“COMO AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ESTÃO INFLUENCIANDO A PRODUÇÃO DO VINHO EM NOVAS REGIÕES? – PARTE II”
- Marcio Oliveira - Vinoticias

- 26 de jul.
- 7 min de leitura
As mudanças climáticas estão impulsionando uma reconfiguração na produção mundial de vinhos, com regiões tradicionais enfrentando desafios e novas áreas emergindo como potenciais produtores.

Os produtores estão se adaptando ao aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos através de diversas estratégias, como o cultivo em altitudes elevadas, a adoção de novas variedades de uvas e práticas agrícolas mais sustentáveis.
O aumento das temperaturas tem levado a um aumento do teor de açúcar nas uvas, resultando em vinhos com maior teor alcoólico, impactando em algumas regiões levar à perda das características únicas dos vinhos, como o sabor e aroma.
Estima-se que algumas regiões vinícolas costeiras e de baixa altitude possam se tornar inadequadas para a produção de vinho devido às mudanças climáticas, além dos produtores estarem buscando vinhedos em altitudes mais elevadas, onde as temperaturas são mais amenas e as condições climáticas são menos extremas.
A seleção e cultivo de variedades de uvas que sejam mais resistentes ao calor e à seca está se tornando mais comum, e muitos produtores têm adotado práticas agrícolas sustentáveis, como viticultura orgânica e biodinâmica, que fortalecem o solo e as videiras, é cada vez mais importante. O uso de tecnologias para otimizar o uso da água e outras práticas agrícolas também está sendo explorado.
Novas regiões produtoras, áreas com climas mais frios como a Noruega, onde antes não era comum haver vinhedos, estão se expandindo, incluindo regiões com climas tradicionalmente frios, como a Dinamarca e o sul do Canadá, que estão se tornando potenciais áreas de produção de vinho.

♦ DINAMARCA - A viticultura na Dinamarca é uma indústria em ascensão, com foco em uvas de clima frio e vinhos de frutas, especialmente licores de maçã e cereja. Apesar do clima frio, a Dinamarca tem visto o desenvolvimento de vinícolas e regiões vinícolas, como Jutlândia, Sul da Dinamarca e ilhas como Zealand e Funen.
O clima dinamarquês, embora frio, é adequado para certas variedades de uvas brancas, como Orion e Madeleine Angevine, que se beneficiam dos longos dias de verão. A mudança climática tem permitido o cultivo de mais variedades de uvas e o desenvolvimento de vinícolas em áreas que antes não eram consideradas propícias à produção de vinho.
Regiões vinícolas como Jutlândia e Sul da Dinamarca são as principais regiões produtoras, com destaque para a região de Kolding, onde está localizada a vinícola Skærsøgaard Vin, que é considerada a primeira e mais premiada vinícola do país. Outras vinícolas incluem Vester Vedsted Vingaard, 113anikas, Glenholm Vingard, Cold Hand Winery, e muitas outras.
A Dinamarca produz uma variedade de vinhos, incluindo vinhos brancos, tintos e vinhos de frutas, como licores de maçã e cereja. O vinho Chateau de Cayx Malbec, produzido na Dinamarca, tem aromas de frutas vermelhas e notas de especiarias e taninos. O Malbec Du Prince de Danemark é um vinho de edição limitada produzido em safras excepcionais. Algumas vinícolas, como Frederiksdal Kirsebærvin, são especializadas em vinhos de cereja.
♦ CANADÁ – A produção vinícola do Canadá está concentrada principalmente em Ontário e Colúmbia Britânica, com destaque para a produção de vinho de gelo (ice wine - produzidos com uvas congeladas na videira) e vinhos de uvas Vitis vinifera. Ontário é a maior produtora, responsável por 62% da produção nacional e 68% das exportações de vinho. A Colúmbia Britânica, com o Vale de Okanagan como região chave, também se destaca na produção de vinhos de alta qualidade.
