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“O CICLO DE VIDA DE UMA VIDEIRA”

  • Foto do escritor: Marcio Oliveira - Vinoticias
    Marcio Oliveira - Vinoticias
  • há 12 minutos
  • 9 min de leitura

As videiras crescem, na verdade, apenas durante cerca de oito meses do ano. No outono, elas perdem as folhas e permanecem dormentes durante o inverno.


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Se você já visitou um vinhedo com aparência árida ou muito seca durante o inverno, pode ter dificuldade em visualizá-lo cheio de vida e carregado de cachos maduros. Todos os anos, se as condições forem favoráveis, a videira passa por uma transformação maravilhosa para produzir os suculentos cachos de uva ​​para fazer vinho.


A videira é um exemplo de planta perene; ela cresce ou floresce durante a primavera e o verão, morre durante o outono e o inverno e retoma o ciclo a partir de sua raiz na primavera seguinte. Sem intervenção humana, as videiras crescem naturalmente, formando uma densa folhagem e galhos. A poda e a condução do vinhedo ajudam as videiras a se manterem organizadas e a concentrarem sua energia no cultivo de uvas de excelente qualidade.


Existem mais de sessenta espécies diferentes de videiras, mas a maior parte da produção mundial de vinhos de qualidade provém de um único tipo, a Vitis vinifera. Videiras de origem norte-americana raramente são usadas exclusivamente para a produção de vinho, sendo utilizadas principalmente por suas raízes ou para o cultivo de uvas de mesa.


Os primeiros 1 a 3 anos de uma videira são dedicados ao desenvolvimento das raízes, do tronco e do sistema de suporte. Normalmente, elas começam a produzir uvas suficientes para a produção de vinho após 3 a 5 anos. Para que a videira concentre sua energia no desenvolvimento de um sistema radicular robusto, os cachos de flores são podados. Produzir frutos tão cedo é uma meta ambiciosa, que pode ser prejudicial para a videira; como diz o ditado: “é preciso aprender a andar antes de correr”.


Durante os primeiros anos de vida da videira, o foco principal é o crescimento da madeira permanente (tronco) e a formação de um sistema radicular robusto. As videiras precisam de diferentes tipos de cuidados.


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Normalmente, por volta do terceiro ano de crescimento, a videira está pronta para produzir frutos com a qualidade adequada para a produção de vinho. Uma videira pode evoluir por até 30 anos, antes de seu vigor diminuir drasticamente, sendo que algumas vinícolas utilizam o termo comercial "vinhas velhas". A maioria das videiras começa a perder o vigor por volta dos 30 a 40 anos e podem viver até 100 anos ou mais, como se observa em lugares como a Austrália (o vinhedo Yalumba Tricentenary Grenache foi plantado em 1889, e ainda é produtivo!).


Você já deve ter ouvido a frase "um bom vinho nasce na vinha", e é verdade! Grandes vinhos vêm de grandes uvas. Então, vamos dar uma olhada no ciclo de vida de uma videira e aprender como cada estação afeta a safra daquele ano.

 

● O VINHEDO NO INVERNO - Uma das atividades mais caras e importantes no vinhedo (além da colheita) é a poda de inverno. O podador corta os ramos do ano anterior e seleciona os melhores para o crescimento de novos brotos. O sistema de poda utilizado é determinado durante o projeto do vinhedo, mas é possível alterar a forma como as videiras são conduzidas de uma estação para outra, caso o vigor (produção excessiva ou insuficiente) seja um problema.

 

● O VINHEDO NA PRIMAVERA - Na primavera, a videira desperta de seu sono invernal. Pequenos botões marrons nas partes lenhosas e nuas da videira se abrem, formando minúsculos brotos verdes, muito parecidos com as árvores e arbustos do seu jardim.


Durante os meses de abril/maio (setembro/outubro no Hemisfério Sul), surgem os primeiros sinais de vida, a seiva sobe e os botões começam a desabrochar. Os botões são extremamente delicados nessa época, pois as tempestades de granizo da primavera podem destruí-los. Por exemplo, em Beaujolais, na França, durante a safra de 2016, alguns vinhedos perderam 100% de seus botões devido ao granizo, e o resultado é que não houve colheita. E há que se torcer para planta recuperar-se para produzir no ciclo anual seguinte.


À medida que o clima da primavera esquenta, uma cobertura de folhas começa a se formar enquanto os brotos verdes continuam a crescer. Se você observar atentamente nessa época, verá muitas pequenas flores brancas aparecendo na videira – não o tipo bonito que você gostaria de exibir em um vaso, mas essas flores discretas são, no entanto, vitais. Cada flor que poliniza com sucesso está destinada a se tornar uma uva.


