado pela ascensão econômica e pela percepção do vinho como símbolo de status. O consumo per capita atingiu o auge em 2012, com as importações se estabilizando e posteriormente entrando em declínio. A pandemia da COVID-19 afetou o consumo, especialmente devido às restrições sociais, e a queda no consumo tem sido observada desde 2018.
A China também se tornou um importante produtor de vinho, com destaque para a região de Yantai-Penglai, que sozinha produz 40% do vinho chinês, e regiões como Ningxia e Xinjiang. As uvas mais comuns incluem Cabernet Sauvignon, Merlot e Carmenère, mas a produção de vinhos brancos e rosés também está presente.
A região de Yantai-Penglai, localizada na província de Shandong, é a maior região produtora de vinho da China, com mais de 140 vinícolas. Ningxia é uma região promissora, conhecida por seu cultivo em um vale de rio com condições climáticas favoráveis para algumas variedades. Já Xinjiang é uma região com diversas influências culturais, com vinhedos em altitudes elevadas e condições climáticas extremas.
♦ ÍNDIA – A indústria do vinho na Índia está em crescimento, com regiões como Nashik, em Maharashtra, destacando-se como a principal capital do vinho do país. A produção vinícola indiana tem uma longa história, com vinhedos em algumas regiões há mais de 500 anos, e está ganhando reconhecimento internacional.

Nashik, em Maharashtra, com seu clima favorável e proximidade com Mumbai, se tornou um destino para enoturismo, atraindo visitantes interessados em degustação de vinhos e turismo rural. É a capital do vinho indiana e abriga a maioria dos produtores comercialmente significativos. Outras regiões importantes incluem Karnataka, perto de Bangalore, e Telangana, perto de Hyderabad.
O clima na Índia varia, com áreas mais quentes e úmidas, como Tamil Nadu e Karnataka, permitindo duas colheitas anuais. A produção de vinho na Índia inclui tanto vinhos tintos quanto brancos, com algumas vinícolas especializadas em vinhos espumantes.
Apesar do crescimento, a indústria do vinho na Índia enfrenta desafios como a baixa conscientização sobre vinho e infraestrutura limitada para armazenamento e distribuição. O consumo de vinho na Índia está crescendo, e a idade legal para beber álcool é de 25 anos, embora haja discussões para reduzir essa idade.
A produção mundial de vinho está em constante expansão, e novas regiões estão atraindo os olhares de enólogos e entusiastas ao redor do mundo. Essas áreas têm investido em pesquisas e tecnologia a fim de alcançar vinhos de alta qualidade e expressividade, seja com uvas autóctones e internacionais, elas estão encantando o mercado com sabores únicos e diferentes.
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