O Vale de Okanagan, na Columbia Britânica, é a região mais importante, com vinhedos que se estendem por paisagens diversas e microclimas únicos, produzindo vinhos como Chardonnay, Merlot e Pinot Noir. Há vinhedos ao norte e sudeste de Montreal, que produzem principalmente vinhos de frutas e vinhos de uvas híbridas. Na Nova Escócia, a produção se concentra em vinhedos ao longo das margens do estreito de Northumberland e no vale de Annapolis, com destaque para a produção de espumantes.
♦ BULGÁRIA – A produção vinícola na Bulgária remonta aos tempos dos trácios. Há menções sobre os vinhos da Trácia já nas obras de Homero e existem escavações arqueológicas que identificaram ânforas e jarros usados para armazenar e servir vinho. Um exemplo é o Tesouro de Panagyurishte, datado entre 300 e 400 anos antes de Cristo, que contém cálices de ouro usados para o consumo de vinho.
A vinicultura não somente continuou, mas prosperou após a chegada dos romanos aos Balcãs. Porém, após a queda do Império Romano, começou uma longa fase de declínio, em que a região fez parte do Império Otomano (1396-1878).
Após a libertação da Bulgária em 1878, a indústria vitivinícola registou um rápido crescimento e, em 1897, a superfície total de vinhas plantadas atingiu 115.000 hectares. Durante esse tempo, a filoxera se espalhou pela Europa, chegando aos vinhedos da Bulgária em 1884. A praga destruiu a maioria das videiras ancestrais do país e pôs fim à sua viticultura tradicional. A renovação das videiras começou somente em 1906 e ganhou força após o fim da Primeira Guerra Mundial.
Após a adoção do comunismo na Bulgária em 1944, a produção de vinho passou a ser um monopólio estatal. Em várias oportunidades, videiras foram destruídas devido às campanhas antialcoolismo de Moscou. Foi um período de influência soviética (que só acabou em 1989) que houve a plantação em massa de variedades de uvas internacionais, como Rkatsiteli, Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Muscat Ottonel e Traminer.
O período comunista trouxe um novo perfil para o vinho búlgaro, gradualmente transformando este país do Balcãs em um dos maiores exportadores mundiais de vinho, com o mercado para vinhos búlgaros limitando-se à União Soviética e países da Cortina de Ferro.
O país está resgatando a tradição e atraindo olhares de enólogos e enófilos. A Bulgária possui cinco principais regiões vinícolas: Norte, Noroeste, Sul, Sub-Balcânica e Vale Trácio, cada uma com seus próprios terroirs e variedades de uvas. A Bulgária é conhecida por produzir tanto vinhos de uvas nativas como Mavrud, Melnik e Gamza, quanto de variedades internacionais como Cabernet Sauvignon e Merlot.
Atualmente, conta com duas indicações geográficas (I.G.P.): Terras Baixas da Trácia, incluindo o Vale do Struma e a parte sul da região do Mar Negro, e as planícies do Danúbio, incluindo a parte norte da região do Mar Negro.
♦ ROMÊNIA – A Romênia é outro exemplo de país que possui uma história milenar em termos de produção de vinho. Inclusive, evidências arqueológicas apontam que a viticultura da região tem quase seis mil anos!
O país está investindo no resgate de variedades autóctones, mais resistentes às condições climáticas do país, além de castas Vitis vinifera. As principais uvas cultivadas no território romeno são as nativas Feteascã neagra e Feteascã alba, além de cabernet sauvignon, pinot noir, merlot, pinot gris, sauvignon blanc, moscato e gewürztraminer.
Atualmente, os vinhos da Romênia são divididos em três categorias: vinhos de mesa, Indicação Geográfica Protegida (I.G.P.) e Denominação de Origem Controlada (D.O.C.).
♦ PERU – A indústria do vinho no Peru é uma tradição antiga, com raízes na época da colonização espanhola, mas que tem visto um crescimento recente na produção de vinhos finos e no enoturismo. Embora o Peru tenha sido um dos primeiros países da América do Sul a produzir vinho, ele foi superado por Chile e Argentina em termos de volume.
Apesar das castas cultivadas no território peruano serem majoritariamente utilizadas na produção de Pisco, aguardente tradicional do país, essas uvas pisqueiras também geram vinhos. No entanto, o Peru está se destacando pela qualidade de seus vinhos, especialmente na região de Ica, e pelo desenvolvimento do enoturismo, com vinícolas como Tacama e Santiago Queirolo atraindo visitantes.