Após a brotação no início da primavera, as videiras continuam a crescer. Alguns viticultores podam os ramos voltados para baixo para garantir que todos os ramos cresçam para cima, reduzindo o tamanho potencial da colheita. Essa estratégia consiste em reduzir a quantidade para aumentar a qualidade, pois as videiras que produzem um número limitado de uvas produzem uvas mais concentradas.


As videiras são plantas hermafroditas, como os dois sexos no mesmo arbusto, de maneira que elas se polinizam sozinhas, sem a necessidade de abelhas.


Quando as uvas começam a se formar, elas não parecem particularmente apetitosas – na verdade, parecem mais ervilhas do que uvas! Como muitas outras frutas, essas pequenas uvas começam a inchar e amadurecer com o calor e a luz do sol dos meses de verão. Eventualmente, elas começam a mudar de cor e adquirem uma aparência mais familiar.

 

● O VINHEDO NO VERÃO - Em meados ou no final do verão, as bagas verdes começam a mudar de cor e amadurecer. Esse período é chamado de vérasion (ou "vérasion", em inglês) ou fase do “pintor” em português, e é a época mais bonita do ano em um vinhedo, quando as bagas mudam de cor, passando de um verde vegetal para amarelo, rosa, vermelho ou roxo.


Pouco antes do início da vérasion, alguns viticultores fazem a poda verde, na qual um pouco do excesso de peso é removido das videiras (os cachos de uva superficiais) para que os cachos remanescentes possam concentrar sua energia em suas verdadeiras uvas de qualidade.


A parte lenhosa (madeira) continua a amadurecer durante todo o verão, ficando marrom e endurecendo (por exemplo, as videiras lignificam). Paralelamente ao crescimento da madeira, as uvas continuam a amadurecer e os níveis de açúcar aumentam. A colheita geralmente ocorre entre setembro e novembro ou entre fevereiro e maio no hemisfério sul, quando as uvas atingem o ponto ideal de maturação. Viticultores e colhedores trabalham ininterruptamente para colher as uvas no momento certo. As uvas não continuam a amadurecer depois de colhidas.

 

● O VINHEDO NO OUTONO - No outono, as uvas amadureceram o suficiente para desenvolver a quantidade certa de cor, sabor, acidez, taninos e, principalmente, açúcar. Assim que as uvas amadurecem, é hora da colheita. A colheita das uvas é feita manualmente ou por máquinas. Às vezes, a colheita ocorre à noite, quando está muito mais fresco, para que as uvas cheguem mais frescas à vinícola.


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No final do outono, alguns produtores deixam alguns cachos na videira para a produção de vinho de colheita tardia. O vinho de sobremesa é obtido pela prensagem dessas uvas colhidas tardiamente e que passaram pelo processo de maturação. Nesse ponto, a videira já parou de produzir carboidratos a partir da clorofila nas folhas. As folhas, então, perdem a cor e caem no chão.


As videiras crescem apenas por cerca de oito meses do ano. No outono, as videiras perdem as folhas e permanecem dormentes durante todo o inverno, conservando energia para a próxima safra. Até mesmo uma videira precisa descansar em algum momento para continuar produzindo o seu melhor.


Durante o inverno, a folhagem morre, os podadores cortam as trepadeiras e o ciclo recomeça.


Uma videira saudável pode ter uma vida produtiva de mais de cinquenta anos, produzindo uma safra incrível de uvas, colheita após colheita. Ao longo dos anos, a videira pode começar a produzir menos frutos, mas, frequentemente, as uvas produzidas por videiras mais antigas têm sabores mais concentrados. Às vezes, você verá o termo "videira antiga" no rótulo, indicando que pode esperar algo potente e saboroso na garrafa.

 

● COLHEITA (VINDIMA) – No hemisfério norte ela ocorre entre setembro e novembro. Já no hemisfério sul, ela acontece entre março e maio, a menos que seja um vinhedo plantado com a técnica de poda invertida (também chamada de dupla poda).


Quando as uvas atingem o ponto de maturação perfeito, controlado pelos viticultores e enólogos em busca do equilíbrio entre os níveis de açúcar e acidez, a uva é colhida. Este momento do ciclo da videira é o que se conhece e se comemora como vindima, e cuja data de término varia de uma variedade para a outra.

 

● SISTEMAS DE CONDUÇÃO DE VINHEDOS - Poda em esporão vs. Poda em vara - A poda em vara (Guyot) é comumente usada em regiões vinícolas de clima mais frio, incluindo Borgonha, Sonoma e Oregon. Ao limitar o crescimento lignificado da videira (a parte dura e marrom) apenas ao tronco, a videira fica menos vulnerável à geada e mais protegida do que as videiras podadas em esporão. A poda em vara exige grande habilidade para ser bem-sucedida, pois requer o corte manual de quase todo o crescimento anterior da videira e a seleção correta de uma única vara (ou duas) que será responsável pela produção da próxima temporada. A poda em vara foi adotada por muitas das regiões vinícolas mais prestigiadas do mundo.


A poda em esporão (cordão) é comum em regiões vinícolas de clima mais quente, incluindo Califórnia, Washington e Espanha. Existem muitos estilos diferentes de condução com poda em esporão, usados ​​para tudo, desde uvas de mesa (alta produção) até vinhos finos (baixa produção). Os ramos esporonados (o toco de um ramo que contém de 1 a 3 gemas) são geralmente mais fáceis de podar e certos sistemas de condução, como o método em “Goblet” (em vaso), são ideais para áreas propensas à seca. A poda em ramos esporonados é um método de condução mais tradicional, conhecido por produzir vinhos excepcionais de vinhas velhas.


Todas as regiões vinícolas consolidadas tendem a adotar um método de condução específico, baseado nas peculiaridades do seu clima e terroir. Assim, embora alguns especialistas possam afirmar que o método Guyot é superior ao método Pérgola (também conhecida como “Latada”), isso depende, na realidade, da variedade da uva e da região. Aqui estão alguns aspectos interessantes a observar na próxima vez que visitar um vinhedo:


♦ Videiras altas: Troncos altos elevam as videiras acima do solo, aumentando a circulação de ar e a exposição solar, o que reduz a probabilidade de infecções fúngicas. Este método de condução é mais comum em climas mais frios e úmidos.


♦ Videiras baixas: Troncos curtos reduzem a exposição da videira ao sol e moderam a variação de temperatura. Este método é mais comum em regiões de clima quente.


♦ Videiras com espaçamento amplo: Em regiões muito secas, o espaçamento maior entre as videiras aumenta sua capacidade de absorver nutrientes do solo. Em áreas úmidas ou irrigadas, também aumenta a produção (o que, simultaneamente, reduz a qualidade).


♦ Vinhas com espaçamento reduzido: O espaçamento reduzido entre as videiras é uma forma de limitar o vigor de cada uma, restringindo a produção e melhorando a qualidade.

 

● UMA INVENÇÃO MINEIRA - O sistema de poda invertida, também conhecido como dupla poda, é uma técnica de viticultura que inverte o ciclo de produção da videira para que a colheita ocorra no inverno, em vez do verão. Ao realizar duas podas anuais, uma para conduzir o crescimento e outra para induzir a frutificação, o método permite que as uvas amadureçam em condições climáticas mais favoráveis, com menos chuvas e maior amplitude térmica, resultando em melhor qualidade, concentração de açúcares e potencial alcoólico mais alto.


Essa técnica foi desenvolvida pela Epamig e é amplamente utilizada em regiões com clima tropical e subtropical, como o sudeste brasileiro. Há uma inversão do ciclo com o objetivo de deslocar a produção da videira para o período de inverno, evitando o verão chuvoso, que pode prejudicar a qualidade da uva devido à umidade e proliferação de fungos.


A técnica envolve duas podas ao longo do ano. Uma primeira poda, feita no inverno, quando a videira está em dormência, para iniciar o ciclo produtivo. A planta é estimulada a brotar, mas as inflorescências são removidas (poda de formação). Uma segunda poda é feita alguns meses depois (em janeiro ou fevereiro), forçando a planta a brotar novamente e a iniciar o ciclo de frutificação.


Com a inversão do ciclo, a colheita das uvas acontece no inverno (junho ou julho), aproveitando o clima seco e ensolarado, que é ideal para a maturação da fruta. A dupla poda é utilizada com o auxílio de irrigação e hormônios para garantir a dormência no período adequado. As uvas resultantes tendem a ter cascas mais grossas, maior concentração de açúcar e taninos, resultando em vinhos de maior qualidade, com mais complexidade de aromas e sabores.


A técnica deu origem a uma categoria de vinhos brasileiros produzidos durante o inverno – e por isto mesmo chamados de “Vinhos de Colheita de Inverno”, com alto potencial de guarda e elegância. A poda invertida é uma inovação brasileira que permite a produção de vinhos finos de alta qualidade em países tropicais, onde o ciclo natural não seria adequado.


Então, que tal provar um vinho de “Colheita de Inverno” comparando com um vinho de colheita normal e ver qual te agrada mais? Saúde!!! Aproveite para comentar se gostou ou não do artigo!!! (Este artigo está baseado em material disponível na internet, e minhas considerações em relação ao tema).

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