O clima quente da região também permite o cultivo de castas para a produção de vinhos, entre elas grenache, alicante bouschet, cabernet sauvignon, malbec, torrontés (torontel) e sauvignon blanc. O Peru possui vinhedos em regiões desérticas e com altitude, como em Ica, que permitem o cultivo de uvas como Malbec, Cabernet Sauvignon e outras, com vinhos que estão ganhando reconhecimento.
As principais regiões produtoras são: Ica - É a região mais conhecida e importante para a produção de vinho no Peru, abrigando vinícolas como Tacama e Santiago Queirolo. Chincha - Outra região importante, com vinícolas tradicionais como Tabernero e Viña Vieja. As vinhas também se expandiram para outras áreas como Arequipa, Moquegua e Tacna.
♦ BOLÍVIA – A produção de vinho na Bolívia concentra-se principalmente na região de Tarija, com altitudes elevadas que variam de 1.600 a 2.150 metros. Essa região possui um clima semiárido com características mediterrâneas, ideal para o cultivo de uvas. A altitude e as condições climáticas da região proporcionam uvas com aromas intensos e equilíbrio único, resultando em vinhos com características singulares.
O Vale Central de Tarija é a principal região vinícola da Bolívia, responsável por 93% da produção de uvas viníferas. O Vale de Los Cintis, localizado em Chuquisaca, possui vinhedos a altitudes que variam entre 2.220 e 2.414 metros. Nos Valles de Santa Cruz os vinhedos estão plantados a altitudes entre 1.600 e 2.030 metros. Outros vales como Potosí, La Paz e Cochabamba também possuem produção de vinho em altitudes que variam entre 1.600 e 3.000 metros.
A Bolívia se destaca pela produção de vinhos de alta altitude, onde a intensidade da luz solar influencia diretamente no sabor e aroma das uvas. A colheita é realizada de forma manual em todas as regiões. Predominam os vinhos tintos (77%), seguidos pelos brancos (20%) e, em menor proporção, os rosés, espumantes, de sobremesa e fortificados. Além dos vinhos, a Bolívia produz o Singani, um destilado de uvas Muscat de Alexandria, com reconhecimento internacional.
♦ BIRMÂNIA – (Mianmar) - Um exemplo notável de inovação é a Myanmar Vineyard Estate, que começou a produzir vinhos em altitudes elevadas (1.400 metros) na região de Taunggyi, mostrando que é possível produzir vinhos de qualidade em regiões tropicais, com projetos inspiradores como a Red Mountain Estate.
Vinícolas locais como a Aythaya Vineyard e a Red Mountain Estate ganhando reconhecimento internacional. O clima e o solo da região são favoráveis à viticultura, permitindo a produção de diferentes tipos de vinho, desde brancos e tintos até espumantes e vinhos fortificados.
A região de Shan State, onde essas vinícolas estão localizadas, possui um clima ideal e solo favorável para o cultivo de uvas, permitindo a produção de vinhos de qualidade. São cultivadas diversas variedades de uvas, incluindo uvas brancas como Chenin Blanc, Colombard e Sultana, e uvas tintas como Cabernet Sauvignon e Syrah.
A produção de vinho, portanto, não se limita aos países tradicionais, e a diversidade de regiões vinícolas ao redor do mundo continua a crescer, com inovação e adaptação às condições climáticas locais. A produção mundial de vinho está em constante expansão, e novas regiões estão atraindo os olhares de enólogos e entusiastas ao redor do mundo. Essas áreas têm investido em pesquisas e tecnologia a fim de alcançar vinhos de alta qualidade e expressividade, seja com uvas autóctones e internacionais, elas estão encantando o mercado com sabores únicos e diferentes.
As mudanças climáticas estão remodelando a geografia da produção de vinhos, com desafios e oportunidades para as regiões tradicionais e novas áreas de cultivo. A adaptação, a inovação e a sustentabilidade serão cruciais para garantir o futuro da indústria vinícola.
Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).





Comentários